O texto dramático "Leandro, Rei da Helíria", de Alice Vieira, escrito em 1991 para o Teatro Experimental de Cascais, surge, neste fim de semana, transformado num novo texto cénico, em que o rei cede o lugar à rainha Leandra por ação do Grupo de Teatro da Escola Secundária de Camões, dirigido por Maria Clara.
A transformação terá causas diversas, talvez sobrepostas: a) entre 1991-2013, as mulheres lutam pelo poder em condições de igualdade com os homens; a educação dos filhos (e dos alunos) continua, em grande parte, em mãos femininas; c) as mulheres, em contexto escolar, manifestam mais apetência pelas artes da representação; o impacto da atual realidade revela os mecanismos narcisistas, trazendo à luz a crueldade da condição humana, mesmo quando nos esforçamos por ignorá-los.
Ao contrário da maioria das histórias tradicionais, O Rei da Helíria não assegura a continuidade do seu reino, e irá "morrer" num palco que, apenas serve, para expor os seus erros como educador. De nada serve culpar a desumanidade das filhas. Elas são a expressão da cegueira paterna/materna. Só a assunção da cegueira permite ver o quanto iludidos vamos vivendo.
No palco, todos se movimentaram a contento, uns com maior desenvoltura, outros de forma mais inibida. Para além da consagrada Graça Gomes ( uma atriz cada vez mais versátil!), há que seguir com atenção os novos atores (Daniela Lopes, João Silva, Rita Júlio, Teresa Schiappa, João Figueira, Clara Mendes, Marta Fernandes). A cenografia de Mário Rita cativa pelo seu simbolismo e pela modo como regula os espaços. Adereços, figurinos, som, luzes harmonizam e dão força às palavras...
(Se não me pronuncio sobre outros atores que participam na construção desta peça é porque só hoje assisti ao espetáculo. Resta-me dar os parabéns a todos, sem esquecer a presença e as corteses palavras de Alice Vieira.)