8.4.10

Borras…

Infelizmente, nem tudo é plano, circular e colorido. Vergado pelo odor das borras de azeite, tento dar mais um passo em frente, sabendo que a felicidade não passa de uma faúlha. Há odores capazes de destruir a luminosidade do fio translúcido do azeite.

6.4.10

O ensino das línguas estrangeiras

Dados publicados pelo diário i, no dia 5 de Abril de 2010:
3º Ciclo Secundário
Inglês 288294 120257
Francês 228095 15171
Espanhol 37607 14450
Alemão 1712 2528
Ao compararmos os dados do 3º ciclo com os do secundário, vemos que, para além do elevado número de alunos que não continuaram os estudos, a aposta numa segunda língua estrangeira é diminuta. O estudo do alemão é residual e a queda do francês é inexplicável. Entretanto, o espanhol prepara-se para se tornar na segunda língua estrangeira.
Deste modo, de pouco serve falar da internacionalização da economia ou na aposta na qualificação dos recursos humanos. De facto, a diversificação dos mercados e dos nichos de ciência e de cultura deveriam obrigar-nos a uma política do ensino das línguas estrangeiras totalmente diferente da actual.
Sem retirar importância à aprendizagem do inglês, convém relembrar que esta é a língua da globalização. Ora um país pequeno só poderá sobreviver à hegemonia da cultura anglo-saxónica se conseguir penetrar em universos linguísticos e culturais diferenciados. O futuro da própria emigração passa pelo domínio do maior número possível de línguas estrangeiras.
Curiosamente, a forte imigração que ainda se faz sentir em Portugal deveria motivar-nos a aprender as línguas desses “estrangeiros”. Todavia, tal como fizemos no período colonial em que rejeitámos as línguas dos “nativos”, continuamos a pensar que os imigrantes é que devem aprender a língua portuguesa.
Em Portugal, quem é que define a política do ensino das línguas estrangeiras?

4.4.10

No cante, o miúdo aprende a construir a muralha…

 O Aqueduto, o verdadeiro, vê passar a sua réplica e, impávido, procura outros horizontes, talvez, saídos do cante alentejano.  O cante movimenta-se como muralha dando voz à alma colectiva.  

3.4.10

O miúdo que pregava pregos numa tábua...

Em Serpa, li, em poucas horas, a última novela de Manuel Alegre. Por aqui ainda não encontrei o “miúdo” a não ser nas páginas dos jornais. E dificilmente o encontrarei, pois o autor reconhece «eu sou eu mesmo a história e as personagens». Ora Serpa é terra que, em vez de ter riscado a Ode Marítima, prefere rasurar o EU.
Do ponto de vista do género, este livro da vida parece-me uma daquelas novelas em que as personagens mais não são que a circunstância do herói. Ou será do anti-herói? O miúdo lembra-me o pícaro do Fernão Mendes Pinto! No entanto, não creio que o autor queira ir tão longe.
De certo modo, por entre considerações felizes sobre a descoberta e aprendizagem do ritmo da vida e da palavra poética (da escrita), há um «chegar-se à frente» que incomoda. Os protagonistas da obra, sobretudo, em prosa, lembram-me aqueles putos, algo machistas, marialvas e narcisistas, sempre à espreita para responderem perante o espelho: pronto, presente
Para quem já leu grande parte da obra de Manuel Alegre, «O Miúdo Que Pregava Pregos Numa Tábua” repete a maioria das obsessões do autor, e insiste num retrato confessional do EU, herdeiro do bom selvagem, capaz de resistir à maldade social, e de reconstruir a memória, quase sempre, em seu favor.
Afinal, todo o herói acaba, um dia, por falhar ou acertar o tiro quando menos lhe convém. 
PS: De qualquer modo, recomendo a leitura desta novela a todos aqueles que ainda não perceberam o que é a literatura

2.4.10

O Museu do Relógio em Serpa…

      Serpa é uma encruzilhada de memórias (de tempos). E para quem negligencie a passagem das horas, nada melhor que entrar no Museu do Relógio de António Tavares D’Almeida. Este museu, privado, é único na Península Ibérica e abriga 1800 peças. Algumas são únicas e capazes de nos recordar como os poderosos queriam marcar a megalomania do respectivo tempo.

1.4.10

Serpa… outra cal, outra luz…

  De Lisboa a Serpa são 199 km. Metade da distância é olival a perder de vista… aposta de espanhóis e de portugueses que recebem da União Europeia milhões e milhões de euros! Agora que se publicam os prémios recebidos pelos gestores das principais empresas e, também, intermináveis listas dos devedores ao fisco, bom seria se soubéssemos quem são os novos senhores do Alentejo e, sobretudo, qual é o seu contributo para o tesouro nacional.

À margem, ou talvez não, o parque de campismo encontra-se cheio de holandeses, alemães e ingleses que nos procuram não só pelo sol e pela tranquilidade da planície, mas, também, porque o preço da estadia é convidativo.  

31.3.10

O Santuário de Nossa Senhora de Lurdes

O Santuário de Nª Senhora de Lourdes implantado num cabeço na localidade de Outeiro Grande, paróquia de Assentis, Torres Novas, atraiu nas primeiras décadas do século XX elevado número de crentes e peregrinações. Foi um lugar de fé, até ao momento em que as discórdias sobre a sua verdadeira pertença começaram a surgir. Tudo começou em 1908, antes da implantação da República, em 1910, e das aparições de Nossa Senhora em Fátima…
Sempre olhei para aquele local com algum incómodo. Encerrado, sem gente, ventoso, de costas para a Serra de Aire. Certamente construído pelo fervor de uns tantos crentes de Deus e do Rei, o santuário seria um baluarte contra os ateus e os maçónicos… Hoje, voltei a subir o cabeço. Tudo fechado, o mesmo vento de outrora, algum musgo e aves furtivas… Do outro lado da estrada, uma lixeira a céu aberto no país dos sucateiros…
Entretanto, a rádio transmitia da Assembleia da República a missa republicana, onde Sócrates pontificava e exortava os hereges a apresentarem medidas para resolver os problemas do País…, como se ele os quisesse ouvir… Já nem a fé nos salva!
Quanto ao proprietário do santuário, o problema está QUASE resolvido… 100 anos depois! E quanto à lixeira, não se percebe se a ASAI (?) costuma atravessar o concelho de Torres Novas. E quanto à missa republicana, o melhor é desligar o rádio. Pensando melhor, o que me está a faltar é CARIDADE, porque a mensagem de LOURDES é clara: DEUS É AMOR E ELE AMA-NOS TAL QUAL SOMOS. Pelo menos foi o que a Virgem Maria repetiu por dezoito vezes a Bernadette Soubirous, na Gruta de Massabielle. No essencial, o mesmo faz Sócrates quando se dirige aos deputados: EU SOU AMOR E AMAI-ME TAL QUAL SOU.