28.8.17

A figura de referência

Ao lado, tenho um caixote de lixo que é figura de referência para a Sammy. Sempre que a hora "gourmet" se aproxima, ela enfia a cabeça no caixote e ameaça devorar todo o tipo de plástico ou de papel que ele contenha... o combate é diário, mas ela não desiste, chegando ao ponto de pisar o teclado do portátil... Neste momento, perfila-se a meu lado, atacando todo o tipo de objetos que eu considere intocáveis...
Com esta gata, apuro diariamente a paciência para que dela possa dispor sempre que entro numa sala de aula, pois os pedagogos insistem que o professor só é figura de referência se for capaz de ouvir os jovens, apoiando-os em todas as suas ansiedades e dificuldades...
Há, todavia, um problema: o tempo necessário à gestão da relação e da instrução.
Com a Sammy não há problema, pois a aprendizagem não a preocupa. Pelo contrário, ela insiste na rotina desde que a hora "gourmet" seja respeitada.
Já lá vai o tempo em que, também, eu fui figura de referência, embora o que tinha a transmitir caísse facilmente no caixote do lixo... e depois há a memória ou a falta dela... De quem? De todos, menos da Sammy que está a sentir-se traída...

27.8.17

O sentido de Estado de Passos Coelho

Hay un término usado en múltiples ocasiones: Sentido de Estado, y me preocupa porque no sé muy bien qué significa y si disponer de, al parecer, tan apreciado don te convierte en mejor ciudadano, en alguien que desde su altura de miras pone el beneficio de todos por encima de sus intereses partidarios o de otro tipo. Tampoco sé si se nace con esa cualidad o cómo se puede adquirir o si hay que ser político para poseerla.  

O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que nem uma tragédia como a de Pedrógão Grande deu sentido de Estado e seriedade política ao primeiro-ministro.

Usualmente, quando um político vai a enterrar, os comparsas, para se verem livre dele, proclamam aos quatro ventos que o finado sempre agiu com sentido de Estado...
O que me preocupa é que Passos Coelho acaba de nos informar que António Costa é mau cidadão, pois utiliza os recursos do Estado em seu favor e dos seus correligionários, e que já terá nascido sem tal qualidade... ao contrário dele, Passos Coelho, que continua  a servir zelosamente a Pátria - um homem incapaz de sacrificar os cidadãos e de vender as joias da coroa por tuta-e-meia...

(Esta reflexão não estava na agenda, mas o PPC não sabe sequer fingir que tem sentido de Estado...)

Um escritor ignorado

Curioso, consultei o sítio "escritores online" e, enfim, a lista é longa, mas falta lá o (António) Silva Carvalho.
Porque será?
Desprendimento do próprio? Mesquinhez da Academia? Inveja dos confrades?
Não tenho resposta, porém creio que a obra publicada merece muito mais atenção, a não ser que...

Silva Carvalho

escritores online

26.8.17

Um sapo noctívago


De noite.
Poucas são as pessoas que ousam passear nas ruas desertas - a maioria prefere confraternizar em torno dos canais vendidos pela MEO (satélite)...
 Apenas um sapo se dirige da relva para o passeio. Provavelmente, confia no temor humano para atravessar o largo na direção de um caneiro vizinho.
Só que vê interrompida a marcha, pois há sempre quem considere que um sapo não sabe defender-se. Lá regressa ao relvado, não sei se contrariado.
Não consigo descortinar se este sapo tem família, se vive mesmo ao lado da Escola EB2,3...se foge de algum lago da Unidade de Saúde Familiar...
O facto é que o futuro deste sapo preocupa-me, pois se quiser chegar ao caneiro terá de atravessar a Avenida dos Combatentes, mesmo se estes já forem Antigos...
A ideia de que a USF pudesse ter um lago é absurda, pois se ela nem médicos assegura. Alguém a mandou construir e depois se veria... Eu, pelo menos, nunca lá vi ninguém...
Tudo o que aqui possa escrever é também absurdo, mas estou a tentar ignorar aqueles políticos que nos vão matando o futuro e desapossando do passado... Entretanto, vou continuar a leitura de Le Sursis de Jean-Paul Sartre:
«Gomez, dit Sarah, sais-tu ce que j'ai compris, ces derniers temps: c'est que les hommes sont méchants.
Gomez haussa les épaules:
- Ils ne sont ni bons ni méchants. Chacun suit son intérêt


25.8.17

Maré baixa

Fixo-me. Há aqui de tudo.
Pode parecer insuficiente, mas creio que, se alterar o ponto de vista, perderei o sossego.
Aqui posso fechar os olhos e voltar a abri-los sem que nada se altere.
Faltam poucos dias para que a maré suba e, quando ela chegar, deixarei de poder cerrar os olhos, porque nunca se sabe quando os gambozinos nos fazem perder o pé.
Aqui, até parece que o tempo se imobilizou...

24.8.17

Estórias incompletas

Eis o que sobra de um hotel dos anos 50/60, nunca concluído. O proprietário, embora não visasse chegar ao Céu, queria simplesmente ver o Atlântico.
Segundo o que me contaram, faltam 7 metros. Por ora, vai servindo de alojamento a alguns imigrantes...
Quanto ao rapaz do cesto, parece não ter tamanha ambição. Observa. O quê? Não encontrei ninguém que ousasse falar-me das suas observações...

Eu próprio não me importava nada de ficar ali sentado, mesmo se a noite chegasse... Talvez me limitasse a ouvir o galo que cacareja mesmo que não oiça qualquer resposta...
Ou serei eu que a não oiço?

23.8.17

Forasteiro em terra de imigrantes

Ordenadas as embarcações, pouco mais há a fazer. Dos pescadores, nem sombra. Ainda pensei que as ali tivessem colocado para que eu pudesse imaginar o Cais de onde partiram os primeiros batéis. Pensamento absurdo!
Tão irrealista como a abordagem daqueles forasteiros que me perguntaram se eu sabia onde mora(va) um tal de... (não lhe cheguei a conhecer o nome!). Mas é (ou foi) alguém que se distinguiu por ter sido proprietário do parque de campismo de Zambujeira do Mar...
Pensando melhor, embora o não saibam, talvez pudesse descontar certas atenuantes àquele casal de forasteiros: durante muito tempo, acampei em parques de campismo - conheci um bom número, apesar de raramente chegar à fala com os donos, sobretudo se nacionais; por outro lado, se pesquisasse na Internet  (...).

Ora o que encontrei entronca melhor na minha surpresa ao percorrer as ruas de São Teotónio:

A freguesia de São Teotónio tem uma população de 5500 habitantes. Quase metade são estrangeiros. Para além da comunidade búlgara (mais de 1000, muçulmanos) José António Guerreiro diz que residem na terra "cerca de 300 tailandeses e, em menor número, brasileiros, moldavos, argelinos, marroquinos, romenos, húngaros e outros". (Público, 28.05.2013)

Não sei se, em 2017, estes dados estão corretos, no entanto a presença de imigrantes é enorme. Talvez, o senhor presidente da República, admirador de São Teotónio, pudesse visitar esta localidade para avaliar as condições de vida destas comunidades, que me parecem miseráveis...
Quanto aos meus interlocutores, terão de ficar sem resposta, pois na pesquisa efetuada não encontrei resposta que lhes pudesse servir...