9 de Março de 2005
A pretexto da leitura de APARIÇÃO de Vergílio Ferreira
«Era necessário que todos os homens
vivessem em estado de lucidez, se libertassem das pedras, chegassem ao milagre
de ver.» Vergílio Ferreira, Aparição,
pág. 64.
«E vi, vi os olhos, a face desse
alguém que me habitava, que me era e
eu jamais imaginara.» Ibidem. pág. 70
Data: 21 de Março de 2003 / 9 de Março de 2005
Hora de partida: 8:15 horas
(E. Sec. Camões)
Início da visita – Praça do
Giraldo (Évora): 10 horas
Pausa para almoço: das 12:15
às 13:30 horas
Continuação da visita: Largo
da porta de Moura -13:30 horas
Hora de chegada: 17.30 horas
(E. Sec. Camões)
Sobre ÉVORA
A esta cidade céltica chamou Plínio, Ébora
Cerealis. No ano 59 a.C., César Augusto outorgou-lhe o nome de Liberalitas
Júlia, segundo consta em homenagem ao Deus Júpiter. Aquando da permanência
árabe, foi parte do al Andaluz sob a designação de Ebris. Após a tomada pelo
Giraldo Sem Pavor, ganha o nome que hoje tem.
A sua existência é inequívoca mescla de muitas gentes de numerosas proveniências. De homens bons e outros que nem por isso, de senhores e de servos, de artífices e de mercadores, de frades e de soldados, de vagabundos e de peregrinos, de saltimbancos e de camponeses. Os diversos agregados urbanos são a representação de um formigar ancestral, mediévico, mourisco ou judaico, justificado pelas Alcaçarias, Alcárcovas e Freirias, Porta de Moura e Porta Nova, Rua do Cenáculo, Beco do Chantre, Travessa da Caraça, Judiaria (Rua da Moeda e Rua dos Mercadores), Bairro dos Penedos e Travessas do Pão Bolorento e Torta. O burgo primitivo manteve uma interessante toponímia, reveladora de tradição e do chiste, de parecença e de narrativa, com alguns termos da herança muçulmana: Ruas do Mau-Mundo (Mahomud), Ancha, Alcatrás, Aferrolhados, Amas do Cardeal, Diabinho, Açacal, Valdevinos, Esnoga Grande, Escudeiro da Roda, Malforo, Balandrau, Beguinos, Malbarbado, Cozinha de Sua Alteza, Cogulos, Frades Grilos, Mancebia Velha, Imaginário, Caraça, Alconchel, Alfaiate da Condessa, Mangalaça, Tinhoso, Selaria, Donzelas, Meirinho, Mercadores, etc., etc.
Ébora Cerealis
Liberalitas Júlia, no ano de 59 a.C., por decisão do
Imperador César Augusto
Ebris
( faz parte do Al andaluz) durante 5
séculos. Al-Andaluz: Nome dado à parte da Península Ibérica dominada pelos
muçulmanos na Idade Média. O Al-Andaluz chegou a compreender quase todo o
território peninsular, com excepção das Astúrias, mas foi depois diminuindo com
a Reconquista Cristã. A administração civil e militar eram organizadas em
divisões geográficas. O Al-Andaluz teve uma cultura florescente, em especial no
califado de Córdova, nos séculos IX e X. As populações autóctones não foram
obrigadas a aderir ao Islamismo.
Esta cidade foi conquistada aos árabes em 1165
por Giraldo Sem Pavor.
Os séculos XV e XVI foram os séculos de maior
esplendor desta cidade que foi sede das Cortes por longos períodos.
Foi em Évora que D. Manuel I entregou a Vasco
da Gama as instruções e o comando da armada que demandou a Índia (1496-1498).
O centro histórico conserva marcas da presença
dos romanos, dos árabes, dos judeus e dos cristãos…
Desde 25 de Novembro de 1986 que Évora foi
classificada pela UNESCO como Património da Humanidade.
ITINERÁRIO
- Rossio de S. Brás
«Estava uma tarde quente, do Rossio vinha o eco
da azáfama para a feira.» Cap. XXIV, pág. 260
«A feira abriu com
grande excitação. Todo o Rossio se iluminou de festa com fieiras de barracas,
carrocéis, circos, stands de carros e máquinas agrícolas, tendas de doçaria, de
fotocómico, tômbolas, jogos de argolinha, aparelhos de buena-dicha (…) Noite de
S. João, noite cálida de bruxas e de sonhos.» Cap. XXV, pág. 263
- Jardim: Busto de Florbela Espanca
«Pelos vidros das janelas via a massa nocturna do jardim, imaginava o busto de Florbela, colocado ali há pouco tempo, numa manhã clandestina, agora meditando sobre o seu pesadelo.» Pp.70-71
FLORBELA ESPANCA
Nasceu no Alentejo, em Vila Viçosa, a
8 de Dezembro de 1894. Estudou em Évora onde concluiu o curso dos liceus em
1917. Mais tarde foi estudar para Lisboa, frequentando a faculdade de Direito.
Colaborou
no Notícias de Évora e, embora esporadicamente, na Seara Nova.
Foi,
com Irene Lisboa, precursora do movimento de emancipação da mulher.
Com
a sua personalidade de uma riqueza interior excepcional, escreveu os seus
versos com uma perturbação ardente, revelando um erotismo feminino
transcendido, pondo a nu a intimidade da mulher, dando novos rumos à
consciência literária nascida de vivências femininas.
A
sua poesia revela grande intensidade lírica e profundo erotismo.
Decidiu
o "rumo" da sua vida – aos 36 anos – em Matosinhos, a 7 de Dezembro
de 1930.
- A Praça do
Giraldo: Arcadas mouriscas; fonte henriquina (1571)
- O Café
Arcada
Arredado destes
grupos, via-se no Arcada
um professor de Liceu, chamado Vergílio Ferreira. Durante 14 anos – entre 1945
e 1959 –, o escritor leccionou em Évora, o que lhe deu para conhecer a fundo a
cidade e situar nela a acção do seu romance "Aparição". É no café da
Praça do Giraldo que duas personagens principais do livro – Alberto Soares e o
Dr. Moura – se encontram pela primeira vez: " Acabámos por marcar o encontro para o dia seguinte, no Arcada, sem que
Moura se lembrasse que era uma terça-feira, ou seja, dia de mercado. (...)
Achei a custo um lugar a um canto, à esquerda de quem entra e onde viria a
instalar-me para sempre."
À mesa de Vergílio
Ferreira sentavam-se colegas do liceu e amigos, como o pintor eborense António
Charrua ou o poeta Saul Dias, pseudónimo de Júlio dos Reis Pereira, irmão de
José Régio, que trabalhou muitos anos em Évora como engenheiro civil.
- A Rua da Selaria / 5 de Outubro: o nicho do Senhor dos Tremores de Terra (1755)
«Todos os dia de manhã subo a Rua da Selaria para o Liceu, ouço a praga de carroças que atroam a cidade. Perto do nicho do Senhor dos Terramotos, que lhe fica ao alto e quase em frente, o cão espera o osso da janela lá de cima.» Cap. IX, pág. 91
- A Catedral
de Santa Maria (séc. XII) – mistura de estilo românico e gótico. Cap.
