A Casa dos Estudantes do Império (CEI)

A Casa dos Estudantes do Império




CEI (1944-1965)1
Membros, em Coimbra 1952: Campos Dias, Figueira, Forte Faria, Lúcio Lara, Agostinho Neto, Mac Mahon Pereira, Campino (foto)
A Casa dos Estudantes do Império foi criada por sugestão de um ministro das Colónias de Salazar, Francisco Vieira Machado. Mas acabou por ser apelidada por um inspetor da PIDE de «alfobre de elementos anti situacionistas». O Estado Novo acabou por extingui-la em 1965.
Em 1943, entre um grupo de estudantes oriundos de Angola, surge a ideia de criar, em Lisboa, a Casa dos Estudantes de Angola. Da comissão organizadora fazem parte Alberto Marques Mano de Mesquita e Ângelo José Vidigal Dias, da Faculdade de Direito; Carlos Torres de Sousa Júnior, Manuel Seabra de Azevedo e Emílio Freire Leite Velho, da Escola Superior de Medicina Dentária; Alberto Pereira Diogo e Acúrsio de Sampaio Nunes, do Instituto Superior Técnico. A iniciativa tem o apoio do comissário nacional da Mocidade Portuguesa, o que vale a Marcelo Caetano o título de presidente de honra da Casa.
Os estudantes de outros cantos do Império seguem o exemplo dos angolanos, o que desagrada ao regime, defensor da ideia de «unidade da nação portuguesa».
Assim, numa visita à Casa dos Estudantes de Angola, realizada a 3 de Junho de 1944, o ministro das Colónias Francisco Vieira Machado, na presença de Marcelo Caetano e dos representantes das outras associações (Aguinaldo Vieira, de Cabo Verde); Vasco Benito Gomes da Índia; Gonçalo de Sousa e Macedo Mesquitela, de Macau; e Francisco Maria Martins, de Moçambique), formaliza a proposta de fusão de todas as Casas na Casa dos Estudantes do Império (CEI).
Em Outubro de 1944, a CEI-sede começa a funcionar, sob a presidência de Alberto Marques Mano de Mesquita, no n. º1 da Rua da Praia da Vitória, ao Arco do Cego. Mas, no mês seguinte, muda-se para o n.º 23 da Avenida Duque de Ávila, onde vai permanecer até à sua extinção. Por essa altura, abre também uma delegação em Coimbra.
Logo em Janeiro de 1945, na abertura de um ciclo de palestras promovido pela CEI, sob o patrocínio da MP2, Marcelo Caetano revela aquilo que o regime espera da Casa: que contribua para o «triunfo do espírito português», trabalhando em prol da formação colonial da juventude.
No entanto, quase todos os elementos dos corpos gerentes da Casa para o ano letivo 1945-46 assinam as listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e juntam-se a partir de 1946, ao MUD Juvenil.
Em 1948-49, encontramos novamente os estudantes que dirigem a CEI ao lado da oposição, a favor da candidatura de Norton de Matos.
Em meados de 1950, os membros da secção da Índia da CEI recusam-se a subscrever uma declaração de repúdio pelas afirmações de Nehru hostis à política portuguesa na Índia.
Na viragem para os anos 50, a CEI começa a estruturar-se como um espaço de socialização antissalazarista, de re(descoberta) da cultura africana, de denúncia do colonialismo, onde se formam politicamente alguns dos futuros dirigentes dos movimentos de libertação: Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Vasco Cabral.
A 30 de Maio de 1952, o Governo nomeia uma comissão administrativa que irá dirigir a Casa até 1957: «Nada contra a nação, tudo pela nação.»
Segundo o novo regulamento, homologado pela Mocidade Portuguesa em 7 de Fevereiro de 1957, a Casa dos Estudantes do Império deixa de se organizar em secções (consideradas pelo regime focos de nacionalismos) e não pode interferir em assuntos de carácter político.
A secção editorial da CEI, sob o impulso de Carlos Ervedosa, Fernando Costa Andrade, Fernando Mourão e Alfredo Margarido, publica antologia de poetas e contistas angolanos (1959 e 1962), de poetas de Moçambique (1962) e de São Tomé e Príncipe (1963). Obras de Luandino Vieira, Mário António, Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto e José Craveirinha figuram na Coleção Autores Ultramarinos. Através do seu boletim “Mensagem”, dirigido entre outros por Tomás Medeiros, revela muitos dos mais importantes escritores africanos e põe a circular textos anticolonialistas.
