I - O leitor crédulo aceita facilmente como inquestionável o texto (auto)biográfico. Regra geral, não filtra a «verdade», porque confia no sujeito (eu), nas suas opções, dando expressão à ideia de que a escrita na 1ª pessoa é mais sincera do que qualquer outra. Ora se o leitor se habituar a extender a leitura ao CONTEXTO, entendido como descoberta de elos (ligações, conexões) existentes entre os vários textos do autor e /ou da mesma época, não só enriquecerá o seu conhecimento como passará a ser mais exigente, um leitor crítico.
Entre a escrita e a leitura, há um fosso difícil de ultrapassar, pois o escritor ( escrevente, escriba, secretário da puridade, escrivão, copista...) tem ao seu alcance meios ilimitados que lhe possibilitam criar, em diferido, uma verdade construída, mas que o leitor não vê como produto de uma construção, mas, sim, como um acontecimento.
Estejamos a ler José Luís Peixoto, Raduan Nassar ou António Vieira, o texto é sempre a expressão de uma composição, de uma construção, por vezes, tão poderosa que ela pode moldar irremediavelmente a verdade das nossas vidas.
É por tudo isso que o CONTEXTO se torna muito mais importante do que as circunstâncias.
II - Fujamos do homem moderno... pela palavra e pelo gesto.
III - Quando um padre jesuíta se torna num homem de ação, num patriota que luta pela soberania do seu país, acaba por gerar uma multiplicidade de inimigos de que dificilmente se libertará, sobretudo combatendo-os pela ação verbal.