II (pág. 24); Cap. IX; Cap. XX
Sé
Catedral de Santa Maria
A Catedral de Évora,
comemorou, no ano de 1983, o VII centenário da sua fundação, evocado na data da
morte do bispo D. Duarte Pais.
Anteriormente haveria numa mesquita muçulmana.
No entanto, desse edifício não existem vestígios, pois o actual foi edificado,
dentro dos estilos de transição romano – gótico dominantes no País: trata-se de
uma volumosa e severa construção de cantaria, de fachada enquadrada por duas
possantes torres quadradas, com pórtico ogival guarnecido de estátuas do
Apostolado.
No seu interior, mantêm a
planta primitiva, distribuída em três naves de arcarias sóbrias rasgadas. Além
do valioso Arquivo Capitular que remonta ás origens da nacionalidade, mantêm
aberto ao público o Museu de Arte Sacra.
A sala principal Guarda
precioso núcleo de espécies artísticas, os valiosos retábulos de São Francisco
e santo António e a exaltação de Santa Cruz.
A derradeira sala, apresenta o mais nobre conjunto de Ourivesaria existente no Alentejo.
«Mas,
quando um trovão abala toda a cidade, entro instintivamente na Sé. Um vasto
silêncio de cúpulas, de largas superfícies nuas afoga-me em pesadelo. (…) E eis
que de repente descubro que não estou só: ANA… » Cap. XX, pp.223-224.
- O Museu (sobre o antigo Fórum romano)
«Um dia, porém, recebi um bilhete de Sofia: podia eu estar em certa hora no Museu? Fui. Sofia, estava já no pequeno claustro, estudando, dobrada com interesse, a inscrição de cipo funerário.» Cap. XV, pág. 176.
- O Templo, dito de Diana. Cap. II, XX
- A Igreja do Colégio Jesuíta (recinto da
Universidade - Liceu) / Cardeal D. Henrique
- O Liceu. Cap. II (pág. 24); Cap. XXIII
«Trabalho no Liceu com entusiasmo – o entusiasmo do principiante, ou seja, do que ainda está criando. (…) Eu inventava assim técnicas novas ou julgava que inventava.» Cap. X, pág. 115
- O Chafariz das Portas de Moura – fonte
renascentista, com forma de esfera armilar
- O Mirante da Galeria da Casa Cordovil – construção
de influência mudéjar
- A Igreja dos Meninos da Graça – quatros globos / os
meninos
- Capela dos Ossos – séc. XVII (ossadas de 5 mil
pessoas)
- O Palácio Real – apenas a Galeria das Damas
- Alto de S.
Bento
«Saí pela
estrada, subi a S. Bento, ali fiquei algum tempo, cortado de frio, olhando de
longe a cidade contra o azul-escuro do céu, toda brilhante de luzes como uma
cascata ou uma pinha de diamantes. Filas de lâmpadas derivavam do centro até se
perderem na escuridão. (…) Havia perto uma casa de janelas apagadas. Pensei
nela para viver.» Cap. XIX, pág. 113
«Alto de
S. Bento, o vento da planície e os meus olhos perdidos na lonjura…» Cap. XIV,
pág. 159
«Eis que
me instalo enfim na minha casa do Alto. Tomado o desvio para S. Bento, sobe-se
depois aos moinhos: a casa fica ao lado direito. (…) Para longe, ondulam linhas
brandas de colinas, salpicadas de casas brancas, donde sobem vozes anónimas de
gente, cânticos de galos que vibram no ar com um sinal antigo de terras
solitárias.» Cap. XVII, pág. 189-190
Vergílio Ferreira
(1916-1996)
Autobiografia: a separação dos pais e das irmã mais velha; os avós;
as tias; o tio padre; a primária; o seminário: seis anos; o Liceu e a
universidade: sete anos «sombrios, longos, penosos»; a cidade de Coimbra; a
descoberta da literatura; a guitarra; professor: Faro; Bragança, Évora durante 14 anos (o coral dos
camponeses; a cidade predilecta); Lisboa (Liceu Camões), um sítio onde se está, não um lugar onde se vive.
Ferreira,[1] Vergílio (1916 - 1996[2]) – A sua carreira começou, com um artigo na revista Biblos, de Coimbra ”Teria Camões lido Platão?”. Obra: O Caminho Longe (1943) Alegria Breve (1943); Vagão J; Mudança; Manhã Submersa; Carta ao Futuro (1958); Aparição· (1959); Invocação ao meu Corpo (1969) Signo Sinal; Estrela Polar; Até ao Fim[3]; Na tua face; Para Sempre[4] (1983); Nome da Terra; Espaço do Invisível; Conta-Corrente[5]. Prémios: Camilo Castelo Branco (1960); Femina (1990); Grande Prémio do Romance e Novela (1988; 1994); Prémio Ficção Pen Clube (1991) Europália (1991) 4ª edição do Prémio Camões (1992). Professor[6] em Faro (1942); em Évora, de 1945 a 1959; no Liceu Camões, de 1959 a 1982. Passou brevemente por Bragança. O autor considerava Dostoievsky a súmula da arte narrativa.
Cap.
Chegada à estação de caminho de ferro de Évora. Praça. Pensão do Senhor Machado numa rua íngreme. O quarto ficava no 3º andar. A cidade branca; a cidade-ermida.
Cap.
II
Descrição da cidade ÉVORA
Pág. 23 e 24 - Velhas ciladas...
ruínas...arcos partidos... nichos das orações de outras eras... janelas
góticas... Évora mortuária...encruzilhada...ossuário... colunas solitárias...
murmúrio antigo... tempo imóvel... velhos medos
Sé... / zimbório... (parte mais alta e exterior da
cúpula de um edifício)... Templo de Diana...
Pág. 26:Liceu (imagem): «raios imóveis de uma oração
mutilada, silenciosa imagem do arrepio dos séculos.»; um ar de ruína; um jardim
tratado no final do Outono
Pág. 28: a planície comparada ao mar =
PLENITUDE; "espaço da planície, crestada, abandonada ao sol"
Cap. III
Café ARCADA (3ª feira, dia de mercado): o interior do
café - pág. 31
Alto de São Bento, a planície banhada de uma
lua enorme – pág. 33
A casa do Dr. Moura «ficava para as portas de Alconchel» – pág. 34
Ver descrição da casa do Dr. Moura – pág. 35: velho
mosteiro... se congelava com um frio mineral, uma frescura de catacumbas
«...ao longe a planície azulava-se como
horizonte marinho» pág. 35
" As palmeiras balançam no teu jardim, a noite
veste-se de estrelas, adormece na planície." Pág.40
A Sé (o coro / Dr. Moura) – pág. 42
Ponto de vista de Chico sobre Évora «absurda,
reaccionária, empanturrada de ignorância e de soberba...» pág. 42 / O peso da
Idade Média «Tudo ali tinha muralhas.» «Évora era a Quaresma e Lisboa o
Carnaval.» pág. 43: «cidade morta, de arcadas desertas.»
