20.1.08

Os alunos podem esperar...

Há prazos a cumprir, grelhas a elaborar, objectivos a definir, reuniões a concertar, observações a marcar, formações a receber e a dar... e os alunos podem esperar!

Não vão ficar sem aulas que, sem elas, os professores não progridem!

Há quem pense que estamos a assistir a uma gigantesca fraude e a uma onda de indiferença da mesma dimensão. Mas não, para além dos carreiristas e oportunistas que sempre enriquecem nestes momentos, a maioria dos professores sente-se acossada porque pressente que, em ditadura ou em maioria absoluta, o seu peso é nulo.

Por isso, para que o aluno volte a ocupar a atenção do professor, só há um caminho: impedir a formação de uma nova maioria absoluta.

Se a memória não nos faltar... 

 

11.1.08

A penitenciária

Ando há dias a pensar na situação insuportável de quem não se sente motivado para o exercício de uma função para que não foi preparado.

Neste país, podemos ser designados para uma missão sem sermos ouvidos, ou, na melhor das hipóteses, somos chantageados: deixamos de progredir numa carreira que, de facto, para muitos está fechada... ou, então, podemos ser descartados...

Neste  contexto, a resignação instala-se, sobretudo, se a aposentação estiver distante. Acabamos actores de uma farsa interminável. Mas, de que nos serve a resignação?

E a questão da motivação é essencial! Todavia, o acesso à formação é cada vez mais dificultado: para além de ser paga e obedecer a um programa de lavagem mental, a formação é proporcionada por agências cujos objectivos são absorver os fundos europeus e controlar os mecanismos do poder.

Tudo se joga a duas dimensões: por cima, os iluminados que estabelecem objectivos irrealistas, prazos cegos e sanções disciplinares; por baixo, uma tribo de executantes que zelozamente deve controlar e hierarquizar os seus pares em nome do global superior interesse.

Não interessa se concordam ou discordam, se dispõem dos meios necessários, se, pela sua resignação, objectivamente, prejudicam a comunidade ou, no limite, põem em perigo a sua própria saúde física e mental.

Neste cenário, creio que será da maior utilidade criarmos em cada local de trabalho uma penitenciária - lembrando que, na origem, se tratava de um lugar onde o crente dispunha de instrumentos que lhe permitiam exibir o modo como se penitenciava dos erros (pecados) cometidos aos olhos de Deus. Para o efeito, os iluminados ofereciam múltiplos e dolorosos instrumentos de tortura...

Por mais incoerente que este discurso possa parecer, ele não deixa de revelar que, ao  definirmos objectivos individuais, começamos por confessar os nossos erros para, depois, negociarmos as penas que nos libertarão da nossa mísera condição...

Ou talvez não!

5.1.08

Imperdoável

«Morreu uma professora de Mangualde que, sofrendo de cancro de pulmão, trabalhou até ao fim. Maria Cândida não chegou a beneficiar da redução da componente lectiva.»

A frieza da notícia está de acordo com a desumanidade do legislador. A lei, que, por regra, os governantes desdenham, é, nestes casos, cega. Deixa morrer no local de trabalho alguém cuja morte há muito estava anunciada...

De facto, não morreu nesse lugar, mas, apenas, por força do calendário escolar. Quanto aos decisores, esses escondem-se  por detrás de leis que eles próprios aprovaram.

No limite, caso não houvesse este pausa na actividade lectiva, a professora poderia ter morrido na sala de aula, perante os seus jovens alunos. Se isso tivesse acontecido, qual teria sido a reacção dos pais e encarregados de educação?

E o que pensam desta "experiência" os pedagogos e psicólogos deste país? Será que o juízo médico não deve sobrepor-se ao rigor dos maiorais que nos vigiam?

Quem se encontra no terreno sabe que, independentemente da idade, há cada vez mais homens e mulheres que se sentem incapacitados de exercer a sua profissão, mas que são obrigados a fazê-lo, apesar dos prejuízo que isso significa para a comunidade.

No entanto, a lei continua a ser aplicada com tanto rigor, precisamente, em nome da redução do déficit.

Irónico e imperdoável. Nem a caridade nos sobra...

31.12.07

caruma-incerteza

Dando expressão ao tempo vou, lentamente, migrar para http://caruma-incerteza.blogspot.com/

O tempo é mais de incerteza que de verdade e, por isso, caruma irá estar mais atenta a tudo o que, apesar de incerto, lhe mereça algum crédito.

