12.4.16

Francisco Nicholson, aluno do antigo Liceu Camões

«O ator, argumentista, escritor e encenador, Francisco Nicholson morreu esta terça-feira de manhã, 12 de abril. Internado no hospital Curry Cabral, o ator encontrava-se doente devido a complicações resultantes de um transplante hepático a que fora submetido há uns anos. 
Francisco Nicholson começou a fazer teatro aos 14 anos, no antigo Liceu Camões, sob direcção do encenador e poeta António Manuel Couto Viana, a convite do qual veio a pertencer ao Grupo da Mocidade, que integrou com, entre outros, Rui Mendes, Morais e Castro, Catarina Avelar e Mário Pereira.»

Será que a Morte prefere os dias sombrios? Há dias em que assim parece. Talvez, porque deixámos de encarar a morte como lugar de passagem ou, em alternativa, de reintegração no cosmos.  

11.4.16

Perante a soberba

Pouco posso dizer sobre as grandes questões, pois, do que conheço do passado, estas não passam  de querelas de ambiciosos sedentos de poder e de riqueza.
Por outro lado, do que conheço do presente, a maioria vive animadamente o momento, alheia aos problemas do mundo, como se vivesse num universo paralelo. E talvez viva!
Um universo que despreza o ponto de vista de quem quer que seja. Em certos dias, é mesmo necessário pedir desculpa por ainda cumprirmos o dever de explicar que o ponto de vista é o lugar a partir do qual se observa, a partir do qual se pensa... um lugar concreto, diferente sempre que ousamos mudar, aprofundar, questionar, propor outro caminho...
Perante a soberba, não querendo deixar de ser corteses, baixamos a voz, eliminamos as convicções, e resguardamo-nos nas definições.
Um destes dias, mais não faremos do que ler o manual de instruções...

10.4.16

Um poeta, ministro da cultura

Do Medo

1

Não pode o poema
circunscrever o medo,
dar-lhe o rosto glorioso
de uma fábula
ou crer intensamente na sua aura.
Nós permanecemos, quando
escurece à nossa volta o frio
do esquecimento
e dura o vento e uma nuvem leve
a separar-se das brumas
nos começa a noite.

Não pode o poema
quase nada. A alguns inspira
uma discreta repugnância.
Outras vezes inclinamo-nos, reverentes, ante os epitáfios
ou demoramo-nos a escutar as grandes chuvas
sobre a terra.
Quem reconhece a poesia, esse frio
intermitente, essa
persistência através da corrupção?
Quase sempre a angústia
instaura a luz por dentro das palavras
e lhes rouba os sentidos.
Quase sempre é o medo
que nos conduz à poesia.

2

Voltando ao medo: as asas
prendem mais do que libertam;
os pássaros percorrem necessariamente
os mesmos caminhos no espaço,
sem possibilidades de variação
que não estejam certas com esse mesmo voo
que sempre descrevem.
Voltando ao medo: o poema
desenha uma elipse em redor da tua voz
e cerca-se de angústia
e ervas bravias — nada mais
pode fazer.

Luis Filipe Castro Mendes, in "A Ilha dos Mortos"

A velha Índia

 «Pertenço a um género de portugueses / Que depois de estar a Índia descoberta / Ficaram sem trabalho...» Álvaro de Campos, Opiário.

Para lá do verde, o investimento alemão; por detrás, o que resta da velha Índia –  a ponte.
Bom seria que os políticos  se empenhassem mais em construir pontes do que em destruí-las.
(...)
Na Índia de hoje, a tragédia:
«O incêndio que deflagrou este domingo num templo indiano, provocado por fogo-de-artifício, causou pelo menos 102 mortos e 280 feridos, segundo um novo balanço oficial. Milhares de indianos juntaram-se na madrugada de hoje num templo hindu de Puttingal Deva, na província de Kerala, sul da Índia, para celebrar o festival Vishu, quando o local de lançamento do fogo-de-artifício a ele associado foi alvo de uma explosão.» Correio da Manhã

9.4.16

A Voz inútil é um modo de dizer

A Voz inútil é apenas o modo de dizer que naquele serviço o número de enfermeiros é de tal forma reduzido que não sobra ninguém para responder às questões dos familiares dos doentes.
Curiosamente, no serviço de internamento, o familiar e o amigo do doente são esclarecidos de que só o médico pode dar informação e como tal o melhor é ligar para a unidade, só que do outro lado irrompe uma Voz inútil...
Chegados à unidade, por exemplo de Cuidados Intensivos Neurocriticos, não há médico à vista, e apenas se vislumbra um enfermeiro em frente de um terminal de computador, provavelmente a preencher a ficha clínica dos doentes...
De qualquer maneira, não me posso queixar: o António está a recuperar bem da intervenção... e cá fora sempre pude observar o castelo de S. Jorge, apesar de bem distante.

A Voz inútil

Estou desde as 18 horas de ontem a ligar para o serviço de neurocirurgia do Hospital de S.José. O telefone toca durante meio minuto até que uma Voz 'responde', Lamentamos, de momento não é possível atender. Volte a ligar mais tarde.
Bem gostaria de saber de quem é esta Voz e quanto é que lhe pagam para realizar esta tarefa inútil.

Lá terei que me mexer e cumprir o preceito: Quem quer vai, quem não quer manda!

8.4.16

Partiu o ministro caceteiro

«Entretanto, o António Costa deve lembrar a João Soares que não precisamos de um ministro da cultura trauliteiro.» Caruma, 1 de Março de 2016

A nomeação de João Soares para ministro da Cultura só não me surpreendeu por ele ser filho de quem é. A Comunicação Social celebrou o 'homem de cultura', embora eu nunca tenha percebido porquê. Conhecia-lhe a arrogância que o levou a perder a renovação do mandato para presidente da CML, conhecia-lhe  o descaramento que o levara a apoiar Savimbi, contribuindo para a manutenção da guerra civil em Angola, conhecia-lhe as relações pouco recomendáveis com investidores chineses interessados na propriedade alentejana e não só...
No essencial, a cultura de João Soares resume-se a um discutível círculo de relações, com enorme dificuldade em aceitar a crítica... e que por isso reage como se ainda vivêssemos no século XIX.