Cap. V
«Toda a Praça
acordara enfeitada de crisântemos.» / Fonte pág. 56
«Partimos pela estrada
do Redondo, atravessando as duas linhas-férreas. Atrás ficava a cidade,
dourada pelo sol, coroada pela Sé
(...) As casas brancas apinhavam-se umas contra as outras, à ameaça do deserto
e da desolação. E ali parado, em face da cidade perdida na planície, era
como se ouvisse em mim um coro de peregrinos à vista de um santuário nas
romagens antigas.» Pág. 57
«Passam os campos à nossa volta no desamparo do
Outono.» Pág. 59
«Subitamente à beira de um monte, um homem de pelico...» pág. 60
Monte - sede da herdade, no Alentejo, formada por vários
edifícios em torno de um pátio.
Cocho (a) - espécie de canudo onde os corticeiros guardam a
roupa ou a comida; tabuleiro.
Jeira - terreno que uma junta de bois pode lavrar num dia.
Cap. VI
O Chico «mora ao pé de S. Francisco numa casa que dá para o Jardim. (...) Passam constantemente carroças, martelando toda a
cidade...» pág. 64
«Pelos vidros das janelas via a massa nocturna do Jardim, imaginava o busto de Florbela,
colocado ali há pouco tempo, numa manhã clandestina, agora meditando sobre o
seu pesadelo.» Pág. 70-71
«No largo deserto, a Igreja de S. Francisco erguia a sua massa negra entre as fachadas
brancas dos prédios.» / Carolino mora na rua
da Mouraria – pág. 73
O labirinto das ruas – pág. 74 / a livraria do Nazaré – pág. 75
Cap. VII
«Eu subia a rua
da Selaria para o Liceu.» Pág.
77
«Alfredo dera a volta à Praça, já despida de crisântemos, atravessara a Rua dos Infantes (...) e chegado à rampa do Liceu. Pág. 78
«Debruçado para a Praça
numa espera despovoada. Os carros... As arcadas, o café... a livraria... Rente
aos muros...» pág. 80
Sobre a Arte: pág. 36-37-44
Sobre o VER:
pág. 40 (revelação, evidência, mãos de criança)
«Era necessário que todos os homens vivessem em estado
de lucidez, se libertassem das pedras, chegassem ao milagre de ver.» Pág. 64
«E vi, vi os olhos, a face desse alguém que me
habitava, que me era e eu jamais
imaginara.» Pág. 70
Chopin, Nocturno nº 20
Sobre a génese da " história que narro" – o
convite para participar nas conferências (p. 43-44)
Sobre as "palavras": "mas as palavras
são pedras" – pág. 44
O problema:
«justificar a vida em face da inverosimilhança da morte" – pág. 49
«A descoberta de uma aprendizagem» pág. 65
Aparição, 1959
( Romance escrito por Vergílio Ferreira, na casa dos
40 anos. Escrito no Inverno / de Inverno )
Este romance, no essencial, uma tentativa de
explicação do sujeito que se vê "prisioneiro" das palavras / voz (8,
39, 43-44), ao procurar a sua evidência....
Pág. 8
1.
Nada mais há na vida que o SENTIR ORIGINAL... antes das palavras, das ideologias.
2.
As palavras que o Autor define como cinturões de ferro... veículos de ideias cunhadas, de bolso
3.
O Autor odeia o "irmão das palavras que já sabes um vocábulo para
este alarme de vísceras e dormes depois tranquilo e me apontas a cartilha onde
já tudo vinha escrito...
4.
Só há um problema para a
vida, que é o de saber, saber a minha condição... e de restaurar a
partir daí a plenitude e a autenticidade de tudo...
Pág. 9
1.
O Autor desvaloriza, na construção da identidade, o olhar dos outros:
" a minha presença de mim a mim próprio e a tudo o que me cerca é de dentro de mim que a sei - não do olhar dos outros." No
essencial, a descoberta do eu-como-alguém é feita através do espelho. (64) Rejeita a concepção
neorealista de vida real. Na pág. 136, cap. XIII, Tomás confronta
Alberto com vermo-nos não era vermo-nos
nos outros. O único público que Alberto procura é ele próprio: E o que eu procuro é ser público de mim
próprio. (170)
2.
" A minha morte é o nada de tudo."
Cap. I
·
Chegada a Évora, numa manhã
de Setembro
·
Um moço de fretes (retrato do Manel Pateta)
·
O estado psíquico do narrador-personagem: "Trago em mim um
pesadelo de ideias, um cansaço profundo que me alaga, me submerge."
·
Começa a evocar a morte
do pai (18), causadora da interrogação:
"Que têm que fazer, em
face da minha dor, da minha
alucinação, estas árvores matinais da avenida que percorro, a branca aparição
desta cidade-ermida?"
·
Recorda
o Dr. Moura, condiscípulo do pai
·
Os ecos do tempo e da morte ( a cidade)... a pensão "frios muros como os de uma prisão." Retrato /
caricatura do Sr. Machado. Este não confia na moral dos professores.
·
Já no quarto, tenta dormir... mas começa a recordar "os
silêncios da aldeia", a morte do
pai, - pela vindima (tradição da reunião da família).
·
O tempo da escrita: "E agora que escrevo esta
história à distância de alguns anos, exactamente neste mesmo casarão em que
tudo se passou...", na casa de família, datada de 1761 ou 1767 (29)
·
A história da família na
aldeia beirã e a história de Alberto Soares, em Évora
·
A família:
- O pai,
Álvaro: médico
- A mãe, Susana /Suse
- Tomás, o
agricultor, casado com Isaura, com uma ranchada de filhos; o preferido do pai
por ser o mais sensato
- Evaristo (e Júlia), fisicamente em contraste:
o mais novo, sempre bem disposto, o preferido da mãe
- O monge, Alberto
(narrador-personagem), professor, poeta...
, não era crente
·
Relembra a mesa oval (16...), a ceia e comenta: "O que é vivo, o
que é real é aquela ceia vulgar, com uma sopa, vários pratos, doces e uma
necessidade de preencher os espaços de silêncio com o que há de único na hora e
não sabemos e nos foge."
Cap. 2
·
O banho na perspectiva do Sr. Machado
·
A ida ao Liceu
·
O tempo da escrita: "Conto tudo(...) à distância de alguns anos. Neste vasto casarão, tão
vivo um dia e agora deserto, o outrora tem uma presença alarmante e tudo quanto
aconteceu emerge dessa vaga das eras com uma estranha face intocável e
solitária. Mas os elos de ligação entre os factos que narro é como se se
diluíssem num fumo de neblina e ficassem só audíveis, como gritos que respondem
na unidade do que sou, os ecos angustiantes desses factos em si - padrões de
uma viagem que já mal sei." (22)
·
A chegada à porta do Liceu e nova evocação do pai: a escolha da
profissão (22,23) - as leituras, os versos, a velha tia Dulce (o álbum ); o
diálogo sobre a identidade: Eu o que é
que sou?
·
A aparição do Liceu: "Repetia-se no Liceu a Universidade de
Coimbra..." - o ar de ruína, a manhã despovoada, "um empregado escuro
olhou-me vagarosamente, longo bigode caído, olhos redondos de pasmo como os de
um retrato egípcio." (24)
·
O retrato do reitor: evoca-o sob a forma de apóstrofe. (25)
·
Os exames de segunda época... o reitor anuncia a Alberto que o Dr.