Por volta de 1960, a CEI tem cerca de 600 sócios, uma cantina que serve uma média de 200 refeições diárias, um lar com 14 residentes, uma biblioteca, um salão de jogos e um posto clínico. Além da sede em Lisboa e da delegação de Coimbra, funciona também uma delegação no Porto (criada em março de 1959).
Em 1960, na CEI – Coimbra, surge um manifesto intitulado “Mensagem ao Povo Português” que registava as acusações feitas na ONU contra a política colonial portuguesa e propunha o imediato reconhecimento do direito dos povos das colónias à auto-determinação.
A delegação da CEI, no Porto, foi encerrada em janeiro de 1961.
Apesar da vigilância da PIDE e da ingerência da comissão imposta pelo Governo, a CEI é um dos lugares em que se prepara a saída de Portugal de várias dezenas de estudantes africanos que irão juntar-se aos movimentos de libertação.
Em Março de 1962, tendo as comemorações do dia do estudante sido proibidas, a CEI associou-se ao luto académico. Durante a crise, a Casa disponibilizou as suas instalações..., levando a PIDE a invadir a sede... A CEI é extinta em Setembro de 1965.
Entretanto, em 1963, tinham sido criados os Estudos Gerais Universitários em Angola e Moçambique
Em 21 de Maio de 1965, o Ministro da Educação Nacional determinou a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE). Na semana anterior, o Grande Prémio de Novelística fora atribuído a “Luuanda” do escritor José Luandino Vieira.3 O premiado era membro do MPLA e estava preso no campo de concentração do Tarrafal, acusado de atentar contra a “segurança do Estado”.4 (ver envolvimento do Jornal do Fundão através de Alexandre Pinheiro Torres, um dos membros do júri).
1 - Em Janeiro de 1992, foi criada a Associação Casa dos Estudantes do Império. Objectivo: preservar e difundir o legado cívico e cultural da CEI… Personalidades envolvidas: Orlando de Albuquerque, Vítor Evaristo, Luís Pollanah, Carlos Eduardo Ervedosa, Fernando Costa Andrade, Alfredo Margarido, José Ilídio Cruz, José Manuel Vilar.
2 - Celestino Marques Pereira (O ensino colonial da Juventude) deseja mesmo que a CEI seja uma filha da Mocidade Portuguesa.
3 - Foram também premiados Isabel da Nóbrega (romance) e Armando Castro (ensaio).
4 - ver Entrevista a Luandino Vieira, no Público de 15/5/1995.
5 - Xavier de Figueiredo – Jornalista, Público, 8 de Maio de 1994.
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Centro de Estudos Africanos (1951-1963)
A nudez, a antropofagia e a oralidade eram os valores únicos dos africanos (perspectiva de Blaise Cendrars, José Osório de Oliveira, Henrique Galvão)
O projecto cultural era um elemento prévio à organização da reflexão política.
Reler Oliveira Martins sobre o preconceito rácico.
Referências: 
1º caderno de poesia negra de expressão portuguesa (1953), organizado por Francisco José Tenreiro e por Mário Pinto de Andrade
Guilherme Espírito Santo
Antologia da poesia negra de expressão portuguesa (1958, Paris ), organizada por Mário Pinto de Andrade, com o prefácio « Cultura negro-africana e assimilação».
As teses luso-tropicalistas nos anos 50
A guerra de Batebá ( S. Tomé e Príncipe?)
O Governador de S. Tomé e Príncipe: Carlos de Sousa Gorgulho
Em 1958, os militantes africanos prestaram pouca atenção aos programas dos candidatos da oposição: Arlindo Vicente e Humberto Delgado. Não havia nada previsto no que se refere à política colonial.
Em 1954, a explosão dos Mau-Mau no Quénia. A independência do Gana.
Em 1955, a conferência de Bandoeng...



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