9.10.12

Dia XIV

I - Inquérito sobre o namoro, devidamente autorizado pelos pais (30 minutos). A experiência dos 15 anos! Resta saber se o instituto Nacional de Estatística autorizou. Os jovens esforçaram-se!
II - No tempo que sobrou, o valor semântico do sufixo -al, em palavras, como oral e moral, com uma incursão pela etimologia (os, oris / boca; mos, moris /costume). Do conteúdo linguístico ao conteúdo cultural: a moral como expressão de cultura; cada cultura a sua moral - o que obrigou a introduzir a ética, como fator de harmonização da diversidade de cultural. O exemplo saído de Montaigne terá sido um pouco insólito, pois a prática do canibalismo é inaceitável para muitas culturas e aceitável para outras, e em casos excecionais tolerada(!!!)
III - E em termos de conteúdos linguístico e cultural, proporcionou-se a explicação da formação da palavra maçonaria assim como dos objetivos da instituição, pois o texto biográfico sobre Mozart o apresenta como tendo integrado uma loja maçónica, facto que aparentemente lhe trouxe muitas inimizades e não o impediu de, para sempre, repousar na vala comum, não se respeitando o princípio da fraternidade - com mais uma incursão pela etimologia (frater /frade - irmão)   e pela sinonímia (irmandade)...
IV - Mais uma vez veio à baila a leitura e o conhecimento, o alargamento linguístico, discursivo e cultural das estrutura cognitiva de cada leitor...)
 
I - Na Literatura, os fios conversacionais continuam a entrecruzar-se. Apesar de tudo, a Paula Vicente revela-se, no seu egotismo, uma personagem romântica que perde o galanteador, pois o seu próprio preconceito lhe provoca reserva mental ( filha de bobo não pode casar com cavaleiro). A sua aparente subalternidade ( em relação a Beatriz) acaba por introduzir o Amor de Perdição, em que a subalterna Mariana (em relação a Teresa) não pode aspirar ao amor de Simão.
II - Aqui chegados, tornou-se necessário distinguir a visão do mundo trágica da visão do mundo dramática (religiosa, romântica)... Mariana subverte a solução previsível de um reencontro de Simão e Teresa na outra vida, ao colar-se ao corpo de Simão na morte ( o génio de Camilo!)... Deste modo escrever uma carta em nome de Mariana obriga a que a declaração de amor seja substituída pela enunciação da sua presença nos momentos de dor de Simão. Mariana esteve sempre presente e Teresa sempre distante...

8.10.12

Dia XIII

I - Foi necessário explicar uma vez mais que a leitura contratualizada é uma opção do aluno condicionada pelo «corpus» programático e que o professor prefere: a) que a escolha recaia em autores lusófanos; b) que, em caso de escolha de autores estrangeiros, o melhor é lê-los no original, e fazer a apresentação oral em português; c) maldita exceção!: a primeira escolha fica ao critério do aluno, embora este deva informar-se sobre a qualidade da tradução... (Será que me faço entender?) 
II - A expressão da anterioridade, na alternãncia do pretérito perfeito com o pretérito mais-que-perfeito; os efeitos da opção pela forma simples ou composta dos referidos tempos... Veja-se a diferença entre: «Cheguei atrasado» e «Tenho chegado atrasado».
III - Destaco hoje uma pergunta aparentemente inócua: - Qual é a diferença entre utilizar "ontem" ou "véspera"? O que nos permite clarificar o que se entende por momento da enunciação: Ontem fui ao Oceanário, porque na véspera lera que devia visitar uma determinada exposição. (Em causa a noção de enunciado e de anterioridade.)
IV - O texto biográfico "Mozart"...
 
V - De regresso à Literatura, uma boa parte do tempo é gasto a mudar os meninos de lugar, a verificar se têm manual, se o abrem na página certa, se a mente se concentra no guião de leitura, se leem duas ou três réplicas, se produzem um enunciado que vá além do monossílabo...
VI - Em causa estava perceber a passagem da tragédia ao drama por influência da nova mundividência romântica, nomeadamente pela conjugação do medievalismo e do cristianismo, em que último não aceitava a morte, em palco ou nos bastidores, como solução (catástrofe). Pelos cabelos, lá fui retomando a "lei das três unidades", transgredida quando a ação se transfere de Sintra para Lisboa... (espaço) ou quando o enredo admite no seu interior excertos das Cortes de Júpiter e, em particular, fios narrativos simultâneos: D. Manuel quer casar a filha Beatriz sem ter que sacrificar Bernardim; Bernardim quer Beatriz; Beatriz quer Bernardim; Paula Vicente quer Bernardim; Pedro Sáfio quer Paula Vicente (ação)... e quanto ao tempo?
VII - Em causa estava perceber o pensamento de Garrett sobre o estatuto do «comediante» e do «dramaturgo», isto é, compreender que a corte  desprezava o seu esforço para refundar o teatro nacional ( réplicas de Paula Vicente no II Ato) ... e em causa estava identificar a intencionalidade da repetição de frases de tipo exclamativo, de anáforas, de polissíndetos e de contrastes, depois de detetar os recursos...  
(Mas de que serve tudo isto!?)

