18.1.11

A Sagrada Família…

Enquanto o Governo procede à destruição paulatina da escola pública, o Candidato incentiva alunos, professores e pais a revoltarem-se contra a redução dos subsídios ao ensino privado.

De momento, o Governo está empenhado em transferir as responsabilidades de financiamento para os fundos europeus e, sobretudo, em alterar a matriz curricular, eliminando, por exemplo, a Área de Projecto, e fazendo tábua da revisão curricular aprovada pela Assembleia da República.

Em síntese, a Sagrada Família prossegue o objectivo de entregar o Estado aos grupos de interesses que se foram constituindo desde 1974.

16.1.11

No mar que nos roubaste…

 Não há dinheiro para que as crianças do 1º e 2º anos possam praticar natação, mas o Candidato propõe que se crie um Ministério do Mar. Provavelmente, está mais preocupado com a rendibilização dos mil milhões de euros gastos na compra de 2 submarinos! E vale a pena não esquecer que um já se encontra em reparação no Alfeite.

14.1.11

O mujimbo…

“O mujimbo é uma arte de governo.” (Pepetela, Lueji)

Entre a verdade e a mentira vive o mujimbo (o boato). Em pleno relativismo cultural, só o mujimbo circula impune e impõe a sua lei.  (Um candidato sente-se abraçado pelo povo; um segundo fala em nome do povo; um terceiro diz-se acima do povo.)

A ninguém interessa o número exacto da dívida! A ninguém interessa a delimitação do conceito! E como não interessa a ninguém, o número torna-se intangível e o conceito desliza, sob a forma de noção, para uma suave indiferença que mata definitivamente a verdade e a mentira.

A velha dicotomia extingue-se iluminada pelo mujimbo. 

13.1.11

Se aposta em 2011…

Engenharia de Software Teoria Matemática Avaliação de Risco
História – investigação Prevenção e reabilitação auditiva Manutenção da higiene oral
Análise estatística Analista de sistemas Meteorologia e ambiente
Biologia e ciências afins

Não pense na crise! Procure uma escola onde possa aprender uma das profissões acima enunciadas. Esta lista vem publicada  no i de hoje, 13 de Janeiro.

Creio, no entanto, que este diário se esqueceu  da política, porque o Diário de Notícias acaba de demonstrar que a melhor forma de “ganhar” dinheiro exige filiação numa organização política e posterior estágio num sindicato / ministério. Depois é só esperar pela nomeação para a GALP, EDP, REFER, CGD, Banco de Portugal, Portugal Telecom…

11.1.11

Indicadores…

Hoje, de manhã cedo, numa pastelaria da Praça Dona Estefânia, em Lisboa, um cliente dirige-se ao balcão e declara secamente à funcionária: Quero urinar!

Há dois dias, no Centro Comercial Vasco da Gama, no Parque das Nações, um suposto cliente de meia idade entra num provador e urina ali mesmo.

Felizmente que destes acontecimentos não corre notícia; no entanto, eles são bons indicadores da degradação dos nossos comportamentos…

E a propósito de indicadores, vale a pena considerar o modo como o Presidente da República comentou hoje os números apresentados pelo Governo. Considerou-os, apenas, um indicador…

Um notável indicador de baixa política!

10.1.11

Mudança…

Como já me pronunciei no Facebook, aproveito para confessar a minha opção de voto neste ano de 2011: Fernando Nobre. Trata-se de uma confissão pública de algo que, habitualmente, é secreto. Qualquer leitor atento de CARUMA saberá que ela, há muito, não se revê nos caminhos trilhados depois de 1974, tal como não se revia na política do Estado Novo.

Acredito que a vontade é a figura essencial da mudança e, no actual quadro de candidatos, apenas Fernando Nobre dá corpo à vontade de mudar. Apenas ele a grita, um pouco como Cristo no deserto, acreditando que é possível pôr fim aos centuriões que ocuparam o templo.

9.1.11

Mépris (1963) involuntário?

Em 1963, eu não sabia que Jean-Luc Godard realizava um filme que só, ontem, tive oportunidade de ver – um filme sobre o cinema ( os que o fazem, os que o produzem e os que o vêem). Nessa época, eu aprendia a desviar o olhar – o pecado morava em frente! E ainda hoje não me libertei completamente dessa educação que me ensinou a “baixar os olhos”, a  dissimular as emoções, a tolerar a hipocrisia.

Em 1963, os espectadores (que não eu nem os portugueses até 30 de Junho de 1975 – data da estreia de LE MÉPRIS, em Lisboa) podiam ver Brigitte Bardot inteiramente nua em cenários interiores e exteriores. E é precisamente essa diferença que agora me surpreende: mais do que a geografia é a cultura que nos atrasa; não a falta dela, mas uma mentalidade retrógrada, pecaminosa que nos impregna os ossos…

No filme, a dissolução da relação ( e do argumento) resulta de um gesto in (voluntário) do argumentista que atira BB para os braços do rico produtor americano, como se o corpo (a beleza ) mais não fosse do que uma mercadoria que, inevitavelmente seria sacrificada, pois os deuses não toleram os humanos desafios…

Embora noutro contexto, esta diferença de perspectiva na abordagem do corpo ou da língua já há dias me deixara perplexo e indeciso. Como explicar a actual rejeição da cultura francesa? Em muitos casos, essa rejeição é uma forma de desprezo de quem (in)voluntariamente tudo sacrifica em troca de algum reconhecimento e, sobretudo, de uns milhares de euros…

De qualquer modo, os deuses não dormem!