20.1.15

Ouvido discreto

O desencanto parece vir com o tempo invernoso, mas este pouco terá que ver com a frustração das expectativas. 
Problema maior ainda desponta quando temos que enfrentar indivíduos cujos anseios não vão além da satisfação imediata de apetites primários. Isto é, há cada vez mais pessoas para quem o conhecimento é uma maçada, que preferem a linearidade do pensamento à indagação reflexiva.
Por outro lado, encontramos a cada passo quem, em vez de assumir responsavelmente as funções que lhe estão atribuídas, prefere delegar no outro...

... o outro existe para nos servir! Afinal, sempre foi assim ...

Razão tem Pessoa: Quem vê é só o que vê / Quem sente não é quem é.   

19.1.15

A sátira pode perder a razão?

No início, a palavra "sátira" significava mistura. Entre o século III antes de Cristo e o século V da nossa era, designava uma peça de teatro que misturava a prosa e o verso, e que fazia crítica de costumes...

Nesta perspetiva, a sátira foi um dos primeiros híbridos que procurou desbloquear, através do riso, conflitos passionais, religiosos, políticos, sociais...
O problema agrava-se sempre quando, face a face, se encontram aqueles que já perderam toda a vontade de rir. E eles são muitos!

Num mundo em que a laicidade se apresenta como guardiã da liberdade de expressão, acantonando o cristianismo, o islamismo, de forma ostensiva ou velada, ao não separar o poder religioso do poder secular, acaba por nos fazer sentir que a sátira pode ser muito perigosa para o futuro da humanidade.

Por outro lado, a vontade de rir também está a diminuir entre os "infiéis", levando-os a, estratégica ou mercenariamente, aderir a movimentos que utilizam a religião como arma de arremesso...

É por tudo isto que eu penso que o melhor é deixar Maomé em paz...

18.1.15

Discordo do senhor Cameron

«O primeiro-ministro britânico defendeu este domingo que numa sociedade livre existe o direito de "ser ofensivo com a religião dos outros", discordando com os limites da liberdade de expressão defendidos pelo Papa Francisco.»

Na sequência da afirmação do senhor Cameron, os professores da escola multicultural inglesa devem estar-lhe gratos...

Doravante, qualquer aluno poderá citar o primeiro-ministro para justificar comportamentos ofensivos.

Quanto a educação, fica tudo dito!

17.1.15

E se o «botas» tivesse sido preso?

Pouco provável, não é?
Lembrei-me dele a propósito da notícia de que José Sócrates luta com os serviços prisionais por causa de um par de botas... É triste!
Num país em que estão a morrer cerca de 500 pessoas por dia, em que há centenas de milhar sem emprego, em que todos dias cresce a precariedade, em que o BES, a PT e a TAP são desmantelados ou entregues a vampiros  ... é triste que as botas de Sócrates, a namorada de Cristiano Ronaldo possam ser notícia...
Somos um país de tristes, de botas e de namoradas.

16.1.15

O desenho não mata, mas pode ajudar!

De acordo, os desenhos não matam!
No entanto, todos sabemos que os desenhos são essenciais na construção e na destruição. Embora não saibamos quem desenhou a natureza, e muitos sintam necessidade de atribuir essa ação a um Deus - o CRIADOR -, todos aceitamos que o homem, arquiteto civilizacional, não pode prescindir do desenho. Sem ele, não teríamos nem cidades nem armas...
O desenho é uma ferramenta essencial para o Bem e para o Mal.

Por outro lado, defender que o desenho não mata, pois isso limitaria a liberdade de ofender, é absurdo. 
O argumento é simultaneamente sedutor e perigoso. Lembra-me Carolino, o "Bexiguinha", no romance APARIÇÃO, de Vergílio Ferreira:

- «Os senhores julgam que eu sou um trouxa, todos vocês julgam que eu sou para aqui uma trampa. Mas enganam-se, mas enganam-se, sou um homem, sou eu! Eu posso!Eu, se quiser... Tenho o mundo nas mãos, até a cidade, até uma cidade, podia deitar fogo à cidade, podia... Eu sou eu! Tenho estas mãos.... 
E ergui-as, de dedos estranguladores.
- Tenho-me a mim, não sou um monte de esterco, sou um homem livre, posso, que são vocês mais do que eu?
(...)
- Eu sou um homem! - gritou outra vez. - Sei o que quero. Sou livre, sou grande, tenho em mim um poder imenso. Imenso como Deus. Ele construía. Eu posso destruir

15.1.15

As salsichas não pensam!

Em primeiro lugar, pegue numa bela tripa, de preferência natural e estanque, e coloque-a sobre a mesa de montagem.
Em segundo lugar, confecione um preparado das melhores carnes alentejanas, esburgadas de peles, de ossos e  de cartilagens, deixando-as a marinar num molho de vinho, dente de alho e colorau, sem esquecer uma pitada de sal e de paprika, durante 90 minutos.
Em terceiro lugar, quando a marinada começar a cachoar, filtre-a de modo a eliminar todo o líquido. Nesta fase, convém que o guloso salsicheiro não se deixe inebriar...
Em quarto lugar, encha a bela tripa com o preparado, tendo a preocupação de respeitar a norma europeia que determina a medida e o peso. 
Advertência: a arte da salsicharia exige que o salsicheiro esteja devidamente habilitado e certificado em leitura, pesagem, contagem e etiquetagem.
Finalmente, leve a salsicha a exame, exigindo-lhe, entre outras tarefas menos nobres, que, em 20 minutos, redija um texto argumentativo que definitivamente irradie a fome no mundo...

À hora universal, a salsicha senta-se, olha o salsicheiro e pergunta-lhe: - Que mais queres de mim?  

14.1.15

Parece que chegou o momento de calar...

Há tempo para calar e há tempo para falar...
Parece que chegou o momento de calar....Com tanta gente a falar, de que serve questionar a hipocrisia, a vaidade e a sobranceria?

A insanidade alastra e mata, em vez de incendiar, a faúlha - na linguagem minhota, a 'caruma seca'.