Português - 12º Ano - Média nacional de 9,7 na Prova 639, 1ª fase!
O Ministério reage, referindo que «importa equacionar medidas de reforço do trabalho dos alunos nesta disciplina, designadamente estendendo ao ensino secundário as dinâmicas do Plano Nacional de Leitura.» Mais um tiro no pé!
1º Esta prova deveria ter testado os conteúdos leccionados e as competências desenvolvidas ao longo de 3 anos. Isso não aconteceu. Todos o sabemos. Não vale a pena fingir o contrário. A prova da 1ª fase é indefensável. Aplicados todos os critérios, nenhum aluno poderá ter obtido 20 valores. Nem mesmo 19!
2º A Gramática ou é trabalhada de forma sistemática ou as perguntas sobre o funcionamento da língua mais não serão que "exercícios" vazios e previsíveis. Foi o que aconteceu. O II Grupo, objectivamente, não testa as várias "gramáticas" que circulam na praça editorial. Salve-se o negócio!
3º Se pensarmos que os 65.000 alunos que se candidatam ao exame de Português, ao longo dos últimos três anos, leram, pelo menos, três livros, na modalidade de contrato de leitura ( literatura nacional e estrangeira), teremos 195.000 obras lidas e, provavelmente, apresentadas na sala de aula, pondo em destaque a oralidade e a escrita. A essa leitura, obrigatória de acordo com o Programa em vigor, a Prova de 1ª fase nada diz.
4º O Senhor Secretário de Estado, Valter Lemos, provavelmente nunca leu o Programa de Português. E é pena! Se o fizesse, quero crer que, de imediato, mandaria a Inspecção verificar por que motivo, a Prova 139 não respeita o trabalho dos professores e dos alunos. Por que motivo, sobre a leitura das obras "contratadas", não há uma pergunta aberta e de desenvolvimento. O GAVE ignora que a leitura é uma forma de descoberta essencial para o desenvolvimento das sociedades e, sobretudo, teme que a leitura se torne numa força "crítica" que arrase o espartilho a que este Gabinete de Avaliação submete alunos e professores, menorizando-os.
5º Senhor Professor Valter Lemos, nas escolas, começou por haver uma dinâmica de leitura. Quem a destruiu foi quem elaborou as provas! Hoje, qualquer professor perguntará: - investir no contrato de leitura para quê? Quem a destrói é quem manda elaborar as provas! Quem a destrói é quem prefere uma dinâmica de leitura exógena a uma dinâmica endógena. Quem a destrói é quem, no passado, queimou os autores da lusofonia, subverteu os programas, eliminando a leitura extensiva, para, finalmente, aniquilar a Literatura! Há muito que a leitura, em Portugal, foi entregue aos caprichos de alguns grupelhos que nada lêem.
6º Senhor Professor Valter Lemos, se tiver oportunidade (Garrett diria que essa é a obrigação do Governante) passe pela Fábrica de Braço de Prata: entre, olhe à sua volta e contemple o estado da cultura, o estado do livro, o estado da leitura - contemple a nação que, ainda há pouco, respirava no Bairro Alto e, agora, vegeta em Marvila, à espera da ordem de despejo... começo a lembrar-me de uma estalagem, lá para os lados do Cartaxo...
9,7 não corresponde à média nacional! Corresponde, sim, à média dos que ocupam os gabinetes do Ministério da Educação e arrasam todo o trabalho feito por aqueles que, diariamente, trabalham horas intermináveis para que os jovens não desistam da leitura e da escrita, não se acomodem nas poltronas da indiferença.
Como diria Pepetela: "O nosso país é bué" ou, concluindo a estória - "afinal, o nosso país não era assim tão bué como imaginara." Ver Contos de Morte, edições Nelson de Matos
Nota1: Esta última referência não é destinada ao Senhor Secretário de Estado, pois sei que não tem tempo para este tipo de leituras. É para algum aluno que ainda não tenha sido submetido ao Plano Nacional de Leitura e que queira compreender um pouco mais do mundo em que vivemos.
Nota 2: Amanhã, como todos os professores de Português, lá terei que fazer contas para saber se os meus alunos estão acima ou abaixo do 9,7!
Sim, porque um Senhor Secretário de Estado decidiu que a minha avaliação passasse a estar indexada a este mágico número: 9,7.
Resta saber se os serviços do Ministério não fizeram mal o cálculo, tal como aconteceu há dias com o Ministério da Saúde.