Moura quer encontrar-se com ele.
Cap. 3
·
O encontro de Alberto Soares com o Dr. Moura no café Arcada (espaço
social), em dia de mercado. (27)
·
A família Moura:
-
O Dr. Moura: um sujeito gordo, baixo, ensacado..., bela voz de tenor;
crente
-
Madame Moura: abundante senhora, loura por antiguidade
-
Ana - a insegurança (33); leitora dos versos de Alberto (2 livros)
-
Sofia, que fazia versos, procurava seguir Direito, mas reprovava a
Latim... (retrato, 31)
-
Cristina, com sete anos: "súbita aparição" (35) ... a criança
-
Alfredo Cerqueira, marido de Ana
-
E ainda Chico (34): não concordava com o teor dos versos de Alberto
·
O narrador interrompe a narração para se dirigir a Sofia (29): "À
luz do meu Inverno, eis que te lembro... O mesmo acontece com Cristina (31):
" E conheci-te, Cristina...)
·
O jantar em casa do Dr. Moura: as perguntas sobre os projectos de
Alberto;... o comentário sobre a arte:
"Mas a arte não era para mim um mundo de letra
impressa, uma estúpida invenção de passatempo ou de vaidade: era uma comunhão
com a evidência, uma reencarnação na verdade de origens..." (32)
O virtuosismo de Cristina; o
canto do Dr. Moura e de Sofia (37)
·
Alberto oferece-se para ensinar latim a Sofia
·
Alberto sai com Chico / engenheiro que considerava Évora uma cidade
"absurda, reaccionária"... uma cidade hostil: "Évora era a
Quaresma e Lisboa o Carnaval". Tinha o projecto de organizar uma série de
conferências na Harmonia. E convida
Alberto.
·
A ideia de fazer uma conferência alvoroça Alberto (39). Foi este projecto que esteve na base: E foi isso que desencadeou toda a história
que narro.
E todavia como é difícil explicar-me! (23,39) As palavras
aprisionam-no, ocultam a evidência. Para atingir a evidência,
Alberto procura o estado de graça. Esta procura da sua condição,
leva-o novamente ao passado, ao desejo de reencontro com o pai...
·
Evoca
o acto de vestir o pai defunto (39,40)
·
" A estúpida inverosimilhança da morte" desencadeia um vasto leque de interrogações sobre a realidade profunda da pessoa... Derrubada a casa, a intimidade que lá havia
também morre. (40,41)
·
Reflexão sobre o início e o fim de: Deus, a imortalidade, a
ideologia política, a sedução (de uma obra de arte / de uma mulher)
-
"Deus se me gastou... é absurdo."
-
"A simpatia das mulheres que aborreci."
-
"As anedotas da infância já não têm graça nenhuma."
·
Todavia, "sinto a evidência de que sou eu que me habito, de que
vivo..." (42)
Cap. 4
·
Problema: justificar a vida em face da inverosimilhança da morte. O objecto da conferência:
"Nada mais há na vida do que beber até ao fim o vinho da iluminação e
renascer outra vez." (43)
·
Sobre "esta iluminação que sou eu, esta evidência axiomática que é
a minha presença a mim próprio...", o EU sabe que "isto" nasceu
para o silêncio sem fim. (44)
·
Nova evocação do pai, na beira da cova... e a progressiva perda
da identidade: a memória e depois o "nada-nada".
·
O mundo como "pequena aldeia"... (45)
·
Os retratos do álbum da tia Dulce - o retrato. Em Dulce vivia
"a fascinação do tempo, o sinal do que nos transcende." (46) O album
que a tia Dulce legou a Alberto...
·
Alberto manifesta-se contra o psicologismo:
"Mas ofendo-te, velha
mulher, aqui a desvendar a tua "psicologia" - eu, que detesto como um insulto essa coscuvilhice das minudências
íntimas, esse ofensivo desmontar de relojoaria como se o ser humano fosse um
brinquedo.
Cap. 5
·
As explicações de Latim: 4ª e sábado.
·
Sofia interroga Alberto: Porque há-de a vida ter razão sobre
nós? (48)
·
Para Sofia, havia "dias em que é absolutamente necessário que eu não saiba!"
·
Uma visita pelo Alentejo com o Dr. Moura... (51)
·
O Dr. Moura "narra" episódios da vida de Sofia (51-52),
desejando que ela case...
·
Prolepse " Mas agora que morreste de uma morte inesperada..." (52)
·
O Sonho de Sofia:
"Realizar a vida num acto, num gesto, num sonho, por mais miserável que
seja. (53)
·
A história do homem de pelico - Bailote, o semeador bíblico - que
perdera a "mão" para semear... e acabou por se enforcar. (54-56)
Cap. 6
·
O "fim" do Bailote deixa marcas em Alberto e no Dr. Moura e,
sobretudo, perguntas: Pensar, reflectir, como?; Que fazemos nós na vida?
·
A necessidade de fazer a conferência aumenta: "O mundo
aparecia-me sob a forma de uma absurda estupidez. (...) Era absolutamente
necessário que a vida se iluminasse na
evidência da morte." (58)
·
Alberto reflecte sobre a morte.
·
Alberto procura Chico porque quer na conferência falar da: descoberta de uma aprendizagem. (59)
·
O Carolino, aluno de Literatura, de Alberto... Alberto fala com
Carolino sobre a fúria de revelar: Quem sou eu? Narra (analepse) uma
outra experiência, quando era miúdo... "o ladrão do espelho do guarda-fato" (63)
·
O papel do espelho: "
Eu, porém, relembrava o meu susto à presença de alguém que agora sabia ser eu, (...) uma pessoa." (64)
·
Alberto imaginava o busto de Florbela
(...) agora meditando sobre o seu pesadelo. (referência literária) (70)
·
Chico rejeita o pensamento de Alberto: A única verdade a conquistar é a de que todos os homens têm direito a
comer.(65) O que Alberto rebate: O
meu humanismo não quer apenas um bocado de pão; quer uma consciência e
uma plenitude.
·
Carolino, o Bixiguinha,
revela um modo grotesco de colocar o problema do sentido da vida.
Cap. 7
·
O episódio, em casa de Chico, com o Carolino tornou-se conhecido dos
Cerqueiras, via Chico. Ana quer falar com Alberto - a propósito da
"galinha" de Carolino? (70)
·
Alberto conversa com Sofia, numa noite de chuva invernosa.
·
Alberto retoma a meditação sobre a vida: O passado não existe.
Assim me acontece às vezes que toda a minha vida de outrora se me revela
ilegível: o que a forma não são factos, sentimentos que se analisam ou
reconheçam, mas os ecos alarmantes de um labirinto onde a chuva, o sol ou o
vento repercutem e quase criam uma estranha vibração..." (71)
·
Alberto refere-se à acusação frequente de que seria
"retórico". O equívoco da
"retórica", presente em todos os autores... " a minha retórica
vem do desejo de prender o que me foge, de contar aos outros o que ainda não
tem nome e onde as palavras se dissipam com névoa do que narram."(72)
·
A lição de Sofia - novo retrato - toda de preto..., o olhar, as mãos...