Aquilino Ribeiro Machado, a mágoa

Do Aquilino Ribeiro Machado fica-me a imagem de um filho que não conseguia compreender o esquecimento a que seu pai foi lentamente condenado nas últimas décadas.
Por mais do que uma vez, o engenheiro deslocou-se à Escola Secundária de Camões , onde seu pai fora professor de Liceu, sempre com o objetivo de fomentar a leitura da obra de Aquilino Ribeiro.
Nada mais o movia! Percebia-se a mágoa, porque se um país esquece os seus filhos mais ilustres é porque navega sem rumo. 

7.10.12

Interlúdio IV

Os valores dos tempos no passado.
Escrever uma pequena narrativa pressupõe a capacidade de distinguir a história /narração do discurso (momentos de descrição e de comentário). Se o discurso do narrador se expõe no pretérito imperfeito, a narração desenvolve-se na clara diferenciação dos estados de anterioridade, simultaneidade e posterioridade.
Ora, uma das dificuldades presentes nos textos que acabo de ler situa-se no registo da anterioridade: a ordem temporal das ações no passado surge de forma aleatória, porque ao escrevente falta distanciamento / profundidade. Ontem é ainda hoje, nada existe para trás! O mais-que-perfeito ainda surge na forma composta, mas raramente na forma simples.  
Mais do que uma aprendizagem assente na repetição dos mecanismos linguísticos, o que importa é desencadear estratégias que imponham distanciamento e principalmente profundidade.

Lixo no Oceanário...

No Oceanário, o lixo ganha forma e cor enquanto a noite não chega. Com um nada mais de atenção, perceberemos que já falta pouco.

Entretanto, o Governo, em sessão extraordinária, procura a melhor maneira de nos enterrar definitivamente.

- E nós o que fazemos?

- Lixo. 

6.10.12

Os heróis e os símbolos



Olha-se à volta, e os homens são agora estátuas que sorriem conforme a moeda cai ou não.

Os que se movem são estrangeiros surpreendidos pelo clima e pelos sinais de outro tempo. Sobem as ruas, sentam-se nas esplanadas, tiram fotografias, mas não se sabe o que pensam. São milhares que circulam, uns lentos outros apressados, todos com hora marcada, mas não se sabe se irão voltar.

Os interlocutores estendem a mão à espera que a moeda caia, mas não parece que saibam ir além do murmurado obrigado se houver gorjeta. 

Dos heróis e dos símbolos sobram as praças quase vazias enquanto a noite as não cobre…

5.10.12

Ao ministro da educação falta-lhe a ciência...

Não queria, mas lá vai... acordei a pensar que, sendo este o dia em que se celebra pela última vez a instauração da república, deveria haver uma razão mais profunda... e aí percebi que a decisão de suspender o feriado nada tem a ver com o aumento da produtividade mas, sim, com o reconhecimento de que não passamos de um protetorado da popular TROIKA e deste modo não podemos continuar uma soberania virtual. E é, também, por esse motivo que o presidente da Junta Governativa decidiu estar ausente, sem falar do recato que as cerimónias irão ter! Tudo, aparentemente, em nome da austeridade.
E como, matinalmente, as palavras "crise" "austeridade", "insolvência" "cortes"... não me saem  da cabeça, dou comigo a pensar que a Junta Governativa, em vez de saquear o cidadão cumpridor, bem podia gizar um programa educativo que ajudasse os jovens e adultos a lidar com o problema que nos assola. Mas não, prefere dar bicadas no povo, na oposição e até nos membros da coligação sem descurar quem ainda mantém a torneira aberta.
Por exemplo, ao ministro da educação falta-lhe a ciência para perceber que dele se espera muito mais do que a manipulação de números e de vidas, enganando simultaneamente as finanças e as pessoas. Ainda não me apercebi que da parte do senhor Crato (este apelido lembra-me outra triste crise com o desfecho que  alguns ainda conhecerão!) tenha surgido uma recomendação clara no que respeita à educação das crianças, jovens e restantes funcionários nesta circunstância. Tudo decorre como se a crise estivesse a acontecer lá longe, quando um desafio desta natureza exige um agudo processo de consciencialização (doutrinário?) e, sobretudo, obriga à implementação de medidas que envolvam cada um na diminuição da despesa pública e privada.