Hoje, 12 de maio de 2016, pelas 10 horas, a convite da professora bibliotecária, Maria Teresa Saborida, três turmas receberam o escritor Mário de Carvalho.
Feita a apresentação do convidado, a turma de Latim, da professora Rosa Costa, expôs, através de um «power point», o resultado da pesquisa efetuada na obra "Quatrocentos Mil Sestércios" (1991) sobre as referências de origem latina, em termos lexicais (toponímia e onomástica) e culturais (rituais domésticos e espaços familiares e sociais).
Deste estudo fica a ideia de que escrever é uma atividade que exige trabalho porfiado, pois, como Mário de Carvalho confirmou, «o escritor tem obrigações para com o seu leitor». Afinal, só compreendemos o presente se lhe conhecermos as raízes!
Questionado pela moderadora sobre a 'qualidade' do tempo que viveu no Liceu Camões, quando, aqui, frequentou o último ciclo do ensino liceal, Mário de Carvalho revelou que esse período correspondeu a uma experiência complexa, pois se encetou relações de amizade com colegas que se distinguiram ( e distinguem) em importantes áreas da vida portuguesa, também descobriu, de forma dolorosa, como é que se asfixiava o anseio democrático...
Quanto à preparação da sua escrita, Mário de Carvalho frisou a importância que dá à observação do quotidiano e a tudo o que vai acontecendo no mundo em que vivemos. Contrariando o senso comum, para o autor, escrever é um trabalho árduo que não admite anacronismos e que deve acrescentar e não repetir - revelando, a propósito, que continua fiel ao labor e ao rigor de Flaubert.
Num apontamento centrado na obra "Quem disser o contrário é porque tem razão" (2014), foi visível a importância que Mário de Carvalho atribui a este "Guia prático de escrita de ficção", numa época em que a escrita parece resumir-se a uma «falange hegemónica de prescrições, conceitos e juízos primários (...) a chavões e estereótipos» arrancados ao 'senso comum' (e não ao 'bom senso') e à 'sabedoria das nações'...
Por fim, sintetizando o modo como o escritor se dirigiu a quem aprecia o oficio da escrita, esta breve nota, do muito que ficou por dizer, termina com um conselho:
«O ponto é que se identifique e conheça o que se está a rejeitar, ou que isso tenha, que mais não seja, razoáveis possibilidades de existir, pelo menos nos seus contornos. Porque, às vezes, o arroubo de protesto também grita as palavras da fantasia ou da irrelevância.» op. cit., pág. 33, Porto editora.
Da fantasia e da irrelevância...