O escritório privativo de Sofia...
·
Sofia põe em causa a coerência de Alberto (74), porém rejeita-o,
fazendo-o sentir-se miserável... (75) Sofia mostra que a descorberta feita por
Alberto não era nenhuma novidade para si... ela seria uma alma gémea... (76)
·
O narrador comenta a descoberta de Sofia e refere-se ao conceito vida
real: " A vida real não eram as
leis dos outros e a sua sanção e os eu teimoso estabelecimento de uma
comunidade para o furor de uma plenitude solitária. O absoluto da vida, a
resposta fechada para o seu fechado desafio só podia revelar-se e executar-se
na união total com nós mesmos, com as forças derradeiras que nos trazem de pé e
exigem realizar-se até ao esgotamento." (76-77)
·
O "último amor de dois condenados à morte" - Alberto / Sofia
Cap. 8
·
Alberto sai de casa de Sofia. Deixara de chover. Percorre as ruas da
cidade sob o impacto da relação que mantivera com Sofia e que lhe deixou uma
sensação de isolamento e de condenação.
·
Alberto caracteriza-se como "velho Fausto".
·
Alberto volta, sôfrego, a casa de Sofia, que também o esperava.
·
A cumplicidade de Madame Moura.
Cap. 9
·
Narrador, ao caminhar pela cidade, reflecte sobre a capacidade de
seguir um caminho sem se perder... (83) e define o caminho como: Um caminho é "o" caminho em cada
instante que passa.
·
Descrição do mercado domingueiro (feira da ladra), junto a S.
Francisco. (83-84)
·
Alberto encontra Cristina que lhe anuncia que Ana está doente.
·
Alberto visita Ana. Descrição da casa - a presença do passado. (85)
·
Ana interrompera o curso de Letras para casar. Ana interroga Alberto
sobre o que se passa entre ele e Sofia.
·
Alberto imagina-se o Messias... para Sofia e também para Ana (86)
Imagina que veio derrubar os antigos mitos (ídolos).
·
Alberto para quem " ensinar é só confirmar. (87)
·
Alberto explica como deixou de aceitar a existência de deus - ver
antecedentes familiares: avô, pai, irmão; excepto a mãe.
·
Entretanto, Ana
pergunta-lhe: "Porque é você tão pantomineiro?" (91) E explica
"tudo comédia, tudo comédia", porque quem tem necessidade de rejeitar
deus é porque está viciado nele.
·
Ana desengana Alberto sobre Sofia.
·
A família do Bailote decidiu processar o Dr. Moura. Entretanto, Alberto
revolta-se intimamente contra Ana. (93).
·
Surge, entretanto, em casa de Ana - Chico. Ana continua a provocar
Alberto, chamando-lhe cobarde.
·
O jantar. (96) Ana e + Alfredo e Chico. O narrador descreve, sobretudo,
a comunicação não verbal visual, onde afloravam a cumplicidade entre Ana e
Chico; a interrogação e a suspeita de Alberto; a surpresa de Alfredo. (97)
·
Alberto coloca-se no "lugar" de Ana e de Chico... tenta
imaginar os outros através do ponto de vista deles ( retrato físico de Alberto,
98) Isto enquanto Chico lastima a ausência de Ana da reunião do Comité de Salvação, que, de facto, não
existia..., apesar de reunir tendo como objecto o "inimigo" -
Alberto... O objectivo do Comité
de Salvação era, nas palavras de Alfredo: "redimir o homem de hoje,
preparar o de amanhã..." (99)
·
Confronto ideológico entre Chico e Alberto. Alberto pretende: Adequar a vida (que é um pleno de ser, um
absoluto, uma positividade necessária) com a morte (que é uma nulidade
integral, uma pura ausência, um nada-nada). 100
·
Alberto considera-se "materialista".
·
Alberto deixara de ser crente há sete anos. Chico sempre fora ateu.
Para ele, a humanidade futura devia ser
puramente ateia. (102)
·
Na despedida, Chico responsabiliza Alberto "por tudo quanto acontecer."
(103)
·
Nova descrição da cidade... "a minha exaltação figurava-a
morta". (104)
Cap. 10
·
Alberto no Liceu experimentava, com entusiasmo, novas técnicas. A vida
no Liceu.
·
O reitor dialoga com Alberto ao longo do jardim. Aconselha-o a mudar o
tema das redacções. (107)
·
Alberto sente que não pode falar aos alunos da "realidade
sociológica", optando por falar-lhes do "mistério obcuro da
vida" (108)
·
Alberto identifica-se com Camões: "Eu sabia que a memória
de Camões, para além dos olhos e da carne, era a minha memória de origem, a
minha memória absoluta." (109)
·
Alberto, nas suas aulas, fala de Proust, de Rousseau...mas distingue a
sua memória da destes autores: A minha memória não tinha apenas factos
referenciáveis, não exigia a sua recuperação para que o halo se abrisse. A
minha memória não era memória de nada. Uma música que se ouve pela primeira
vez, um raio de sol que atravessa a vidraça, uma vaga de luar de cada noite
podiam abrir lá longe, na dimensão absoluta, o eco dessa memória, que ia para
além da vida, ressoava pelos espaços desertos, desde antes de eu nascer até
quando eu nada fosse há muito tempo para lá da morte. Visão de uma alegria sem
risos, de uma plenitude tranquila, ela falava de um tempo imemorial como as
vozes oblíquas da noite e do presságio. A presença imediata esvaziava-se e o
que ficava pairando era um tecido de bruma
de nada, canção sem fim, harmonia ignota de paragens sem nome. (109)
·
No final da aula, Carolino procura falar com o professor,
confessar-lhe: "Já uma vez me vi." (111) O prof. leva-o a dar uma
volta pelo campo. Carolino fala sobre a
banalização / destruição das palavras... sobre "o homem é que é deus porque pode matar," porque já não há
deuses. (113) Digo é que matar é igual a
criar. Carolino legitima o assassino. Carolino mata uma galinha e
fica estupefacto.
Cap. 11
·
Férias de Natal. A evocação do tempo original: a neve, a música
"da idade do destino dos homens" (118), a montanha: o apelo da
montanha; um coral longínquo...Messias.Haendel,
expressão do sonho a amargura milenária, cantado por todos os povos da terra...
·
A chegada a casa. A mãe está alheada. Na casa é o silêncio. Da janela
avista-se a montanha: Toda selada
de neve, a montanha brilha até aos píncaros mais distantes.(121) Aquela
noite fá-lo recordar outra noite há
cerca de 20 anos..., - analepse - numa tarde de Junho.... o cão Mondego:
só, mas entre o Mondego e Alberto estabeleceu-se "uma comunicação" de
pessoa a "pessoa" (123)
·
Analepse: 1º contacto com a morte - Na noite de Natal, " o cão
enforcado no arame"(125): "Mas
justamente para mim o que era evidente não era a morte, era a vida."
Mais tarde, Alberto acaba por afirmar: A
morte do Mondego irmana-se à do meu pai.
Cap. 12
·
Tomás visita Alberto na casa da montanha para combinar o local da ceia.
