26.2.07

Hollywood roeu a corda

MEJOR PELÍCULA EN LENGUA EXTRANJERA: "La vida de los otros" (Alemania).
Tal como referi há uns dias atrás, este filme mostra bem como os regimes totalitários retiram ao cidadão qualquer veleidade de os combater.
No entanto, o muro acaba sempre por abrir brechas por onde os sacerdotes mais zelosos acabam por colaborar com o inimigo - a liberdade.
Desta vez, na América de Bush, Hollywood roeu a corda.

22.2.07

Corpoema

"Hoje é dia de cinzas - dizem os escravos do senhor..." (A. S., Arcanas Carícias - ajustamento) Injecta a rimagem branca saudades arcanas Arrefece o olhar carícias crepusculares /... / Corpoema o fogo a florir!

20.2.07

Mergulhar na nossa vida...

1984, RDA. A missão da STASI é saber tudo sobre a vida das pessoas, através de uma vasta cadeia de informadores/denunciadores. O filme "AS VIDAS DOS OUTROS" de Florian Henckel von Donnersmarck mostra a gradual desilusão do capitão Wiesler, um oficial altamente credenciado da polícia política, cuja missão é espiar o famoso escritor, George Dreyman, e a sua esposa, a actriz Christa-Maria Sieland.
A intriga tem todos os condimentos para seduzir o espectador. No entanto, o que mais impressiona é o modo como o poder totalitário controla o cidadão, deixando-o incapaz de qualquer defesa, tornando-o num bufo. E deixa ainda perceber que em ditadura, a oposição organizada cai facilmente nas malhas estéreis da soberba e da vaidade.
Este filme ajuda-nos a compreender que a queda do Muro de Berlim, em 1989, era inevitável: o capitão Wiesler representa todos aqueles que de dentro descobriam a arbitrariedade do poder e que fascinados pela pureza da ideologia traída acabaram por passar para o lado de lá... apesar de a História os ignorar, reduzindo-os ao papel de carteiro, como acontece no romance de George Dreyman.
Em Portugal, não há registo do capitão Wiesler. Mas ele existiu nos últimos anos do marcelismo... A PIDE não era diferente da STASI e por isso ver o filme AS VIDAS DOS OUTROS é ainda mergulhar na nossa vida. Uma vida escondida que nos comprazemos em ignorar, talvez porque como refere Anthony Giddens (Sociologia, pág.597) "uma sociedade, onde um movimento que tenha tomado o poder se revela posteriormente incapaz de governar com eficácia, não pode ser considerada como tendo passado por uma revolução e é mais provável que seja uma sociedade caótica ou em risco de se desintegrar."

16.2.07

Sem os olhos secos...

Com os olhos secos - estrelas de brilho inevitável através do corpo através do espírito sobre os corpos inânimes dos mortos sobre a solidão das vontades inertes nós voltamos (...) Agostinho Neto
O poeta, futuro-presidente, acreditava que, apesar do sofrimento estancar as lágrimas, instaurando o desespero e a desistência, o regresso à fonte da vida era possível. Mesmo que ele não voltasse, o tu substitui-lo-ia na concretização da esperança.
No entanto, a substituição é impossível... o outro jamais realizará a utopia do eu. Só no tempo dos espelhos, alguém pode crer que o flho é o reflexo do pai, do avô... ou mesmo do bisavô, sobretudo se o bisavô tiver sido presidente!
Júlio Machado Vaz, confrontado com a inevitabilidade do envelhecimento e com a degradação da pessoa, sai do divâ para Cantelães, à espera que o tempo não pare na Cabreira...
O narcisismo é demolidor... deixa o chão juncado de vítimas incapazes de nos substituir.

9.2.07

Cada palavra...

Li algures que o escritor Rui Nunes encetou um combate contra o despotismo da palavra. Não sei se será bem assim, mas não me admira muito que isso se tenha tornado na sua derradeira tarefa neste mundo. Lembro-me dele, há uns anos atrás, numa sala de professores, em Sintra, um pouco distante de todos, embrenhado numa leitura profunda, como seria de esperar de um filósofo. Procurava no código genético uma explicação para a degradação da raça humana. Nesse tempo, talvez ele se preocupasse mais com o seu próprio envelhecimento do que com a baixeza humana. Lembro-me que substituira, de vez, a carne pelo peixe. De preferência da lote de Sesimbra.
As palavras que com ele troquei foram sempre afáveis, embora tímidas, respeitadoras daquela ilha de silêncio que a sua presença parecia impor.
Cada vez admiro mais essas ilhas de silêncio que procuram ignorar os circos verborreicos, onde a vaidade, a bazófia e as acusações grosseiras alastram descaradamente: jovens que procuram tirar desforço dos mais velhos, acusando-os de torpes vilanias; mais velhos, intrépidos defensores da lei, que deixaram de saber ouvir e que acreditam que, por falarem mais alto, conseguem silenciar os mais novos.
Nos últimos dias, a palavra tornou-se grito... não de denúncia ponderada, mas do poder mais vil de que o homem é capaz, independentemente da idade ou do lugar...
Cada palavra, uma acusação... uma espada de destruição!
Dá vontade de perder a voz e ficar a ler um livro, desses que trazem uma explicação para a nossa ignomínia...

2.2.07

Há por aí ( ou por aqui?) muitos falangistas...

A caruma começa a não entender por que motivo há tantas pessoas simpáticas, desinteressadas e capazes de trabalhar gratuitamente para os ministérios da saúde e da educação. E provavelmente para os restantes!?
Os estudos - tão acarinhados pelos nossos governantes - deixaram de ser feitos pelos técnicos dos ministérios; também já não são encomendados a especialistas opiparamente remunerados; são gratuitamente elaborados por nichos de falangistas que, à ribalta, preferem os bastidores. Porquê?
Lembram-me aqueles políticos e aqueles juristas, magnânimos, que durante décadas leccionaram nas Universidades portuguesas sem receber um vintém.
A caruma ainda menos entende por que motivo ninguém exige conhecer as verdadeiras motivações destes anónimos trabalhadores intelectuais e, sobretudo, se a sua abnegação não lhes porá a saúde em risco.
Apesar das ideologias colectivistas terem mergulhado numa profunda crise, ainda há falanstérios... e nunca me constou que algum discípulo de Fourier tenha morrido à FOME...ou se tenha queixado do baixo salário...

30.1.07

A caruma embotou...

Este tempo frio bem pode servir-me de desculpa para o silêncio em que caí nos últimos dias. Parece que a caruma embotou. E não é para menos: o Salazar ressuscitou, acolitado pelo Álvaro Cunhal. A nostalgia totalitária está de regresso. A Grã Bretanha escolheu o Churchill, a França De Gaulle... e nós, se a memória não vai além da 2ª guerra mundial, quem poderíamos escolher? A Esfinge que nos "salvou" da guerra e nos atirou para a guerra colonial... Mas desta guerra não há memória, não há memória de qualquer guerra travada em África, nem das suas vítimas nem dos seus "heróis"....; não há memória dos milhões de emigrantes que não suportaram o saneamento das finanças...
Continuamos por aqui, movidos pela Contra Reforma... pelo menos até 11 de Fevereiro!