4.6.24

Um sinal...

 


O seu a seu dono, costumava dizer-se... Lição esquecida, apesar de tempos a tempos irromper um sinal de esperança...

Por agora, vou vivendo o choque da descontextualização: da apropriação de situações, intencionalmente deformadas, e que dão corpo à fantasia, bem distante da verdade.

Para que a ambiguidade não ocupe toda cena, o melhor é ler a Ilíada e a Odisseia do enigmático Homero... De facto, as histórias que nos foram contando como originais, são, afinal, imitações, e nem as descidas aos infernos se salvam - ver Ulisses no Hades.

E claro, não fossem as criaturas dos universos superiores e inferiores, não teríamos tantos heróis.... Essas criaturas é que tudo decidiam!

2.6.24

Por pouco...

(Pormenor do Jardim Bordalo Pinheiro, no Palácio Pimenta, no Campo Grande...)

Para lá do jardim, uma transeunte incauta... No interior, o espaço decorado pela Joana Vasconcelos, maneirista para os olhos e artificial, como seria de esperar nestes tempos sem alma...
A condizer, os pavões, vaidosos... em jogos de sedução intermináveis...


E claro, discretas e envergonhadas, as estátuas de Carmona e da Verdade...



E depois há as revoluções, com sinal de stop vermelho... por pouco, não fiquei à espera que ele passasse a verde...

29.5.24

Por cumprir...


As amoras não chegam a amadurecer: os pássaros comem-nas todas.
Neste caso, a culpa não é das amoreiras: os pássaros não quiseram ou não puderam esperar.
Deve haver uma ordem superior que permite este incumprimento, e que as amoreiras não podem contestar.

No debate político, há muitas acusações de incumprimento, mas raros são aqueles que responsabilizam as aves famintas ou, em último caso, o superior interesse de forças que vivem em negras nuvens....

Por ora, as promessas abundam, como se as amoreiras estivessem obrigadas a ceder os frutos... talvez seja por isso que há tantas árvores que não chegam a frutificar.

27.5.24

Agostinho da Silva

RTP arquivos

 «Aqui o que presta é o povo, as elites não valem nada.»


Por Guilherme de Melo, Diário de Notícias 9 de abril de 1993

Foi no decurso da década de 80 que Agostinho da Silva emergiu do relativo esquecimento em que (injustamente) o haviam mergulhado e se tornou figura imprescindível em tudo quanto nesta cidade significasse debate, seminário, encontro de cultura…

Encontro de G. M. com Agostinho da Silva no 3ºandar da travessa do Abarracamento de Peniche, ao Príncipe Real, onde há quase 25 anos habita. Ali reside desde 1970, após o seu regresso do Brasil, onde viveu durante os largos anos do regime salazarista.

No Brasil trabalhou com muitas personalidades, entre elas, o embaixador brasileiro em Lisboa, José Aparecido, e Jânio Quadros (presidente do Brasil, em 1961 – renunciou ao cargo) … «o Jânio apostou tudo na maneira o Brasil e África se poderiam interpenetrar».

A. S. defende que é «na força e sentir do povo que está de facto o que um país é ou que não pretende ser.» Defende que uma «reformulação de Portugal não vem como alguns pensarão, nem de Belém nem de São Bento, vem das freguesias.»

Por aqueles dias, traduzia Vergílio e Horácio.

A utopia de Agostinho da Silva: a) o sonho de um triângulo atlântico que ligasse Lisboa Luanda e Rio de Janeiro. B) a escola deveria ser um local aberto, onde todos pudessem, simultaneamente, ensinar e aprender. c) o Brasil é a terra onde Portugal podia ter sido verdadeiramente ele próprio, terra livre, de homens livres.

Por Fernando Dacosta, 4 de abril de 1994

George Agostinho Baptista da Silva faleceu no dia 3 de abril de 1994. Nascera a 13 de fevereiro de 1906, no Porto.
As condolências foram sobretudo prestadas ao Filho - Pedro da Silva, professor na Baía -, e a Maria Violante Vieira, presidente da UNICEF em Portugal…
Agostinho da Silva, pai de 8 filhos, a viverem na Suíça, Brasil, Grã-Bretanha e Portugal.
Doutorou-se na Sorbonne com uma tese sobre Montaigne. Em Paris, conheceu António Sérgio, Raul Proença, Jacinto Simões (pai) e Jaime Cortesão, aí exilados.
Iniciou a docência na Faculdade de Letras do Porto, entretanto extinta por Salazar. Na sequência foi para Madrid e no regresso a Portugal foi colocado no Liceu de Aveiro. Demitido do ensino oficial, fixa-se em Lisboa – recusara «jurar não ter pertencido ou pertencer a qualquer associação secreta».

