18.5.13

Na cidade


A casa da cidade lembra a do campo, abandonada pelo homem. Sempre que tal acontece, a natureza retoma o que era seu.
As torres crescem ao fundo, indiferentes ao passado das fábricas de tijolo e de telha. Os arquitetos deixaram de percorrer os caminhos e vivem em redomas translúcidas.
 Apesar da falta de planeamento, a oliveira e a nespereira insistem em crescer na cidade.
Como de nada serve rir ou chorar, hoje, decidi apenas caminhar pela cosmopolita cidade de Lisboa e o que vi, ou quis ver, foram sinais de subdesenvolvimento e de ruralidade. Uma cidade indecisa que acolhe a flor da oliveira, mas que, lá no fundo, a escorraça para a periferia.

Apontamento: Se me estivesse a confessar, diria que Montaigne nada tem que ver com as minhas caminhadas, mas, na verdade, desde ontem que ele me recorda que podemos chorar de alegria e rir de tristeza. O homem tem necessidade de esconder os seus verdadeiros sentimentos. Por outro lado, também Fernão Mendes Pinto (ou melhor António José Saraiva) insiste em lembrar-me que o exotismo pode ser um sinal de complexo de superioridade ou de inferioridade. Na verdade,estas últimas palavras são de Freud! O que António José Saraiva diz é que em F.M.P. convivem um exotismo «crítico» com um exotismo «simpático». Tudo muito diferente do que viria a acontecer com o exotismo romântico. E por razões que só alguns poderão compreender, reli o exótico Camilo Pessanha e do seu Oriente só encontrei o Ocidente. Saí. E ao voltar, surgiu-me o Ruy Belo com o seu PERCURSO DIÁRIO:

Eu vou por este sol além
e ele é quotidiano até ao fim
como se até hoje ninguém
tivesse no sol e fora do sol também
morrido a morte por mim     

(A ordem das fotos respeita a sequência da caminhada. E esta só pode ocorrer em maio, mas não, obrigatoriamente, no dia treze...  )  
MCG

17.5.13

Golpes baixos

  1. Para o CDS «a greve dos professores é um golpe baixo». E eu estou de acordo, pois o PP já percebeu que a sua defesa intransigente dos aposentados e pensionistas está a ser posta em causa. Assim, não irá ser possível sacrificar uns milhares de professores  para assegurar uns milhões de votos.
  2. De qualquer modo, em matéria de «golpes baixos», o CDS não está sozinho. Sempre que o vento sopra de feição, os sindicatos não descansam enquanto não deitam o porta-aviões ao fundo. A decisão de fazer greve começou por não ser abrangente: há sindicatos que ainda vão pensar, isto é, vão escutar os diretórios políticos. Outros, que ainda vivem no tempo da fava rica, analisada a situação, resolveram marcar não um dia de greve aos exames nacionais, mas 4 ou cinco, para além de uma manifestação. Não há fome que não dê em fartura!
  3. Olhando a estratégia, não se percebe a qualidade do raciocínio sindical. Os sindicatos deveriam saber que, sem afixação das classificações do 3º período, não poderá haver exames no dia 17 de Junho. Deste modo, não faz qualquer sentido convocar uma greve para as avaliações e uma outra para o primeiro dia de exames. Basta olhar para o calendário! Esta estratégia acaba por ser contra os professores que, mal remunerados e sobrecarregados com trabalho, acabarão por se alhear da defesa da escola pública.
  4. E claro, nesta situação, já começam a levantar-se as vozes contra os professores: os madraços não querem saber dos alunos, as verdadeiras vítimas...
  5. É tudo tão primário e previsível neste país!

16.5.13

Co'a palmatória

Para quem governa, a profissão de um militar ou de um polícia impõe um desgaste físico e psíquico acelerado. Pelo contrário, o professor não passa de um madraço que se limita a debitar uma bolorenta sebenta a meia dúzia de meninos bem comportados.
O militar e o polícia correm permanentemente riscos ao enfrentarem o inimigo (muitas vezes, imaginário!) e, pelo facto, merecem passar à reserva, aposentar-se ou reformar-se mais cedo do que outros grupos profissionais.
Na formação de professores, enquanto teve algum espaço, o aperfeiçoamento da capacidade relacional era fundamental. O papel do professor ia muito para além da função transmissiva de conhecimento, pois era sabido que a aprendizagem dependia fundamentalmente da interação professor - aluno, e não de regulamentos impostos por palmatórias ou seus ersatz.
Só uma visão míope do ato pedagógico pode impor uma carreira docente que, um dias destes, poderá estender-se por cinquenta anos, ao mesmo tempo que os jovens deixam de ter acesso a esta profissão.
Tal como o Poeta confessava a D. José I, estou a pensar em «co'a palmatória / cavar num canto da aula a sepultura.» 

