Entre 1955 e 1973, Jorge Luís Borges foi diretor da Biblioteca Publica de Buenos Aires, situada durante um certo tempo na calle México. E foi lá que ele “perdeu” “El Libro de Arena” cuja posse se revelara um pesadelo, pois «el mejor lugar para ocultar una hoja es un bosque».
A estória do livro sem princípio nem fim (como se de areia se tratasse) acompanha-me enquanto, finalmente, cumpro o habitual circuito pedestre. Só que o infinito surge-me como uma ideia doce. O que me pesa é o finito! Nem a possibilidade de estar à deriva me agita. Pensar em Deus tranquiliza, porque estou certo que ele, ao encontrar-se algures no infinito, não está preocupado comigo… Eu não passo de uma folha perdida no bosque!
Tudo o que é finito me assusta. Se tenho que classificar 25 provas, entro em depressão: o número limitado de perguntas sufoca-me; o número previsível de erros assusta-me. Vou ter que acabar a tarefa, sabendo que, amanhã, continuo refém.
De certo modo, estou a aprender que mais valia que a dívida portuguesa fosse infinita. Passos Coelho, ao convencer-nos que as folhas do livro da dívida são quantificáveis, deixa-nos à míngua e torna-nos cativos de nós próprios…
Afinal, Sócrates sabia do que falava. Provavelmente, algum assessor tinha lido El Libro de Arena de Borges e, em particular, a estória Utopia de un hombre que esta cansado.