No princípio era o pai e a religião. Caso quisesse reformular, poderia ter escrito ' no princípio era o pai e Deus', mas não, pois excluiria a mãe e era ela quem melhor agia em conformidade com a religião, na qual, para além do Coração de Jesus, cabiam Santa Teresa de Ávila e Santo António, para além da inevitável Sagrada Família... sem esquecer Santa Bárbara e a Senhora de Fátima...
Logo a seguir, surgiam a Escola e a Capela. Talvez antes devesse ter colocado o Trabalho! O pai, sem os meios para poder pagar a jorna aos trabalhadores, não prescindia do trabalho gratuito dos filhos. Gratuito, nem pensar! Afinal, quem é que os sustentava e pagava a dormida?
A Capela exigia a presença dominical, não fosse o cristão transviar-se da palavra de Deus. Para evitar alheamentos, o Padre (outro pai!), por vezes, irado, apelava à FÉ e advertia contra a Razão - o logos demoníaco...
A Escola rivalizava com o Trabalho. Situada perto da Capela, a Escola surgia no planalto, de costas para a Serra. Era igual a todas as escola do Estado Novo e lá dentro, no altar-mor, não faltava o quadro preto, sob a Cruz ladeada dos algozes do Templo: Américo Tomás e Oliveira Salazar. A Escola, no entanto, parecia ser o caminho da redenção individual. Era lá que uns tantos descobriam o meio de se desligarem do LUGAR em que tinham visto a Luz.
Pensava-se que a Escola era a porta para outra dimensão. Só que o caminho não era linear... abria-se num abismo impossível de ultrapassar sem recurso ao Templo...
Tudo fora delineado, deixando o EU de fora. Ao EU só restava ter FÉ ou fingir que tinha FÉ ou angustiar-se por a não encontrar...
(Não sei bem porquê, estas foram as ideias que se me instalaram manhã cedo no cérebro e, aqui, deixam de fora a Casa, as Casas... todas elas irremediavelmente perdidas.)