Há dias tão longos, tão pesados que o melhor é matar-lhes a palavra!
Há palavras tão nuas, tão cruéis que o melhor é calá-las!
Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
Há dias tão longos, tão pesados que o melhor é matar-lhes a palavra!
Há palavras tão nuas, tão cruéis que o melhor é calá-las!
Rui Zink foi à Escola Secundária de Camões, no âmbito da Semana das Profissões, falar sobre o prazer de escrever e sobre a precariedade do ofício da escrita. Explicou que escrever é um ato que exige cultura, talento, técnica, persistência e, sobretudo, vontade de desmontar os mecanismos de manipulação das consciências. Soube escolher os exemplos, adequando-os e explicando-os a um público pouco familiarizado com a profissão de escritor, mas que soube entender o tom satírico, e terá registado a sugestão de leitura dos novos autores portugueses: Hugo Valter Mãe, José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Dulce Maria Cardoso…
Da construção do discurso oral sobressaiu a capacidade de associar dados distantes e insólitos desencadeadores do sorriso dos interlocutores, reforçando a ideia de que o riso é a melhor resposta à crise que nos é imposta.
No entanto, por detrás do tom jocoso e lúdico, foi possível notar o desencanto de quem sente que os portugueses continuam a reconhecer em Rui Zink não o escritor mas o sátiro.
PS: A iniciativa dos “camonianos” revela que estes jovens têm futuro!
É apenas uma rua sem princípio nem fim, dois ou três portais alçados; por eles sobem (ou descem?) três irmãs declinadas, e desde sempre enlutadas…
Perdidas as três irmãs, ficaram-me, indistintos, vários atalhos… e uma rua sem princípio nem fim!
Faltam as cartas e as recomendações
os amigos escasseiam
e as abelhas esquecem a polinização
atónito
raciono as horas
«Porem compre aos Reis seer justiçosos, por a todos seus sogeitos poder viir bem, e a nenhuum o contrairo.» Fernão Lopes, Crónica de D. Pedro I
Fernão Lopes, se hoje vivesse, estaria certamente boquiaberto face a um Estado que permite que os cidadãos da Madeira, ao dirigirem-se a uma farmácia, estejam a ser tratados de modo diferente dos do Continente.
Outrora, o Rei D. Pedro I procurava a todo o custo assegurar a equidade, independentemente dos afectos; hoje, o Presidente da República passa ao lado da iniquidade que grassa neste pretenso Estado democrático, perdendo definitivamente o direito a ser considerado um «homem bom».
« … porem a justiça he muito necessaria assi no poboo como no Rei, por que sem ella nenhuma cidade nem Reino pode estar em assessego.» ibidem
O sonho da ascensão materializa-se, na maioria dos casos, em objetos utilitários e / ou simbólicos. Estes representam o poder e a vaidade humana - e exigem criatividade.
Hoje, ao atravessar a Praça D. Luís (Lisboa), repeti a sensação que, outrora, sentira no Largo Sá da Bandeira (Santarém): a arte, em regra, serve a megalomania do homem e o criador pouco mais é do que um servo.
Entretanto, entre estes dois tempos, experimentei e desafiei a profecia, sem nunca ter realizado a sonhada ascensão familiar, sem nunca ter compreendido a vaidade humana, pois, cedo, saboreei o pó de que somos feitos…
Desfeito o oráculo, a vertigem do pó entranhou-se definitivamente em mim, tornando-me estranho a tudo o que deriva do TER / do PODER.
Quebrada a linha, só a proa esfíngica se inscreve na memória. Quebrada a espera, só a elegia sossega …
A partir de agora, já não há regresso!
(Nova nau se vislumbra no cais da partida…)