9.6.23

Um poeta incinerado que quer sobreviver nos oceanos...

« há não sei quantos mil anos um canavial estremeceu na Assíria
e um douto poeta inscreveu esse tremor num curto poema lírico
lido agora por mim junto a um canavial nos subúrbios de Lisboa
e eu penso que os dois canaviais estremeceram igualmente
a tantos tempos e lugares de distância
e só se extinguirão devorados pelo fogo
quando o fogo devorar a terra inteira»
     Herberto Helder, A Morte Sem Mestre

Maldita ideia!
O Fogo acabará por incinerar a Terra...
Este otimismo parece ser bem aceite por quem opta pela incineração. Sentimento de culpa?

7.6.23

' o psicológico '

Aqui, os pacientes sujeitam-se a múltiplos tratamentos. Em princípio, estão obrigados a fazer fisioterapia para recuperarem de todo o tipo de acidentes...
No entanto, acabo de ouvir uma utente dizer que 90 por cento destas pessoas não têm qualquer mazela, a não ser" do psicológico"....
Não percebo bem o que é que ela faz nesta sala de espera... Talvez tenha entrado no pavilhão errado.

1.6.23

Os pés vagarosos

Areia... Céu encoberto. Alguns banhistas. Sem saber se a maré sobe ou desce... E isso que interessa?

Por vezes as palavras sobem no avião que regressa de outras horas duras, agora dolorosamente aprazíveis, incapazes de descer com as aves que mergulham os bicos na espuma das ondas...

Não basta fazer de conta... Ainda se tudo não passasse de ilusão... os pés vagarosos, desta vez, não se perderam.

E barcos lá bem longe...

28.5.23

O livro por escrever...

Herberto Helder: «escrevi porque tinha um problema de ódio a resolver.»

Eu nunca fui capaz de odiar ninguém, isto não quer dizer que não tenha sido atormentado aqui e ali. No entanto, preferi seguir caminho à espera que o tempo tudo sanasse...
Talvez não tenha sido a atitude mais adequada, mas não me passava pela cabeça resolver os conflitos através da escrita panfletária ou outra...
O que de aqui resulta é que os curiosos ficaram sem acendalha para darem satisfação à coscuvilhice que lhes mina a mente.
E assim se explica porque nunca escrevi um livro...

21.5.23

Aposta falhada

 «Car on instruit les ignorants pour que, d'ignorants qu'ils étaient, ils deviennent des gens instruits.» Maître Eckart, La Divine Consolation


Sinto-me traído. O espectáculo dos últimos dias revela que, se houve alguma aprendizagem, foi a da dissimulação, com o único objetivo de chegar o mais depressa possível ao pote. Toda a argumentação é pidesca e obscena, encapotada, no entanto, de espírito democrático.

(Cuidado com os poços! Quando menos esperamos, surgem os cavacos escondidos pelas silvas...)

18.5.23

Era necessário fazer-lhe a folha!

Afinal o Dr. Pinheiro vinha do Gabinete anterior, com o monopólio do dossier TAP... Não é difícil imaginar que o Gabinete constituído em Janeiro, incapaz de compreender em tempo útil o que estava em causa,  entrasse em conflito com o Adjunto...
Das audições de ontem, fiquei convencido que a familiaridade que governa estes gabinetes só pode acabar em violência, até porque a sua constituição já é indicador suficiente... sem ser mesmo necessário falar do protagonista que se esconde numa chamada telefónica para demitir o Dr. Pinheiro...
Consta que outrora o Dr. Salazar também tinha o costume de demitir os ministros pelo telefone...

14.5.23

Da poeira das praias almadenses

Hoje, fui à Praia da Mata... Continuo sem perceber por que motivo a Câmara de Almada não cuida dos acessos...É só pó, poeira!
Provavelmente, o povo procura ali o pó em que se há de tornar e que, paradoxalmente, seria um dos indícios da alienação, na vulgata marxista...
Só que este povo já não é de Deus, a não ser por precaução, não vá a eternidade estar à sua espera... 
Se eu vivesse para (e em) Deus, não estaria aqui a queixar-me, nem sequer me aperceberia da sujidade que me envolve o corpo... 
O batismo teria sido suficiente e a poeira não me afetaria a ideia...