O 7º filho está para nascer. Breve referência ao velho (comilão) e ao novo
(beato) pároco. A mãe está adoentada. Breve retrato dos sogros de Tomás - Sr.
Paulino e D. Ermelinda...
·
Tomás fizera um "bom casamento". A mãe não quer consoar fora
e Alberto decide ficar com ela.
·
Tomás refer as partilhas. Decisão. (130)
·
A ceia foi lúgubre.
Cap. 13
·
A igreja, o adro, um cerco de casas negras... na encosta da serra...
·
Alberto reflecte, enquanto espera pelo fim da missa de Natal: O que me seduz no passado não é o presente
que foi - é o presente que não é nunca. O que sonho nestes cânticos não é a paz
do passado: o que sonho é o sonho. (131-132)
·
A concepção de vida de Tomás. Ser
crente reduz a capacidade de ouvir a música... O crente canta não ouve...
·
A saída da missa... a face materna acusa-os ( Alberto / Tomás) de
irreligiosidade...
·
Alberto reconhece, porém, que continua preso desse mundo materno... que
os ecos dos coros o perseguem...(133)
·
Nova descrição da casa - o tom:
negra, suspensa do augúrio de longas eras, solitária no enorme silêncio branco
(133)
·
Alberto interroga Tomás: Tu és
feliz? (...) Nunca pensaste na morte?
Opondo-se a Alberto, Tomás rejeita a
solidão do EU:
"Outras partes de mim estão em outro lado e são os filhos que dormem, ou
os trabalhadores com quem falei, ou a terra que ajudei a trabalhar. E é como se
eu fosse só uma parte de qualquer coisa muito grande que vai para além das
pessoas conhecidas e chega às pessoas conhecidas dessas e a outras e para o
passado e para o futuro." (134)
·
A casa de Tomás - uma vasta
quinta dos sogros... / descrição (135)
·
Tomás confronta Alberto com uma das suas ideias:
" Tu disseste que era diferente, que
vermo-nos não era vermo-nos nos outros." (136) Tomás mostra-lhe "
A minha vida é única, é um
"milagre", como tu dizes. O nada absoluto da morte me atordoa. Mas eu
sei que para além de mim há a vida e que a vida não morre." (137)
·
O almoço de Natal em casa de Tomás - um espectáculo extraordinário para
Alberto. A tranquilidade de Tomás e Isaura no meio da balbúrdia das crianças.
·
Os três irmãos - Tomás, Evaristo e Alberto -, nas pedras da mata,
discutem as partilhas, embora Alberto se deinteressasse do assunto...
Por causa das partilhas, Evaristo acabou por cortar relações com os irmãos...
Cap. 14
·
Alberto regressa a Évora... e anuncia que " a minha história espera-me mais terrível do que nunca, disparando para
o seu fecho. " (143)
·
Novamente, Manuel Pateta "leva a mala" - o mesmo retrato da
pág. 11. Entretanto, o carregador anuncia-lhe que a pensão do Sr. Machado
fechara. Seria comunista?
·
Alberto instala-se na pensão Eborense. Entretanto, decide tirar
a "carta"e alugar a casa do Alto de São Bento: o vento da planície e os meus olhos perdidos na lonjura... (145)
·
Procura, ávido, Sofia... esta não respondera às suas cartas... Sofia
não estava em casa. Entretanto, Alberto encontra Ana e Alfredo.
·
Descrição contrastiva de Ana e de Alfredo... Este é ridicularizado...
·
Entram todos no café Lusitânia.
(146-152)
·
Sofia entra no café (148), acompanhada do Chico e do Carolino.
Carolino, agitado..., "próximo" de Sofia; Chico despreza Alberto...Analepse: a
história da pensão do Sr. Machado ( em que homens dançavam uns com os outros)
·
Chico troça da problemática
de Alberto: o espantoso milagre de estar
vivo e o incrível absurdo da morte, (151) propondo-se dar aos homens: pão e orgulho (...) deles mesmos. Para não consentirem que lhes ponham a pata em cima.
·
Sofia é cruel com Alberto.
Cap. 15
·
O reitor chama Alberto para o avisar de que não pode dar
"lições" particulares e que tivesse cuidado com os inimigos...- a carta
anónima... (154)
·
Alberto caminha pelas ruas de Évora, descreve o espaço citadino, a
planície..., descreve a catedral... toca novamente à porta de Sofia que tinha,
agora, Carolino como explicador...
·
Alberto fala com Madame Moura, que observa atentamente, nomeadamente os
sinais não verbais por ela enviados (156-157)... evoca o piano de Cristina, o
seu virtuosismo... anuncia / interroga o
destino de Cristina:
Sê viva sempre, Cristina. Sê grande e bela. Deuses! Porque a traístes? Eu te guardo agora como um
perene nascimento, como a memória sufocante de uma verdade inacessível.(159)
·
A rotina de Alberto: as aulas e as lições de condução; a vagabundagem
pela cidade... O renascimento da cidade sob o signo da mecânica
·
A descrição matinal da cidade. Ver relação possível com o poema Num
Bairro Moderno, de Cesário Verde.
·
Entretanto, Alberto não vê Sofia durante longo tempo. Tira a carta e
prepara a mudança de casa. Acaba por encontrar-se com Sofia, a convite desta,
no museu.
·
Sofia anuncia que Alfredo quer / receia convidar Alberto para almoçar
na Sobreira. E alude ao Eterno Marido de Dostoievski...
·
Alberto convida Sofia a experimentar o seu carro... O passeio (163) orientado por Sofia. O desejo
descontrolado de Alberto e a vontade própria de Sofia. Alberto interroga Sofia
sobre o que se passou nas férias de Natal...
·
Sofia caracteriza Carolino (164) Decidira dominar / conquistar Carolino ( uma inocência!) e ao mesmo tempo
Alberto... fora ela que denunciara Alberto ao Reitor.
Cap. 16
·
Ida à quinta da Sobreira (na
estrada do Espinheiro). Alberto já tinha ido com Alfredo áquela herdade, porque Alfredo gostava de levar os amigos às
herdades, mostrar a sua familiaridade com os camponeses. (167)
·
Descreve uma casa de estilo colonial. Uma piscina vazia no
terreiro / Uma mulher estéril (Ana).
·
Estão presentes: Alfredo / Ana; Chico; Sofia / Carolino; Alberto.
·
A visita à pocilga ( o mundo de Alfredo!)... a cumplicidade de Sofia; a
hostilidade de Carolino...
·
Diálogo entre Ana e Alberto... que insinua que ele é impostor. O
que Alberto rejeita: Mas só há impostura
quando há público. E o que eu procuro é ser público de mim próprio. (170)
·
Alberto dá uma nova imagem de Chico: desfigura-o. As conferências já não se realizam. Por
outro lado, desvirtua o alentejano: Expandi-me
sobre a cultura, sobre a grossa obstinação do alentejano, a sua encasmurrada
negação a que uma ideia o perfure e a sua gorda bazófia disso, encardoada a
riso rouco, esse riso que vem do estômago, esse riso pançudo. (171)
·
Chico e Alberto discutem o conceito de cultura, assim como o seu
destinatário...
