No dia 4 deste mês de Abril, deixei os meus alunos sem aula para ir ouvir dois Secretários de Estado. Em vez de ensinar a ler Saramago, sentei-me no Auditório do Instituto de Ciências Sociais e Políticas e, pacientemente, esperei que, finalmente, me fossem apresentadas soluções para o problema da avaliação do desempenho docente. Ao meu lado, inúmeros presidentes de conselhos executivos, desprezivelmente sentados nas escadas de acesso, acotelavam-se na mesma expectativa. ( Alguns saíram frustrados por não ter visto nem ouvido a Senhora Ministra)
À medida que o Professor Doutor Jorge Pedreira discorria sobre as orientações e os procedimentos máximos e mínimos, eu pensava no estado deste triste Estado: Como era possível que tal matéria ali estivesse a ser defendida politicamente (e tacitamente rejeitada pela maioria dos ouvintes)? Na minha triste ignorância, as decisões políticas, depois de aprovadas pelo Governo ou pelo Parlamento e pelo Presidente da República, deveriam ser trabalhadas e incrementadas pelos técnicos superiores do Ministério. Mas não, naquela mesa nem sequer estava presente um representante do Conselho Científico criado para a coordenação do processo!
Quando me foi dada a oportunidade de fazer uma pergunta, desisti. As que ouvira eram suficientemente mesquinhas, marginais e autistas para perceber que nem os governantes nem os governados estavam ali para servir o Estado. O interesse do Estado deve sobrepor-se aos interesses dos partidos e não pode obedecer a qualquer calendário eleitoral. Mas ali, nada disso tinha qualquer valor.
Apesar de tudo, compreendi que aqueles governantes (apóstolos, talvez!) se sentem prisioneiros de uma estratégia tão apertada que são obrigados a dar cara, do norte ao sul do país. Perante o desperdício dos fundos europeus, a U.E. impôs-lhes a avaliação quantitativa de todos os serviços do Estado e, consequentemente, de todos os funcionários públicos. A sua avaliação depende do êxito desta estratégia. Desesperados, mostraram-se disponíveis a flexibilizar o modelo a um mínimo residual caricato, desde que os Conselhos executivos respeitem e preencham correctamente os formulários ( os normativos).
Não podendo eliminar, de imediato, a Função Pública, depois de a terem colonizado, os Partidos decidiram eugenizá-la.
No terreno, a luta política cerra fileiras..., fazendo tábua rasa de qualquer hipótese de projecto educativo nacional. E nesse aspecto, há consenso entre governantes e (des)governados: em vez de um projecto 10.000 projectos! Brevemente, teremos um projecto por autarquia.
E, ainda, agora, continuo sem saber porque me convocaram para aquela sessão de trabalho com 500 pessoas, quando bem poderia ter ficado na escola a ler Saramago com os meus alunos, se bem que estes também têm dificuldade em perceber como é que os professores de Português o deixaram passar de ano com tantas dificuldades na aplicação da pontuação, embora admitam que o léxico cerrado e diversificado que utilizava o poderá ter beneficiado, pois, na dúvida, os professores terão decidido que mais valia passá-lo de ano e, sobretudo, não o ler...