De bolorentos livros rodeado,
Moro, Senhor, nesta fatal cadeira:
De quinze anos a voraz carreira
Me tem no mesmo posto sempre achado.

Longo tempo em pedir tenho gastado,
E gastarei talvez a vida inteira;
O ponto está em que quem pode queira,
Que tudo o mais é trabalhar errado.

Príncipe augusto, seja vossa a glória,
Fazei que este infeliz ache ventura,
Ajuntai mais um fato à vossa história;

Mas se inda aqui me segue a desventura,
Cedo ao meu fado e vou co'a palmatória
Cavar num canto da aula a sepultura.


Nicolau Tolentino (1740-1811)

15.5.13

Contra os professores

O Governo aproveita todas as oportunidades para mover a opinião pública contra os professores lançando para o ar argumentos insuficientemente fundamentados. Por exemplo, são necessários menos professores e menos escolas porque a população escolar está a diminuir! E simultaneamente omite as medidas que quer implementar e que têm como consequência a redução do número de docentes. No dia 15 de Maio, o ministério da educação e ciência já deveria ter explicitado as instruções necessárias à organização do próximo ano letivo, mas não, prefere esperar pela anestesia da opinião pública.
As medidas contra os professores não são alheias à encenação de que é possível não sobretaxar pensionistas e reformados. Se estivermos atentos às linhas dominantes do discurso político, verificaremos que professores, por um lado, pensionistas e reformado, por outro, surgem interdependentes. Quanto mais o estado poupar com a redução do número de professores, maior será a possibilidade de preservar as reformas e pensões recebidas por quem descontou e, sobretudo, por todos os privilegiados que não o fizeram...
Curiosamente, os ministros das várias pastas vão subindo ao palco para declarar que os funcionários que tutelam não irão ser abrangidos pelas medidas enunciadas: juízes, polícias, militares, diplomatas, médicos, enfermeiros, pensionistas, reformados... O que se subentende é que os professores passaram a ser o bombo da festa. A esta hora, dezenas de milhar de professores não fazem a menor ideia do que os espera no próximo ano letivo só porque, repentinamente, há menos alunos...
A encenação é rigorosa: não há meninos em idade escolar; os professores são todos iguais em idade e em serviço prestado à comunidade (argumento que irá justificar o nivelamento dos salários e o aumento do número de horas de trabalho letivo); o sucesso escolar tanto pode ser obtido com turmas de 22 alunos como de 30 alunos; o sucesso escolar  pode ser obtido com dois blocos semanais de 90 minutos, independentemente da idade ou da especificidade das disciplinas; as aprendizagens informais têm o mesmo peso das aprendizagens formais; as escolas têm autonomia pedagógica ( para fazer o quê?); as escolas públicas, se comparadas com as privadas e confessionais, têm menos sucesso e são mais caras...
Com esta encenação do governo e seus tentáculos, vamos assistir a tentativas de resistência local,  fragmentada e inconsequente, como, por exemplo, fazer greve à avaliação do 3º Período...
Creio, no entanto, que chegou a hora dos professores e restantes funcionários da escola pública dizerem: BASTA!
É a hora de iniciar um movimento de base que tenha o seu corolário na manhã do dia 17 de Junho: GREVE aos exames marcados para esse dia.
Neste momento, não é hora de olhar para o passado! O estatuto da carreira docente já foi rasgado...

14.5.13

Lisboa, a porta da Europa


Não sei o que é feito do Dr. António Costa, presidente da câmara municipal de Lisboa, mas há qualquer coisa de muito errado na capital que ele governa!
Basta observar a porta ao lado para ver a degradação da paisagem e, sobretudo, para entender que quem ali se esconde está muito longe dos costas, dos passos e dos portas deste país…

13.5.13

Matizes

Vou ficar a olhar para a multiplicidade dos matizes. Sei que não os consigo diferenciar a todos, mesmo ampliando a imagem… e enquanto o faço deixo de pensar nos jogos malabares dos corifeus que nos desgovernam.

Há, no entanto, uma pergunta que me atormenta: – Quem é que nos garante que o rosário de contas que nos desfilam não é falso?

12.5.13

Se Alberto Caeiro…


Se Alberto Caeiro aqui tivesse posto os olhos

ninguém lhos arrancaria dali!

As cores das flores e das borboletas não o deixariam partir

os zumbidos dos besouros e das abelhas seriam a música de todos os dias.

Pelo menos até que a Primavera se despedisse…

ou os frutos maduros o inebriassem…