A casa da cidade lembra a do campo, abandonada pelo homem. Sempre que tal acontece, a natureza retoma o que era seu.
As torres crescem ao fundo, indiferentes ao passado das fábricas de tijolo e de telha. Os arquitetos deixaram de percorrer os caminhos e vivem em redomas translúcidas.
Apesar da falta de planeamento, a oliveira e a nespereira insistem em crescer na cidade.
Como de nada serve rir ou chorar, hoje, decidi apenas caminhar pela cosmopolita cidade de Lisboa e o que vi, ou quis ver, foram sinais de subdesenvolvimento e de ruralidade. Uma cidade indecisa que acolhe a flor da oliveira, mas que, lá no fundo, a escorraça para a periferia.
Apontamento: Se me estivesse a confessar, diria que Montaigne nada tem que ver com as minhas caminhadas, mas, na verdade, desde ontem que ele me recorda que podemos chorar de alegria e rir de tristeza. O homem tem necessidade de esconder os seus verdadeiros sentimentos. Por outro lado, também Fernão Mendes Pinto (ou melhor António José Saraiva) insiste em lembrar-me que o exotismo pode ser um sinal de complexo de superioridade ou de inferioridade. Na verdade,estas últimas palavras são de Freud! O que António José Saraiva diz é que em F.M.P. convivem um exotismo «crítico» com um exotismo «simpático». Tudo muito diferente do que viria a acontecer com o exotismo romântico. E por razões que só alguns poderão compreender, reli o exótico Camilo Pessanha e do seu Oriente só encontrei o Ocidente. Saí. E ao voltar, surgiu-me o Ruy Belo com o seu PERCURSO DIÁRIO:
Eu vou por este sol além
e ele é quotidiano até ao fim
como se até hoje ninguém
tivesse no sol e fora do sol também
morrido a morte por mim
(A ordem das fotos respeita a sequência da caminhada. E esta só pode ocorrer em maio, mas não, obrigatoriamente, no dia treze... )
MCG