Nesse sentido, e para quem me pediu opinião sobre possíveis leituras, aqui deixo uma:

Vale a pena ler Noites de Anto (1988), Alegoria em Sete Quadros, de Mário Cláudio. No entanto, a inteligibilidade do texto depende do nosso conhecimento da vida e da obra de António Nobre.

Há, no entanto, que alertar os mais puritanos para o feminismo e mesmo para a pederestia de Anto, de algum modo legitimada pela Epístola de São Paulo aos Romanos: "Por esse motivo, Deus os entregou a paixões degradantes...»

Um exemplo de incerteza, a pederastia que tanto seduziu os artistas ao longo dos séculos...

Para passagem de ano, esta abordagem não deixa de ser estranha...,mas o tempo é de incerteza perante actos que, na maior parte das situações, põem em causa o "outro". 

30.12.07

Sobre o pessimismo...

Em Noites de Anto, Mário Cláudio cita um guia turístico para assegurar que a praia da Figueira da Foz poderia ser considerada, na perspectiva de António Nobre, a "Rainha das Praias de Portugal". Ora, se eu quiser dar corpo ao sol de Inverno que, nos últimos dias, tem caído sobre a praia de Armação de Pera, atrevo-me a regatear esse prémio pela sua extensão, pelas algas que se atrevem a estender-se ao sol, sem esquecer as falésias em forma de gruta que parecem sair dos campos em volta... como se os brancos prédios disformes não fossem mais do que castelos na areia... sem esquecer a faina do mar de que avisto raias de três quilos e tentaculares polvos que deixam os pescadores cor de alcatrão.

Aqui, o pessimismo perde-se no azul do céu e do mar e deixa-se subornar pela quietude dos velhos alemães, belgas, holandeses que parecem plantados de estaca neste Sul do carpe diem...

27.12.07

O Cardeal e o Ateísmo


"Todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade, que tiram todo o sentido ao Natal, que é a exultação e o grito de alegria e de esperança que brotou do reencontro do homem com Deus", destacou José Policarpo, na missa do dia de Natal, na Sé de Lisboa."

Esquecimento ou negação de Deus. Estes comportamentos pressupõem que um dia "encontrámos" Deus. Mas quando e onde? E se, de verdade, isso nunca aconteceu? Mais do que esquecer ou negar, o ateu é aquele que vive "fora" de Deus. E são muitos os que assim vivem. Será que por esse motivo são causa dos dramas vividos pela humanidade?  Ou simplesmente são seres fúteis que desvalorizam o absoluto, dando corpo à frivolidade e ao esplendor do momento?

José Policarpo sabe, como ninguém, que em nome de Deus (qualquer deus) foram (e são) cometidas as maiores barbaridades contra o homem e contra o planeta. Não necessita que lhe contem a história das cruzadas, da inquisição ou da colonização / missionação. Sabe certamente o significado da expressão "guerra santa" e, por isso, sabe que cruzados, inquiridores, colonizadores e missionários todos lutavam por/ e / com Deus e que as suas vítimas nem sempre eram ateus a necessitar de "encontrar" Deus. Muitas das vítimas também tinham os seus deuses, mas isso não os impediu de lhes destruir os "idolos".

O Natal não assinala o reencontro do homem com Deus, mas, sim, a perpetuação do homem. A alegria e a esperança são legítimas porque saúdam o futuro da humanidade. O "menino" é mensageiro da vida, mesmo que fútil, e jamais apela à morte...

Tudo o resto é uma efabulação que serve o poder e a vaidade de homens fúteis e frívolos.

24.12.07

BOAS FESTAS

Apesar de tudo o que aqui foi referido, a vida impõe-nos alguma atenção a esta vontade de celebrar ou, melhor, a esta vontade de esquecer. Bem sei que, deste modo, me rendo ao colaboracionismo de todos aqueles cuja primeira vontade é apagar a História. Se calhar o que tenho vindo a rejeitar não é mais do que o esquecimento como sinal de envelhecimento.

Permito-me, no entanto, celebrar, com todos aqueles que me visitaram, estes dias de euforia, sabendo de antemão que tempos difíceis nos esperam.

Por isso, para todos, um BOM NATAL e, em particular, para as "agulhas" que quiseram fazer parte deste manto de "caruma" que, aos poucos, vai cobrindo o meu quintal.

PS: No meu caso, não acredito  que valha a pena mudar os ministros, os secretários de estado..., pois só os escravos podem impor limites ao poder dos senhores... e por enquanto os senhores ainda não conseguiram regulamentar toda a nossa actividade. Quando isso acontecer, será a HORA!