·
Alberto e Carolino enfrentam-se (indirectamente) por causa de Sofia.
(172-173)
Cap. 17
·
Alberto instala-se na casa do Alto. Descrição do local. Vista
panorâmica da cidade e da planície.
·
Define "homem": só se é
homem assumindo tudo o que fale em nós. (176) Diverge do conceito
"prático" de Chico. Situa-o no grupo dos utilitários.
·
No meio da livralhada, Alberto descobre o álbum da tia Dulce. Personifica o álbum. Reflecte: O que mais me perturba é pensar que o rasto
dessa gente está suspenso em mim. Porque
eu tenho ainda uma pequena notícia da sua vida, o eco apagado do que foi a
massa complexa do seu ser e sentir. (177)
·
O destinatário da escrita: Não
escrevo para ninguém, talvez, talvez:
e escreverei sequer para mim? O que me arrasta ao longo destas noites, que, tal
como esse outrora de que falo, se aquietam já em deserto, o que me excita a
escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de
perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em
mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser , escrevo para segurar
nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu. (179)
·
Nova reflexão sobre a presença
obcecante de mim próprio. ( ...) Um
acto de presença não se define, não cabe nas palavras.SOU. (180)
·
É visitado por Ana; por Sofia... / escreve no luar verde de Março,
na montanha... minha mulher dorme (181)
Cap. 18
·
A. dirige-se a Cristina. As cegonhas. Carnaval. Ida ao Redondo.
·
Descrição da viagem. Allberto gosta da planície na Primavera. Sofia, em
Agosto... terra calcinada, deserto
estéril (...) o teu destino de
desastre, Sofia... (184)
·
Para Sofia, o Alentejo era
trágico, não lírico, só a praga, a blasfémia ardente o exprimia.
·
A celebração da mimosa.
·
Carolino reservara uma janela de família donde podem ver a festa
de perto. Descrição do "desfile" grotesco... para Alberto. Alfredo
entusiamou-se...
·
Carolino oferece o lanche... ciumento de Alberto / Sofia... (187)
Alberto declara nunca ter amado Sofia.
·
Regresso a Évora, à noitinha. Alfredo bebera demais...
·
O acidente: Cristina não
dá acordo de si... (188) Alberto leva-a para o hospital... O Dr. Moura -
desagravando o Senhor dos pecados do Carnaval - entretanto, cantava no coro...
·
A morte de Cristina... (191)
Cap. 19
·
Alberto, após o enterro de Cristina, queria visitar Ana, ajudá-la na
sua amargura... Porém, toda a família Moura saíra da cidade... Ficara só... a chuva
voltou...
·
Carolino, surprendentemente, visita Alberto. (194) Rejeita o tratamento por
"tu". Declara: Sei tudo...Sei
tudo... E começa a gritar que é um "homem livre" e não um trouxa,
que "tem o mundo nas mãos". Ameaça... e Alberto teme que Carolino
tenha endoidecido... Carolino considera que é Deus, e que pode destruir tal
qual como Deus construiu. (196) Sente-se rejeitado por Sofia por causa de
Alberto. Ataca Alberto com uma navalha, que inesperadamente lhe domina o
pulso, e o esbofeteia ... Carolino desatou a chorar convulsivamente...
·
Alberto
rejeita a culpa... e Carolino, num assomo de orgulho precipitou-se para a
rua...
Cap. 20
·
Entretanto, Alberto não encontra ninguém a quem contar o que se passou.
Chico partira para o Algarve. Os Moura não atendem.
·
Reflexão sobre a relação professor / aluno: Às vezes encontramo-nos numa comunidade de interesse (...) de surpresa. Mas a surpresa é só uma vez. Depois fica a repetição e o enfado.E para o enfado os moços têm uma defesa, que
é a inquietação do sangue, a astúcia, a indisciplina... (201)
·
O Reitor chama Alberto para lhe manifestar que não deseja que ele
continue em Évora... (203), e referindo-se ao "mal" dos meios
pequenos... considera Sofia "louca", Carolino "tolo"...
Sobretudo, deseja preservar o nome do Liceu...
·
Embora todos soubessem na cidade o que se tinha passado, ninguém o
interrogou directamente...
·
Alfredo dirige-se a Alberto, quando este se isolou junto a um riacho na
estrada de Alcáçovas.... Alfredo conta que levara Ana para a Serra da Estrela -
Penhas da Saúde -, e para a Praia da Rocha para esquecer a morte de Cristina...
Entretanto, na Praia da Rocha, Ana mandou Chico bugiar... (206) Sofia partira
para Lisboa, fora para uma casa de freiras para tirar a "Admissão"...
·
Alberto reflecte (207) sobre: o
que define a minha necessidade
... o que é uma
"autenticidade"?
·
A chuva volta a cair insistentemente. Alberto entra
instintivamente na Sé (descrição da conjugação da trovoada com o
interior da Sé). E de repente, Alberto
descobre Ana (209) que procurava a paz de espírito... desistir do combate:
Destruiam-se com o seu protesto, mas recusavam-se a renegar o seu
destino, morriam no combate, mas não pretendiam salvar-se fugindo desse
combate. Mas Ana fugia, eu o pensava dolorosamente, eu o via absurdamente,
opacamente, como um muro. (211)
·
Na presença de Ana, Alberto vê-se submerso por uma memória envelhecida de
cera, de água benta, de meninos de coro, de beatas, de novenas, de
indulgências, de confessionário...
·
Ana evoca a presença de
Cristina... parece querer acreditar na grandeza
de Deus, ao que Alberto replica que essa
grandeza é sua, é nossa, nós a
descobrimos, a arrancámos do nosso pobre barro. Porque o barro é nosso, é o
barro da terra. (213) Ana assume
a existência de uma outra dimensão...
·
Que pensará Chico desta conversão?
Cap. 21
·
Alberto sente que duas verdades
vividas não podem talvez estabelecer um diálogo. (215)
·
Chico,
num domingo de manhã, bate à porta de Alberto. Revoltado, querendo saber se no
próximo ano lectivo Alberto voltaria para Évora...
·
A acção política do Comité de Salvação: dava apenas oportunidade de uma conversa livre, leitura e comentário
de papéis clandestinos, de um revigoramento de esperanças para o futuro
político do País, esperanças boas para um fim de semana e uma noite tranquila.
(216)
·
De acordo com Chico, Ana chegara ao extremo de repetir
Alberto... da sua mixórdia
irracionalista, dos seus sofismas, da sua perversão... (218)
·
Alberto argumenta que o caminho de Ana não era o seu: Ana viu. Foi ela que mo disse. Tentei
reconduzi-la: não era aquilo, não era aquilo. Ana regressou. Nunca sonhei
regressar. (219)
·
Chico, sem se despedir, sai para a cidade...
Cap. 22
·
Férias da Páscoa. Passeia. Toma a estrada de Sintra. Aqui, Alberto
interroga-se: Que maldição pesa sobre a
assunção do nosso destino? Define Sintra como " um túnel de
sombra como uma igreja." (222)
·
Evoca Mafra, o convento gordo, devasso e ruinoso dos pobres...
·
Esta viagem é feita sob o signo de uma interrogação: O que é que fazes para o atingir? (o
querer, o sonho). (Alberto não se identifica com a mensagem pessoana.)
