15.7.22

Ao atravessar uma horta urbana...

 

As hortas que conheci ficavam fora da aldeia e o percurso para lá chegar nem sempre era fácil. Nessa infância distante, esses terrenos eram pasto de assombração...
Relembro a frescura das águas que ia desviando para os diversos canteiros e o som da nora lentamente arrastada pela burra de serviço...
Hoje, atravessei uma horta urbana bem trabalhada e ensoleirada... e já  não havia nora, nem jumento, nem água encanada...
Apenas um horticultor cuidava da sua plantação com desvelo...

Nas imediações, quatro meliantes dedicavam-se a outras artes, o que me fez pensar na assombração demoníaca de outrora...

13.7.22

A esbracejar...

Nos terrenos continua quase tudo por fazer ou, melhor, as autoridades continuam a não dar atenção ao tipo de florestação que desabrocha e cresce â margem de qualquer planificação... Claro que as autoridades sabem multar e condenar, só que não avançam com os recurso humanos e necessários à alteração da paisagem vegetal.
No entanto, nesta época, a matilha da lamentação cresce alimentada pela matilha do voyeurismo. É vê-los a esbracejar nos canais televisivos!

11.7.22

Incinere-se!




As cinzas podem ser partilhadas / guardadas em relíquias. 50% para o Estado... 
As restantes cinzas serão distribuídas pela família, evitando, assim, conflitos desnecessários.
Finalmente, cada beneficiário preservará a respetiva relíquia como bem entender e onde quiser.
Deste modo, o espírito viverá em liberdade sem ter necessidade de se imiscuir nas querelas políticas e familiares.

9.7.22

Lamentação silenciosa

 

A matilha parece querer enfrentar o actual presidente, acreditando ser capaz de abrir brechas no mpla que, um dia, lhe permitam recuperar o poder. No entanto, receando aterrar em solo angolano, prefere que José Eduardo (Van Dunen) dos Santos seja enterrado na Catalunha, à espera de ventos favoráveis que o levem de regresso à terra natal.

A matilha assiste nos aerópagos à destruição da Ucrânia, e ainda aproveita para lhe disponibilizar armas e promessas de apoio financeiro ilimitado que, todavia, terão de ser pagas com eterna vassalagem...

Putim vai continuar impune porque as matilhas russas foram atempadadamente amordaçadas ou domesticadas.

7.7.22

A encruzilhada


À beira da encruzilhada.   É urgente definir a direção, e o que se nota é a desorientação geral... 
Todos se precipitam para o aeroporto, carregados de armas e bagagens, indiferentes à manobra em curso... 
A razão esmorece e a massa cresce cada vez mais até um ponto de implosão sem retorno.
Nem o Sol consegue atrasar o avanço das matilhas. 

3.7.22

Circunscrito

 

«Para compreender é necessário gizar um quadro relacional onde o maior número possível de elementos textuais integre a maior lógica possível da fala poética-especulativa.» Maria Lúcia Lepecki, DN, 13-01-1991.

Bem sei que a ilustre crítica literária do DN tinha uma missão espinhosa: substituir o papa da crítica impressionista que, apesar de todos os reparos, tinha o bom hábito ler as obras sobre quais emitia juizos abonatórios ou não.
Bem sei que Maria Lúcia Lepecki estava empenhada em esclarecer a mestria de António Ramos Rosa, no entanto não resisto a confessar que não lhe acompanho o raciocínio, sobretudo porque não consigo gizar o quadro relacional das ideias que conduzem os nossos atores neste terreno escorregadio e minado em que vivemos.
Insuficiência minha, certamente.
Ou talvez esse quadro relacional não obedeça a lógica nenhuma e não passe de fala especulativa hipotecada.

Pondo de parte a incompreensão:

«Sou um trabalhador pobre
que escreve palavras pobres quase nulas
às vezes só em busca de uma pedra
uma palavra
violenta e fresca
um encontro talvez com o ínfimo
a orquestra ao rés da relva
um insecto estridente
o nome branco à beira da água
o instante da luz num espaço aberto»
            António Ramos Rosa

2.7.22

Lá no Brasil...

 

O Marcelo está no Brasil. Foi a banhos, colocou / inaugurou um padrão e vai visitar os ex-presidentes, porque o atual não está para selfies, e por isso na próxima segunda-feira não almoça...
No essencial, o que importa a Marcelo é o protagonismo. Não podendo imitar o Cabral do achamento, o Pedro da emancipação, ou a travessia da dupla Coutinho / Sacadura, só lhe resta exaltar o passado, querendo perpetuar uma relação de fraternidade inexistente...
Claro que a travessia hoje é muito mais rápida, sobretudo porque os jesuítas a aceleraram para o bem e para o mal... E depois admiram-se dos desencontros, das desconsiderações, das mentiras...

(Entretanto, por cá, começo a vislumbrar umas notas de rodapé armadilhadas por uns rapazolas do bloco central que prometiam uma indemnização volumosa aos franceses, caso a pista complementar do aeroporto Humberto Delgado não avançasse em breve no solo... No palco, as mentirolas do costume num tempo de memórias reconstruídas, porque não há tempo para leituras e principalmente para aprender a ler.)