Mais de 80.000 nas ruas! Impressiona pela capacidade de mobilização, mas, sobretudo, porque cada um tem uma razão de queixa.
Há muito que o Estado se vem servindo dos professores como bem lhe apraz. Não lhes proporciona nem formação científica nem pedagógica rigorosas. Não define um rumo para o país e, consequentemente, para a educação. E agora, o mesmo Estado exige competências que sempre sonegou.
Por isso, a indignação. Até porque as reformas em curso, em nome da optimização dos gastos, visam mais do mesmo: diminuição das despesas com a formação, diminuição das despesas com os equipamentos, diminuição das despesas com o parque escolar, diminuição das despesas com os salários. Não parece que o director de turma, o director de ciclo, o director do curso profissional, o director de departamento, o presidente do conselho pedagógico, o presidente da assembleia e, mesmo, o presidente do conselho executivo passem ser devidamente remunerados pelas funções que exercem. Em qualquer empresa privada, e, também, em muitas empresas públicas, todos estes cargos são remunerados de forma diferenciada.
Deste modo, a avaliação surge inquinada. Não valoriza salarialmente os docentes e, por outro lado, qual espada de Dâmacles, entrava a progressão dos mais novos e ameaça os mais velhos...
Um Ministério que não percebe que a formação científica e pedagógica é essencial, arrisca-se a ver na rua uma luta política que acabará por dinamitar o Governo e empobrecer ainda mais o País. Arrisca-se a que sindicatos e partidos se aproveitam da indignação dos professores, em benefício próprio. E humilha os seus professores perante pais e alunos, empurrando-os, depois deste pronunciamento, ou para o combate político no interior das escolas ou para a abulia...