29.1.09

Ontem, 28 de Janeiro…

Nascido a 28 de Janeiro de 1916, Vergílio Ferreira (homem, professor e obra) foi lembrado na ESCAMÕES.

Num auditório meio cheio,

Helder Godinho, Ana Turíbio, João Lucas, Valente Rosa, Madalena Contente, Cristina Duarte, todos deram, com rigor, conta do afecto e da veneração que continuam a sentir pelo amigo, mestre e acérrimo defensor da língua portuguesa.

A lição foi de tal modo harmoniosa que a assistência se encontrou por momentos seduzida e mergulhada num estranho rito de iniciação.

Não sei se os jovens terão decidido desfolhar a obra ou se ficaram a pensar em procurar o sentido da vida. Sei, no entanto, que este encontro é daqueles que fazem falta, mesmo se mediados pelo texto ou pela voz.

E por tudo isto é imperdoável que estes “encontros” não sejam gravados. 

Quando delapidamos a memória, amputamos o futuro.

Não sei como explicar…

É talvez cedo!|

Não sei como explicar que viver é muito mais do que satisfazer impulsos, desejos, do que ficar mais um minuto na cama.

Viver é construir a vida…

Não sei como explicar que não há vida sem o outro… mesmo que seja apenas texto.

Não sei como explicar o que é o outro.

Mas sei que se não estiver atento jamais serei esse outro…

Jamais viverei.

É talvez cedo!

24.1.09

Da evasão…

«Toda a literatura é um plano de evasão. Ele faz ferver todas as cabeças e aguçar todas as inteligências. (…) O aluno tem que apostatar do mestre, senão não será digno dele.»Agustina Bessa-Luís, Da educação, DN, 8.02.1992

Há anos que um texto de Agustina Bessa-Luís me obsidia. Quando menos espero, uma página amarelecida pelo tempo coloca-se sob o meu olhar e lá a volto a ler o artigo sobre a Educação. E esta leitura faz-me sempre questionar sobre a importância da literatura na formação do cidadão e, sobretudo, sobre o modo como ainda se aborda a literatura nas famílias e nas escolas. Já pensei em libertar-me deste pedaço de papel, mas não consigo. É como se ao rasgá-lo me rasgasse também a mim.

Eu que sou licenciado em Literatura Portuguesa e mestre em Literaturas várias, embora passe a maior parte do tempo no desemprego deste ofício, não posso deixar de pensar que, ao transformarmos a literatura numa minudência, que bem que soa esta palavra!, mas infelizmente não é a adequada, pois não quero pensar que a literatura é uma minúcia, mas, sim, que foi marginalizada, desvirtuando-a da sua verdadeira função: substituir as pessoas reais.

E esta função é tanto mais urgente quanto «as pessoas reais estão muito distantes e não se encontram disponíveis, tanto para ser imitadas como para ser admiradas.» citação ligeiramente alterada – do pretério imperfeito de Agustina para  o nosso presente.

22.1.09

O dia D, o dia M, o dia J

I -Aproxima-se mais um dia D: o Parlamento vota mais uma vez se a avaliação dos docentes deve ser suspensa ou não. Os Senhores Deputados vão  brincando à avaliação! Só tarde, poderão voltar ao trabalho político, tristes…

E é triste o ponto a que se chegou nesta matéria: o que devia ser tratado com discrição e rigor transformou-se em moeda falsa que serve para tudo.

Independentemente do resultado, o espectáculo da manipulação e da propaganda está montado…

II – Quanto à Justiça, estamos falados. É tudo uma questão de compadres – pais, filhos, tios, sobrinhos, enteados, isto sem falar nos primos. Quando a mesa se torna menos abundante, desatam todos à cadeirada, e logo os jornais (senão antes!?) nos inundam com meias verdades e meias mentiras…

Impunes, quase todos!

20.1.09

Obama H…

Nem Cristo criou tamanha expectativa!

A tomada de posse do novo presidente lembra-me aquelas aulas em que se tornava obrigatório explicar a função mágica da linguagem. O baptismo e o casamento eram os rituais em que por obra do verbo se dava a metamorfose… De repente, eliminava-se o pecado original e legitimava-se a sexualidade!

Com Obama, parece que, amanhã, o mal soçobrará e o eldorado reinará. 

Já a criação do mundo resultara de um acto mágico da linguagem divina.

18.1.09

Outro desatracado…

Dizer que a barba de São Francisco Xavier o distingue do Santo Inácio de Loyola não sei se faz de mim um desatracado, termo que subtraio a Miguel Esteves Cardoso, sem a devida autorização. Atrevo-me, no entanto, a referir que o meu olhar estacou, por instantes,  na iconografia jesuítica disponível no Museu de São Roque. Fiquei, ali, diante daqueles santos da contra-reforma a pensar na estratégia catequética adoptada no Oriente. E continuo sem compreender o súbito fervor do Fernão Mendes Pinto, bem explícito na PEREGRINAÇÃO…

O resultado entra olhos pelos dentro: a prata dourada, a madrepérola, o marfim, as cores quentes, o realismo das figuras, a magnificência dos relicários, tudo nos promete uma vida (outra) excelsa, bem longe da peste, da fome  quotidiana…

A caveira que, há muito, via nas mãos de um santo  sado-masoquista, encontra-se aos pés de um outro intrépido santo, como se ela não representasse mais do que a terrena vida…

À distância, não deixo de pensar que do reinado de D. Manuel I para o de D. João III, a élite portuguesa atascou as mãos na riqueza que jamais imaginara possuir, hipotecando definitivamente a nação… E, hoje, continuamos a reagir do mesmo modo a qualquer estímulo de fartura…, esperando que, na desdita, o manto virginal nos cubra com a sua infinita misericórdia… 

13.1.09

Um circo trauliteiro…

Ontem, pensava que sem mestres não podemos ser contemporâneos de nós próprios. Hoje, estou um pouco chocado com a notícia de que amanhã irei fazer figura de palhaço.

A manipulação das consciências recorre cada vez mais à metáfora e, no limite, à alegoria. A de hoje atirou-me para a pista de circo. Um circo trauliteiro!

Quanto aos mestres, não há nada a dizer. Pura e simplesmente foram  dispensados… por quem, há muito, deixou de pôr a mão na consciência.