20.6.12

O fluxo da serpente…

I - Sempre que entro num hospital, instalado num edifício adaptado ou construído para o efeito, sinto que falta ali alguém que saiba gerir o espaço: as pessoas amontoam-se sem que ninguém as encaminhe devidamente. Nos próprios gabinetes médicos, o espaço é diminuto…

Por outro lado, há funcionários totalmente incapazes de gerir o movimento de tantas pessoas, frequentemente incapacitadas. Fico sempre com a sensação de que ali não há qualquer tipo de supervisão! Cada um está por sua conta: pacientes, auxiliares, enfermeiros e médicos. E nem vale a pena falar do pessoal administrativo, transformado em cobrador, e a braços com a avaria intermitente do sistema informático!

De qualquer modo, hoje, consegui realizar os exames solicitados, mas necessitei de fazer uma leitura fina do fluxo da serpente que por ali se move…

II – Consta que o texto do I Grupo do Exame de Português do 12º ano foi conhecido antes das 9 horas do dia 18 de Junho.Será possível? Já em anos anteriores fiquei com a sensação de que certas respostas só seriam possíveis conhecendo previamente as perguntas!

19.6.12

Prova 639/1ª fase 2012

Esta prova em nada difere das dos anos anteriores. 

No Grupo I A, as operações exigidas são, por ordem: identificar e nomear qualidades; explicitar a intenção crítica; sintetizar opinião; explicar a mitificação do herói. Ao aluno é atribuída a tarefa de comprovação e não de descoberta das linhas de força do texto. Claro que as orientações continuarão a dizer que o objetivo visa testar a competência interpretativa do leitor… Esta forma de formular as questões não permite distinguir a verdadeira competência interpretativa, e a estatística encarregar-se-á de comprovar que vivemos num tempo de mediania…

No Grupo I B, é pena que em todo o MEMORIAL DO CONVENTO não tenham encontrado uma passagem mais adequada para ilustrar a necessidade de rescrever a História do Povo. A tentativa de individualização do herói popular mais não é do que um gesto voluntarista, mas inconsequente, pois a memória dos nomes próprios esfuma-se facilmente.

No Grupo II – A formulação impede o erro. As alternativas, em regra, são inverosímeis.

No Grupo III – O tema a POPULARIDADE, de certo modo, determinado pelo TEXTO do Grupo I A (de Camões), poderia conduzir a uma reflexão interessante sobre os caminhos que hoje trilhamos. Mas não! A instrução atira, de chofre, o aluno para os braços de programas televisivos de grande audiência e, sobretudo, para as redes sociais, diga-se, facebook. Pobres professores classificadores, vão ficar com a cabeça à roda com tantos pontos de vista!

17.6.12

Que importa!


Que na Grécia se vote sem que o povo consiga clarificar o que quer! Que, no europeu, ganhar ou perder possa nada significar em termos de apuramento! Que, em França, os eleitores votem em função de ajustes de contas! Que significado pode ter tudo isso?

Por aqui, basta-nos a promessa de um bebedouro!  E este parece ter a majestade exigida pela função!

16.6.12

A pé, o caminho…



Cansado de responder a perguntas de última hora – Facebook: Grupo Exame de Português - Dúvidas – parto a pé na direção do Tejo. São 30 minutos! Os bancos convidam ao repouso, evito-os, a maré vazia, percorro a zona ribeirinha e desemboco no Oriente, na expectativa de que o 28 me devolva a casa. Passaram 80 minutos! E, entretanto, espero… o 28 está encalhado numa manifestação ou numa festa rural animada por um artista popular.


12.6.12

Interregno

Interregno: período de tempo em que um país fica sem rei, presidente –  a democracia é suspensa e perde a soberania.

Ao longo da sua  História, Portugal já experimentou tantos interregnos que, hoje, agimos como se nada estivesse a acontecer. Enquanto uma parte significativa da população desespera em silêncio, outra parte, de barriga cheia, clama sem perceber que, sendo os recursos financeiros reduzidos, não pode subtrair-se às medidas de austeridade, sobretudo quando estas visam reduzir os custos de funcionamento de organismos geridos sem efectiva supervisão.

Vivemos em estado de exceção e por isso de nada serve esbracejar perante a tutela, porque esta mais não é do que a correia de transmissão dos verdadeiros soberanos…

«Fazei, Senhor, que nunca os admirados / Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses, / Possam dizer que são pera mandados,/ Mais que pera mandar, os Portugueses.» Camões, Os Lusíadas, Canto X, estância 152.

No essencial, o Poeta já percebera que o tempo português passaria a ser de interregno. Até quando?

9.6.12

Uma Igreja desorientada



Por um lado, esta Igreja está pronta a alugar o espaço, a ceder um dia santo por cinco anos, como, por exemplo, o do Corpo de Deus. Por outro lado, a mesma Igreja vocifera: NÃO PAGAMOS  FMI  FORA DE PORTUGAL!

Parece uma Igreja desatenta e perdida, mas, na verdade, ela não perde a LUZ. Basta olhar com um pouco de atenção e lá vemos os painéis solares… e se contornarmos a quinta, encontraremos o negócio imobiliário, que não das almas! 

8.6.12

O caminho


«Procura cada qual, por seu próprio caminho, a graça, seja ela qual for, uma simples paisagem com algum céu por cima, uma hora do dia ou da noite, duas árvores, três se forem as de Rembrandt, um murmúrio, sem sabermos se com isto se fecha o caminho ou finalmente se abre…» José Saramago, Memorial do Convento, 1982

São três árvores, as de Rembrandt, saídas das cinzas da noite, deixando, no entanto, que a luz do dia brilhe em fundo revolto. A vida humana decorre absorta, como se para além do claro-escuro nada mais existisse.

O subtexto de pouco serve a Saramago! Saiu do século XVII pela porta da irrisão, pois não consegue escapar ao desespero do grande arquiteto enredado no seu próprio labirinto.