28.5.08

Esta manhã, a morte andou por perto...

Às 7 horas e 40 minutos, esta árvore caiu de podre. Ali mesmo, no meio do passeio, junto ao Mercado 31 de Janeiro, em frente do Hotel Fontana e com vista para a Escola Secundária de Camões. Por sorte, nenhum transeunte foi traído pelo destino!
Na mesma rua, há pelo menos duas árvores no mesmo estado de decrepitude.
Esperemos que os Serviços Municipais dêem mais atenção às árvores da nossa cidade, porque, da próxima vez, o destino será menos benfazejo...


27.5.08

Um humanista com memória no lugar da espada...

José Luís Falcão de Vasconcellos deu, hoje, a última aula perante uma plateia atenta, apesar de diminuta. E é pena, porque o Homem, que tanto tem contribuído para conservar as pontes que ligam o passado ao presente, certamente teria apreciado uma maior participação da Escola Secundária de Camões.

No seu projecto educativo, esta escola define como objectivo: «criar condições para que o património e a cultura de qualidade da Escola tenham continuidade na educação e formação dos alunos.» José Luís Falcão de Vasconcellos é, de todos, aquele que, nos últimos anos,  mais tem contribuído para a preservação do património cultural, criando as pontes necessárias ao diálogo com o presente e o futuro.

Se a escola se esquecer de "situar" os seus alunos , no saber, na experiência e na abnegação do professor José Luís Falcão de Vasconcellos, então, terá deixado de cumprir a missão para que foi criada.

A  escola tem, hoje,  nas suas mãos, a hipótese de reparar a falta de memória que nos tem destruído a "alma". Basta que na definição dos objectivos institucionais e individuais não hipoteque a "lição" do professor José Luís Falcão de Vasconcellos, e embainhe definitivamente a espada.

26.5.08

Tudo tem um fim...

Tenho para mim que devemos fazer sempre tudo o que está ao nosso alcance para resolver os problemas. Mas esta minha convicção pouco ou nada vale.

Se a gasolina está mais cara, as vozes do costume dizem: congelem-se os preços. E Ninguém quer saber das vantagens desta situação: diminui a poluição, cessam os engarrafamentos, o governo começa a pensar na solução ferroviária, as auto-estradas tornam-se desnecessárias. Basta lembrar os milhares de  camiões que percorrem as estradas nacionais e europeias para nos abastecer. Se à solução ferroviária aliássemos uma maior aposta na agricultura, nas energias alternativas e nas novas tecnologias, talvez ficássemos menos subsídio-dependentes e descobríssemos finalmente a Índia dentro de nós.

Se as escolas são confrontadas com um novo modelo de gestão e de avaliação, as vozes do costume gritam: congele-se a mudança. Mudar para quê? Ninguém quer saber se há alguma vantagem: uma planificação a tempo e horas, capaz de combinar  a prática lectiva com a intervenção na escola e na comunidade, capaz de suportar a formação contínua com a avaliação docente, é adiada para o calor da refrega que se anuncia para Setembro.

Afinal, estamos em Portugal! Mas com uma pequena diferença: a Índia de outrora não existe mais. As especiarias, os escravos, os judeus,  a cana, o ouro, o alcool, os diamantes, o cacau, o caminho de ferro de Benguela, Cabora Bassa, o petróleo, os emigrantes, os imigrantes, o turismo, o euro, tudo tem um fim.

24.5.08

A minhoca...

Nunca simpatizei muito com a minhoca. Nem sequer me costumo dar ao trabalho de observar o seu movimento e cor. Diga-se que, apesar de tudo, simpatizo menos com a minhoca preta e, sobretudo, com o seu cheiro. Da verde não tenho qualquer memória olfactiva, apenas o receio de que ela se insinue na folha de couve ou de alface ou faça do feijão verde a sua morada traiçoeira.
Mas, hoje, sofri uma aparição: de uma cesta de morangos   escorregou uma minhoca verde, que, ao sentir-se descoberta, logo se enroscou, numa tentativa desesperada de escapar ao iminente afogamento.
De facto, na história da minhoca, verde ou preta, há sempre uma que, quando se sente acossada, se enrosca como se o que vai acontecendo nada tivesse a ver consigo.

