Não sei bem como explicar as situações que vou testemunhando. Da senhora idosa que mostra despreocupadamente o passe ao fiscal quando já não o carrega desde Março, ao académico que acredita que na biografia das amigas de leite há uma mariana à espera que uma qualquer teresa definhe definitivamente, sem esquecer os ataques à troupe que eliminou os clássicos dos programas de português, como se, à época, os virtuosos académicos tivessem sido todos silenciados na cadeia da relação do Porto...
Há, na verdade, situações que me exigem contenção verbal e não só, pois há sempre um virtuoso militante à escuta (vigilante). Só recentemente me foi dado entender que as minha preocupação com os efeitos morais da crise, com a necessidade de educar para a superação da miséria em que vamos mergulhando, só fará sentido se a gritar bem alto e, de preferência, de punho fechado...
O que me leva de regresso a Camilo Castelo Branco e ao narrador de Amor de Perdição que, não conseguindo identificar-se com nenhuma das suas personagens, ora se distancia da nobreza provinciana ora se distancia dos interesses da capital, caindo numa aparente neutralidade que a violência do léxico, a ironia e a caricatura desmentem a cada instante.
Um Camilo romântico, maldito epíteto!