Alexandre O'Neill

Alexandre Manuel Vahia de Castro O’Neill de Bulhões nasceu em Lisboa (19.12.1924-21.08.1986)Filho de um bancário e de uma dona de casa. Em 1944, termina o 1º ano da Escola Náutica de Lisboa, mas, por causa da miopia, é lhe recusada a célula marítima para exercer pilotagem. Deixa os estudos. Em 1946, em consequência de um conflito familiar, O’Neill abandona a casa dos pais e passa a viver na casa de um tio materno. Na casa de Amarante, conheceu nas férias Alexandre Pinheiro Torres. Ambos lá privaram também com Teixeira de Pascoaes. Passou a maior parte da vida no Príncipe Real. Em 1948, é um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa; colabora na Miraculosa, livro de colagens surrealistas. Em 1949, em Lisboa, apaixona-se pela surrealista (búlgara-francesa) Nora Mitrani. Em 1950: grande polémica e O’Neil rompe com o Movimento Surrealista. Em 1951, publica coletânea Tempo de Fantasmas -obra de rutura. A incompatibilidade com a vidinha e com a lírica lágrima-tinta neorrealista é hoje tão visível neste livro - Rua André Breton.[1] Em 1951-52, frequentava a pastelaria Alsaciana, onde conheceu o realizador José Fonseca e Costa. Também lá se encontravam com João Pulido Valente e Arnaldo Aboim. Foi preso em 1953 por ter ido esperar Maria Lamas ao aeroporto.[2]Esteve preso durante 40 dias. Era vigiado pela PIDE. Noémia Delgado[3] foi a primeira mulher de O’Neill (casamento em 1957 – um filho, Alexandre Delgado O’Neill. Viveu com a inglesa Pamela Einichen Pinheiro; casou em 1971 com Teresa Patrício Gouveia (1 filho, Afonso; e Laurinda Bom… Obra: “A Ampola Miraculosa”, poema gráfico publicado nos Cadernos Surrealistas, em 1948; No Reino da Dinamarca (1958); Abandono Vigiado (1960); Poemas com Endereço[4] (1962); Feira Cabisbaixa (1965); Ombro na Ombreira (1969); Entre a Cortina e a Vidraça (1972); (Um Adeus Português; Uma Coisa em Forma de Assim (crónica) A Saca de Orelhas (1979)[5]; As Horas Já de Números Vestidas (1981); Dezanove Poemas (1983); O Princípio da Utopia, O Princípio da Realidade (1986). Poesias Completas (de 1951 a 1981), Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Slogans publicitários que duraram até hoje: “Bosh é bom”, “Há mar e mar, há ir e voltar”, “Vá de metro, Satanás” que não chegou a ser usado. Para Rui Ramos, O’Neill coloca-se na tradição dos poetas que são amadores da má vida, excêntricos e críticos, guardiães de uma certa identidade nacional.” Para Pulido Valente, “ele é um dos poucos escritores que mudou a língua. O português que se falava antes dele era um português pomposo e rural; fez a transposição de uma linguagem coloquial para uma linguagem poética.”[6]
Em entrevista a Clara Ferreira Alves, O’Neill declara que as suas influências estão em Cesário Verde e nos brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira… Há, no entanto, razões para lhe associar Nicolau Tolentino, Paulino António Cabral, abade de Jazente, Junqueiro ou Bocage[7]
Em 24-10-1979, em entrevista a António Carvalho, A Capital, Alexandre O’Neill refere «a minha poesia tende para o epigrama.» – breve composição em verso sobre qualquer assunto; pequena poesia satírica que termina por um pensamento conceituoso ou dito agudo. «Na minha poesia desarticulo, desmonto a conversa comum e depois remonto-a de outra forma, o que a torna grotesca, satírica.»
Fernando Assis Pacheco, Alexandre O’Neill: ‘Sempre ‘sofri’ Portugal” (1981?)
Naquela data, vivia com Laurinda Bom na Rua da Escola Politécnica, a curta distância do Jardim do Príncipe Real. A família censurava-lhe a atividade poética: «A minha mãe, quando apanhava um poema meu, rasgava-o logo. Provavelmente com a intenção caritativa de fazer de mim o oitavo advogado da família…»
Em 1945, conhece Mário Cesariny. Começa então a contestação do Neorrealismo.
Grupo surrealista (15.5.1948: Mário Cesariny; José Augusto França; Vespeira; António Pedro; Alexandre O’Neill; João Moniz Pereira[8]

[1] -ver O Poeta que perdeu as graças do lirismo, por Gustavo Rubim, in Público, 24-7-1990.
[2] - Em 1950, foi lhe recusado o passaporte por vários anos, devido a uma cunha de um familiar à PIDE, para que ele não pudesse juntar-se a Nora Mitrani. Pertencia ao grupo surrealista francês. O’Neill apaixonara-se… Ver poema “Um Adeus Português”
[3] - Em 1947, no “Mundo Literário”, publica versos dedicados à escultora e realizadora Noémia Delgado (depois autora da longa-metragem “As Máscaras”, sua primeira mulher. O’Neill, teve uma noiva antes, era uma prima sua que vivia em Marco de Canavezes, com quem esteve apalavrado para casar.
[4] - ver poema Autorretrato. Nesta obra, surgem “Seis Poemas Confiados à Memória de Nora Mitrani”. Esta suicidara-se.
[5] - Faz-me aí umas orelhas à saca (antiga voz de trabalho).
[6] - Ver Maria Antónia Oliveira, Uma Biografia Literária, D. Quixote, 2006. No entanto há uma lacuna, a ausência em discurso directo de Afonso e da ex-mulher, Teresa Gouveia. Noémia Delgado, Pamela Ineichen, Laurinda Bom falaram e por isso as suas histórias estão mais pormenorizadas.
[7] -Torcato Sepúlveda, Pública, 18.08.1996. Ver antes João Gaspar Simões: Nicolau Tolentino, Abade de Jazente, Bocage, Gomes Leal, Feijó, Ignácio d’Abreu Lima (das Bailadas)
[8] - Pública, 18.08.1996.

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