13.3.08

Antes que seja tarde

Fica dito:

  • Que não sou a voz de ninguém
  • Que, perante um problema, começo por pocurar-lhe a extensão
  • Que descoberta a causa, invisto tudo na solução
  • Que a melhor solução raramente é comoda
  • Que não compreendo nem a fuga nem a deserção
  • Que a delação me enoja até à exaustão
  • Que aos deuses já disse tudo
  • E que aos homens pouco mais tenho a dizer

8.3.08

A força dos professores...

Mais de 80.000 nas ruas! Impressiona pela capacidade de mobilização, mas, sobretudo, porque cada um tem uma razão de queixa.

Há muito que o Estado se vem servindo dos professores como bem lhe apraz. Não lhes proporciona nem formação científica nem pedagógica rigorosas. Não define um rumo para o país e, consequentemente, para a educação. E agora, o mesmo Estado exige competências que sempre sonegou.

Por isso, a indignação. Até porque as reformas em curso, em nome da optimização dos gastos, visam mais do mesmo: diminuição das despesas com a formação, diminuição das despesas com os equipamentos, diminuição das despesas com o parque escolar, diminuição das despesas com os salários. Não parece que o director de turma, o director de ciclo, o director do curso profissional, o director de departamento, o presidente do conselho pedagógico, o presidente da assembleia e, mesmo, o presidente do conselho executivo passem ser devidamente remunerados pelas funções que exercem. Em qualquer empresa privada, e, também, em muitas empresas públicas, todos estes cargos são remunerados de forma diferenciada.

Deste modo, a avaliação surge inquinada. Não valoriza salarialmente os docentes e, por outro lado, qual espada de Dâmacles, entrava a progressão dos mais novos e ameaça os mais velhos...

Um Ministério que não percebe que a formação científica e pedagógica é essencial, arrisca-se a ver na rua uma luta política que acabará por dinamitar o Governo e empobrecer ainda mais o País. Arrisca-se a que sindicatos e partidos se aproveitam da indignação dos professores, em benefício próprio. E humilha os seus professores perante pais e alunos, empurrando-os, depois deste pronunciamento, ou para o combate político no interior das escolas ou para a abulia...

 

6.3.08

Mais vale o Inverno do que o Inferno...

Hoje, vou continuar a acompanhar a inclinação do eixo da terra na esperança de que o céu se mantenha azul, apesar das baixas temperaturas.

Bem sei que, deste modo, a Fortuna me precipita mais de depressa para o Inverno, mas que fazer? Mais vale o Inverno do que o Inferno?

Um pouco de chuva, talvez, limpasse os Céus severos, mas isso é pedir demais.

Sobram os erros (meus) e os dedos acusadores... Que fazer? Só sei que nunca alinhei em garraiadas... donde vim, o touro pega-se de caras...

5.3.08

Falta de pudor...

O problema já não é a falta de pudor; o problema está no descaramento: os alunos ignoram o professor e, pior, afrontam-no; os professores esquecem o decoro e fazem da escola arena política;  os ministros e seus acólitos desprezam a razoabilidade que devia pautar as suas acções. A boçalidade reina um pouco por toda a parte.

Hoje, voltei à escola de 1974/75. E recordo a ligeireza saneadora que varreu as escolas, em julgamentos sumários...

E de memória em memória, lembro a fúria inquisitorial que, em efígie, queimou o Padre António Vieira...

E não vale a pena citar Antero nem António Sérgio. Quem os lê e lhes conhece as dúvidas?

29.2.08

Devia haver um limite...

Devia haver um limite para a obstinação, para a desatenção, para a irresponsabilidade, para a desagregação, para a indiferença, para o ruído, para a cegueira, para a depravação, para a incompreensão, para a preguiça, para a intolerância, para a burrice da pontuação...

(a dificuldade, aqui, é o tom!)

Mas não há!

Há quem só pense em ir para o céu. Em suspender a respiração. Não importa o caminho!

Aqui, não! Enjoam e repugnam, o pragmatismo, a eficácia da letra morta...

O próprio dia (ente)dia... parece a mais no calendário.

Cresce a náusea sob o riso descontrolado e infantil dos estupefacientes... A prazo, surge a esquizofrenia, a esquizomania...

Basta um pé de liamba!

28.2.08

Ao acordar...

Acordo a pensar que me apetece passar o dia a ler A Sala Magenta de Mário de Carvalho. Ao mesmo tempo, penso obsessivamente em jogos de  guerra, de caça e tauromáticos. Nos primeiros, as primeiras linhas são abatidas, nos segundos, só pode haver  primeiras linhas colocadas por detrás de portas, e nos terceiros, a linha que separa os contendores anula-se até ao combate decisivo. Certamente que também poderia pensar na luta livre, no futebol e nos jogos de ficção, mas não, estes últimos não me atormentam as manhãs.

Daqui a três minutos, interrompo estas linhas, preocupado, sem saber se sou primeira linha e, por isso, pouco falta para ser abatido, porque a vitória é sempre negociada nos bastidores; se estou por detrás da porta e num lance de pura fantasia abato a presa; ou se a linha que me separa do inimigo diminui cada vez mais até que o corpo-a-corpo defina se é possível haver um vencedor.

Estes são os dias, não sei se tristes se alegres, que estou a viver. São duros, mas vou ter de encontrar uma forma de os vencer...

Como é possível alguém ter destes pensamentos ao acordar!? 

24.2.08

A nossa Conferência de Berlim / Lisboa

As fronteiras nacionais africanas nasceram da imposição da Conferência de Berlim: um estado orgânico colonial imposto pelas potências colonizadoras partilhando a África sem muitas preocupações quanto ao que já existia. Várias nações, no sentido da formações sociais antigas africanas, passaram a estar reunidas dentro de novas fronteiras. Tribos amigas e inimigas passaram a pertencer ao mesmo espaço colonial.

Esta estratégia, adoptada pelas nações europeias no séc. XIX, continua a alimentar o pensamento dos assessores do Governo actual: como é preciso adoptar medidas (receitas) para a resolução do atraso económico e cultural do país, consulta-se o catálogo das organizações internacionais que sobre estas matérias vão reflectindo, criam-se múltiplos grupos de trabalho (constituídos por indivíduos sem qualquer conhecimento do território físico e humano) que, obrigados a cumprir a agenda política (eleitoral), deixam cair sobre a mesa dos decisores um mapa de ocupação-cor-de rosa, ignorando por inteiro o passado e desprezando os efeitos imediatos e a longo prazo do receituário legislativo.

Tal como em África, em nome de interesses de partilha, estamos a destruir tudo o que, ainda, pode ser aproveitado, a gerar um clima de guerra transfronteiriça, e a hipotecar, por longos, anos o futuro.

Quanto aos governantes, incapazes de desenhar uma estratégia própria, continuam orgulhosos das medidas adoptadas, crendo que elas os imortalizarão, quando, de facto, deles deixam uma memória de extraordinário autismo.

(Hoje, sobre "medidas", vale a pena ler Vasco Pulido Valente. E sobre "autismos", recomenda-se Daniel Sampaio.