O legislador parece convencido que vivemos no melhor dos mundos: os pais estão todos empregados e são bem remunerados; os patrões são tão compreensivos que os libertam as horas necessárias para que possam acompanhar os filhos à escola, na hora de entrada e de saída, para que possam responder às solicitações do director de turma e, também, para que possam participar na gestão da própria escola, elaborando o regulamento interno e o projecto educativo e, até, decidir a escolha do director executivo.
O legislador parece acreditar que se existe algum problema com os pais trabalhadores, ele é pouco significativo, pois a maioria dos pais é patrão (oa) de si próprio (a), podendo dispor do tempo como bem lhe aprouver.
O legislador supõe ainda que o desemprego dos pais pouco afecta os filhos, pois o Estado encarregar-se-á de fazer com que nenhuma família passe fome ou esconda a miséria em que vive... Se houver sinais de que algumas crianças chegam à escola a dormir, atrasadas, sem nada ter comido desde o dia anterior, o legislador entenderá que isso será residual e só afectará os filhos dos imigrantes que rapidamente abandonarão o país à procura de melhores horizontes...
Por outro lado, a Escola parece convencida que a sua é função é, apenas, ensinar, pondo de parte qualquer princípio educativo. Na melhor das hipóteses, aceita cooperar com as autoridades de modo a assegurar um mínimo de disciplina. E o legislador determina que do currículo do director se elimine qualquer referência à educação: o director deve gerir recursos, deve disciplinar alunos, professores e funcionários. E o legislador cria o conselho geral (provisório ou definitivo) cuja constituição não passa de uma correia de transmissão da baixa política local. E, finalmente, o legislador amarra o conselho pedagógico à vontade disciplinadora do director...
Só não compreendo por que motivo o conselho pedagógico não perde, de vez, a referência à pedagogia... à educação.
Provavelmente, este texto é um bom exemplo do espírito reaccionário que me atormenta. O problema é que «reaccionário» é aquele que reage contra a «situação». E sobre a «situação», há muito mais a dizer. Afinal, quem é que receia a mudança? Quem é que pôs termo à «revolução»?