A PIDE prende-o. A ditadura exila-o. Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Brasil, África, Ásia. Funda 4 universidades no Brasil e vários centros de estudos superiores. Acompanha a construção de Brasília. Torna-se amigo dos presidentes Jânio Quadros e Juscelino. Liga-se à oposição portuguesa, a Sarmento Pimentel, a Rui Luís Gomes, a Rodrigues Lapa, a Casais Monteiro, a Jaime Cortesão. Casa com a filha deste, Judite Cortesão, em segundas núpcias.

Ensina um pouco de tudo: Filosofia, Geografia, Biologia, Sociologia, Antropologia, Botânica, Literatura, História, Teatro – Glauber Rocha é um dos seus discípulos mais veementes.
Marcelo Caetano autoriza-lhe, em 1968, o regresso.
Formação de base: filologia românica. Traduz (sabe 15 línguas) do latim as obras de Vergílio e de Horácio e de Catulo…
«Temos de fazer da nossa vida uma ficção para conseguirmos torná-la suportável.»
Para Agostinho da Silva, cultura: «é comer direito, vestir decente e habitar seguro».


Agostinho da Silva, autor de Considerações / Os meus problemas

A PHALA – entrevista

a) Uma economia comunitária, até D. Afonso IV. A Europa entrou em Portugal com D. Afonso IV, matando Inês de Castro em obediência à razão de Estado, começando assim a tristeza de Portugal…
b) Um governo coordenador
c) A educação pela experiência. O mundo só sai da doença que é a Escola, a máquina para domesticar a criança que quando nasce é genial, quando as crianças puderem continuar a fazer as perguntas que têm lá dentro ansiosas por se soltarem em vez de aprenderem de cor as respostas convenientes para passarem nos exames e triunfarem na vida tal como ela está montada.
d) A metafísica – a figura da Trindade – o Espírito Santo. A Europa embarcou nos nossos navios e trouxe consigo a economia capitalista. Passámos a ter um governo autoritário, educação pelo livro, religião do previsível. Roma torna a pôr a mão em Portugal. Acabou esse fantasma da Pomba. Até os navios deixam de se chamar Espírito Santo.

O princípio de Heisenberg na Física Quântica: O mundo é imprevisível, incerto.
«Aqui o que presta é o povo, as elites não valem nada.»
«Entendo por modernidade o tempo em que vivo. (…) é aquilo que está na moda.»

23.5.24

Ferrugem

 



Fui visitar o Parque da Tapada da Ajuda. 
Fiquei com a ideia de que os futuros agrónomos aprendem o cultivo da vinha, a tratar dos olivais e de outras espécies vegetais... só não aprendem é a eliminar a ferrugem do Pavilhão das Exposições, inaugurado pelo rei D. Luís em 1884 - estrutura em ferro e vidro...
Grande foi o investimento, só que a manutenção e o aproveitamento são descurados neste país de megalómanos, narcisistas e desleixados...

19.5.24

Fantasma digital


Estou a ler um livro deveras interessante: Fantasmas digitais, de Davide Sisto.

Como já cheguei a uma idade que me permite pensar o que ocorrerá com o meu desfecho biológico, isto é, com o meu regresso à matéria inicial, seja de forma lenta ou acelerada, sempre breve... este livrinho levanta-me, agora, o problema se vale a pena eliminar, ou, pelo menos, ocultar a minha mísera presença digital, sob a forma de fantasma digital, que ficaria por cá a incomodar os vivos, criando-lhes a ilusão de um diálogo, que, afinal, nunca seria autêntico, por mais dados que tivessem sido convocados para a construção de um hipotético holograma...
a não ser que este fantasma digital mais não fosse que um Homero capaz de deixar obras fantásticas como a Ilíada e a Odisseia.
Em síntese, o melhor é começar a apagar a pegada digital, porque falta a obra que pudesse circular na dimensão dataísta.

15.5.24

Triste fortuna!

Triste sina: depois da cadeia, de um olho manco, dos defuntos da índia, de um naufrágio no índico, da vala comum, da falsificação biográfica... agora nome de anunciado aeroporto em Alcochete!
O que mais poderá acontecer ao Poeta!
Talvez, Camões tenha nascido na margem sul do Tejo!

Por estas horas, o José Sócrates, não fosse o nevoeiro da Ericeira, já teria avistado o paquete engalanado da TROIKA...