Na definição de Nuno Júdice, «o serralho é um espaço governado por eunucos dirigidos pelo tirano Solim...» prefácio de Cartas Persas, de Montesquieu.
Não tenho qualquer motivo para pôr em causa a definição, todavia não posso deixar de confessar que muito antes de pensar em qualquer tipo de harém, já conhecia o serralho do meu avô materno, e lá nunca avistei qualquer concubina.
O serralho era, afinal, um pequeno quintal pedregoso, onde se podia fazer uma pequena horta e, sobretudo, pôr a secar figos e uvas na eira que, por vezes, também protagonizava uma ou outra descamisada ou esfolhada. No serralho havia, sim, um alpendre que não precisava de ser vigiado, pois o meu avô materno andava longe de ser o tirano Solim...
Poder-se-ia pensar que as esposas do Sultão fossem as serralhas, mas no caso, estas não passavam de leitarugas que, sempre que penso nelas, continuam a incomodar-me. Com frequência, a minha mãe ordenava-me que fosse apanhar serralhas para alimentar os coelhos e era aí que o problema surgia: não só era difícil arrancá-las da terra, como me deixavam as mãos encardidas de um líquido branco que se lhes colava irremediavelmente...
E mais não acrescento para não ficar mal na prosa de infância!