6.9.12

Não sei se...

Ontem, alguém que diariamente se confronta com os efeitos das novas aplicações informáticas, dos novos códigos, das novas decisões, perguntava-me se ninguém protesta, se ninguém se opõe... e prometia-me escrever um livro a denunciar como vamos sendo despojados dos direitos mais elementares.
Passadas algumas horas, dei comigo a pensar que Aquilino Ribeiro mostra na sua obra como os povos das serras e do interior iam perdendo o direito à partilha de baldios, logradouros e até dos adros das igrejas. Aqueles povos foram perdendo o espírito comunitário e, com o tempo, foram atirados para o isolamento. Hoje, as escolas, as capelas, as fontes, tudo fecha e as crianças são enviadas para longe, tal como os pais são convidados a partir para o estrangeiro...
Para os que insistem em ficar, o futuro passou a estar à distância de um clic de validação. Se o cidadão falhar fica fora do concurso sem apelo nem agravo. Se quiser reclamar, os burocratas encarregam-se de informaticamente tornar o processo tão complexo que mais vale desistir... Por outro lado, as leis mudam como cata-ventos e ainda por cima geram códigos obscuros que são aplicados discricionariamente, atrasando a decisão, de modo as que uns arguidos apodreçam nas cadeias e outrem usufruam de eterna liberdade.
Num tempo em que o pastel de nata vendido no bar de uma escola passou a ser vigiado (ai dele se ultrapassa os 80 (?) gramas!) outros fazem e desfazem sem prestar contas a ninguém, pondo em causa a saúde, a segurança e a paz de espírito de quem se habituou a cumprir e, sobretudo, a servir a comunidade...
Não sei se fale, se cale! 

4.9.12

Apesar de tudo



Apesar de tudo, ainda há sinais de futuro. Basta estar atento e apostar na vida!

Vivemos numa sociedade que multiplica os sinais de morte, que convida à desistência ou, pelo menos, à indiferença. E esse decadentismo é tão forte que aprendemos ( e ensinamos) a elogiar aqueles que antecipam «o fim», sem perceber que esta categoria da realidade não é absoluta.

2.9.12

Caminhos…

Léon Bloy par lui-même

S. Paulo: « Nous voyons toutes choses dans un miroir.»

Tudo me surpreende desde o autorretrato de Léon Bloy (1846-1917) até ao título da obra panfletária “Belluaires et Porchers”, para cuja tradução proponho “Gladiadores e Porqueiros” o que talvez possa cativar algum leitor mais faminto…

Traduzir esta obra é uma aventura condenada ao fracasso tal é a violência da palavra escolhida, da imaginação verbal do autor, capaz de conciliar o inconciliável num universo em que dominava o antissemitismo, o dinheiro, o colonialismo.. o espírito burguês hipócrita e acomodado.

À medida que leio Belluaires… pressinto que por detrás se encontra um homem zangado, e por isso volto ao início dos capítulos à espera que cada palavra ilumine o motivo, esclareça a traição.

Atravesso as páginas, recuo e avanço, penso em desistir, até que percebo que para Léon Bloy o anúncio da morte de Deus era um´anátema e que, visceralmente católico, condena todos aqueles que se arvoram como pilares da igreja… uma igreja que ignora o Paul Verlaine, autor de SAGESSE (1881)… o único POETA CRISTÃO.

O olhar fixo num espelho feito de símbolos, L. Bloy, manipula a língua como se a palavra fosse o único caminho para a conversão, de comunhão… e por isso tantos se deixaram persuadir: Alfred Jarry, Louis Ferdinand Céline, George Bernanos, Marc- Edouard Nabe…

No que me diz respeito, continuo surpreendido pelo olhar daquele que, medíocre aluno, medíocre empregado, desejou um dia ser pintor, tendo alternado entre o misticismo e a revolta, mergulhado na pobreza extrema, por vezes classificado como anarquista de direita, mas que, no essencial, recusava o fenecer das almas.

E essa não deixa de ser uma questão central!

1.9.12

O regresso da TROIKA

Depois dos banhos, o regresso à terra. A TROIKA voltou para cobrar o que nos emprestou, independentemente do empobrecimento geral ou, mesmo, da fome.

A escola perde professores e irá perder alunos. A saúde tem menos utentes e o país ficará cada vez mais doente.

Tudo envelhece fora de tempo, exceto a Serra do Barroso que, descabelada, espera que a chuva regresse…

Eu espero pelo Dilúvio!

29.8.12

A picota de Montalegre

Esta picota (pelourinho) de Montalegre surge aqui para lembrar que há tradições que valeria a pena repor. Se voltássemos  a expor à vergonha pública todos aqueles que diariamente nos roubam, nos agridem, nos atraiçoam e nos aviltam não estaríamos, agora, sob a canga dos credores predadores.

Em nome do bom senso, tornámos a picota inútil, deixámo-la ao abandono nas praças, sem perceber que caíamos nas mãos dos falsos liberais que nos desgovernam.

E a propósito, quanto é que estamos a pagar por todos os pavilhões multiusos que foram sendo construídos nos últimos 25 anos?  

26.8.12

Ao lado da N103

Penedones (Chã – Montalegre). Pena de Donas (1258).Trata-se de um agregado que pertenceu a donas (freiras). Um agregado em que a pedra arrancada à serra continua a dominar a paisagem, em frente da albufeira do Rabagão.
No centro do lugar, não falta o templo de deus, no caso, talvez fosse mais adequado designá-lo como templo das donas que, de verdade, não vi em lado nenhum, tal como não vislumbrei os bois do Barroso, a não ser nas placas toponímicas… dos últimos, claro está! E como aparentemente nada acontece, vale a pena fixar os acontecimentos do dia: uma águia e um casamento, mesmo sem registo de ambos, tal como já acontecera com as donas…
Enfim, com tudo isto não quero rivalizar com A Barra do meu amigo António Souto. Mas como diz um meu outro amigo, é tudo uma questão de água: há quem prefira a salgada, eu prefiro a doce…

25.8.12

Depois da chuva…


Depois da chuva o lugar revela-se fantástico. Para quem procure o isolamento, não há melhor! A internet liga-nos por segundos descontinuados ao mundo. A rádio vende-nos os produtos locais, a começar pelo encontro anual de Vilar de Perdizes. Começa na próxima 5ªfeira. Quanto a jornais nem cheirá-los e a única televisão que enxergo está sempre desligada. Sós dois amáveis cães, de que desconheço a raça, me impediram de seguir caminho. Bem hajam!