22.5.08

Da educação...

O legislador parece convencido que vivemos no melhor dos mundos: os pais estão todos empregados e são bem remunerados; os patrões são tão compreensivos que os libertam as horas necessárias para que possam acompanhar os filhos à escola, na hora de entrada e de saída, para que possam responder às solicitações do director de turma e, também, para que possam participar na gestão da própria escola, elaborando o regulamento interno e o projecto educativo e, até, decidir a escolha do director executivo.

O legislador parece acreditar que se existe algum problema com os pais trabalhadores, ele é pouco significativo, pois a maioria dos pais é patrão (oa) de si próprio (a), podendo dispor do tempo como bem lhe aprouver.

O legislador supõe ainda que o desemprego dos pais pouco afecta os filhos, pois o Estado encarregar-se-á de fazer com que nenhuma família passe fome ou esconda a miséria em que vive... Se houver sinais de que algumas crianças chegam à escola a dormir, atrasadas, sem nada ter comido desde o dia anterior, o legislador entenderá que isso será residual e só afectará os filhos dos imigrantes que rapidamente abandonarão o país à procura de melhores horizontes...

Por outro lado, a Escola parece convencida que a sua é função é, apenas, ensinar, pondo de parte qualquer princípio educativo. Na melhor das hipóteses, aceita cooperar com as autoridades de modo a assegurar um mínimo de disciplina. E o legislador determina que do currículo do director se elimine qualquer referência à educação: o director deve gerir recursos, deve disciplinar alunos, professores e funcionários. E o legislador cria o conselho geral (provisório ou definitivo) cuja constituição não passa de uma correia de transmissão da baixa política local. E, finalmente, o legislador amarra o conselho pedagógico à vontade disciplinadora do director...

Só não compreendo por que motivo o conselho pedagógico não perde, de vez, a referência à pedagogia... à educação.

Provavelmente, este texto é um bom exemplo do espírito reaccionário que me atormenta. O problema é que «reaccionário» é aquele que reage contra a «situação». E sobre a «situação», há muito mais a dizer. Afinal, quem é que receia a mudança? Quem é que pôs termo à «revolução»?

21.5.08

Tudo num movimento de recuo...

Parede branca

No canto superior esquerdo, uma argola

Da argola solta-se uma corda

À direita, uma mão prende a corda

À esquerda, outra mão puxa a corda

Ao centro, várias mãos esticam a corda

Tudo num movimento de recuo...

Parede branca

Ao centro uma foice

Da foice solta-se uma mão

A mão segura a corda

Outra mão puxa a corda

De costas, várias mãos atam a corda

Da corda solta-se um pescoço...

Parede branca

No canto superior direito, um crucifixo

Do crucifixo escorre a noite

Em fundo, o martelo fere a bigorna...

15.5.08

Da urbanidade...

Hoje, vá lá saber-se porquê, apetece-me elogiar todos aqueles que estão sempre disponíveis e que, diariamente, iniciam um novo dia de trabalho, como se, na véspera,  não tivessem sido ofendidos por palavras, actos ou omissões.

Sabemos onde encontrá-los, sabemos que nunca nos dizem que não, sabemos que só têm um objectivo: aprender para melhor ensinar. Olham o futuro com a esperança de quem já compreendeu que só o domínio das novas tecnologias e da partilha permite construir um mundo novo.

Sabemos que só travam ou recuam para procurar uma solução mais eficaz, sabemos que a dúvida faz parte do seu caminho...

Como eu admiro todos aqueles que suportam em silêncio a humilhação dos déspotas e dos seus títeres! Como eu admiro o seu desassossego interior!

(Como, diante deles, me sinto obrigado a ser polido, eu que nunca fui à Índia nem ao Japão, nem poli esquinas nem lambi botas, nem servi senhor divino ou terreno...)

Confesso que não sou capaz de voltar para trás e que estou com eles, sempre que dão um passo... em frente...