·
No mirante do Ocidente (pensão, na Areia Branca), sinto-me bem.
·
Alberto: A minha procura é a
primeira, a que está antes de todas, a que encontre para este corpo mortal...
(223)
A VIAGEM
Évora
Lisboa Sintra Mafra Torres Vedras Areia Branca ( a pensão sobre o
mar) .... São Martinho Nazaré
(Que ilusão! A busca indefinida é do destino do homem. Sim. Mas outra busca, depois desta.) Leiria Figueira
Aveiro Porto Praia de Âncora, onde marcara uma
pequena entrevista consigo...
... capelas românicas: a de Bravães, a de S.
Pedro de Rates, Ferreira, Roiz
De Amarante a Vila Real - a serra do Marão:
ressoa à hora original do meu destino, do
mundo inicial da minha aparição, aberto a terrores de grandes córregos, de
vastas superfícies nuas, de silêncios suspensos de nevoeiros. (224)
" Desço então à minha aldeia."
·
Reencontra a mãe. Num mundo
esranho: Reconheço-a fechada como se um
muro a rodeasse e fico de fora olhando. (225)
·
Alberto erra pela aldeia, sente o mundo novo... Tomás
tem mais um filho...
·
A Páscoa de convivência, da natureza... Ah que a tua absurda verdade fosse a minha razão cheia quando a
quisesse; e que a tua verdade natural fosse a minha verdade ignorada, táo
ignorada e viva que, quando eu a quisesse provar, as razões fossem demais
(...) Há alguma coisa então em mim que é
daqui?... (225-226)
Cap. 23
·
O Verão explosivo em Évora.
·
Alberto visita a estátua de Florbela Espanca, errando pela cidade e
pela planície.
·
Alfredo dá-lhe notícia do mundo "moura"... breve interrogação
sobre a "tolice" ou a "astúcia" desta personagem.
·
Descrição do "caixa" do banco...
·
Alfredo e Ana tinham ido para a "Bouça" - herdade. Sofia
também lá se encontrava, depois dos problemas que arranjara em Lisboa, e de se
ter tentado suicidar... Alfredo conviada Alberto a ir à Bouça...
·
Num dia de intenso calor, Alberto vai à Bouça... depois de dar conta da
"falta de convicção" que o ataca enquanto professor... (232)
·
Durante a viagem, Alberto reflecte: Agora
como nunca, uma condenação pesa em mim de solidão ofegante, de blasfema aridez,
nesta insólita marcha pela terra abandonada, fervendo em silêncio, amadurando
em suplício o grão da minha fome." (232-233)
·
A chegada à herdade - a ceifa
- fá-lo olhar para: Diante de mim, em
fila, como em marche de penitência, homens e mulheres, cosidos com a terra,
ceifam uma terra. E na minha carne incendiada uma memória
antiga de uma fraternidade esquecida arde com essa gente fulminada pelo sol.
Mas não vos traio, amigos, se outra aflição à espera se me levanta após a fome
saciada. (...) Mas agora sois só os
escravos da maldição - maldição dos homens que se enojam de ter as vossas
tripas, os vossos ossos, e se revolvem a inventar-vos diferentes e se inventam
uma cumplicidade do céu, com deuses do seu partido e da sua violência. Eu vos amo até na vossa barbaridade, flor
bárbara da vossa condição. ( ...) A
fome da nossa condição não se esgota num estômago tranquilo... (233,
234, 238)
·
Para surpresa de Alberto, Ana e Alfredo tinham adoptado os dois filhos
mais novos do Bailote.
·
Alberto compara Alfredo a Tomás: Tomás está além como tu estás aquém de toda a minha
angústia. (235)
·
Alfredo age de modo a demonstrar que não é "parvo". E de
acordo com Alberto, tanto Tomás como Alfredo
colocam-se numa linha de eficácia. ( 235) Embora Tomás seja
inverosímil e Alfredo, "pobre tonto"...
·
Ana retirava-se definitivamente da "angústia" de Alberto.
·
Alberto insurge-se contra a música "resignada" dos ceifeiros.
(238)
·
Sofia - relação de distanciamento com Alberto...
·
Alberto regressa com Sofia à cidade... Sofia considera Ana
"cobarde" ao jogar a vida numa solução... e considera que a
sua solução : tenho a de não ter.
Assumo a vida toda sem sofismas. Sou
corajosa e não tenho ilusões. (239)
·
Sofia manda parar no "sítio do desastre de Cristina". (239) E
começou um cantar da Beira Baixa, escuro,
antiquíssimo (...) na grande noite
luar. Pede para ir a casa de Alberto. Relação sexual - "Sofia
apoderou-se de mim". Depois contemplaram as estrelas... Alberto mostrava o
seu saber sobre os astros... Sofia voltou mais vezes para depois quase o
ignorar...
Cap. 24
·
Alberto toma conhecimento da suposta morte de Chico. (243) Afinal,
estava enfermo... e sentia-se humilhado por isso... Chico considera o doente um
ser decadente... e nesse contexto, pode falar-se da sua condição de vencido.
(246)
·
Entretanto, Ana evolui para crente... (244) Chico também a
sentia distante... resignava-se...
·
Alberto pretende incluir a situação
numa problemática de vida...
·
O sonho de Alberto: apelando para a integração do que sempre se olvidava, do que sempre
aparecia como um sinal de degradação, de fraqueza, de miséria, ao sonho
invencível - lúcido ou ignorado - para a condição do homem, de uma condição de deus... (246)
Cap. 25
·
A feira.
Dia de S. Pedro. Évora discute o triunfo do silêncio.
·
Alberto evoca o Reitor - grande beberrão, sobretudo, no Verão...
·
Ana tem novos amigos...
·
Sofia continua a encontrar-se com Carolino...
·
Um telefonema para o Liceu, acusando Alberto de ser o único responsável...
·
No dia seguinte, Sofia apareceu assassinada a punhal junto do Chafariz
de El-Rei.
Cap. Final
·
Alberto foi colocado em Faro.
·
Entretanto, Chico considera Alberto responsável pelo crime de
Carolino... (251).
·
Alberto aceita a responsabilidade de tudo porque aceito a responsabilidade da minha vida
·
Alberto volta em Setembro, despede-se do Reitor - na sala 8.
Em Évora / Redondo / Bouça |
Na terra natal |
A viagem / a terra natal |
·
Cap. I ao X (1º P) ·
Cap. XIV a XXI (2º P) ·
Cap. XXIII |
·
Cap. XI, XII, XIII ( Férias de Natal) |
·
Cap. XXII ( Férias da Páscoa) |
Leitura
do romance APARIÇÃO
1.
Que factores terão contribuído para que Alberto se tenha tornado
professor de Latim e de Português?
2.
Como é que a insegurança de Ana se manifesta?
3.
Alberto escrevia prosa ou poesia? Quantos livros publicara?
4.
Que retrato é que o Autor traça dos eborenses?
5.
O que é que em Cristina emocionou tanto Alberto?
6.
Que motivos é que Alberto aponta para a sua descrença?
7.
Essa descrença não é, no entanto, total. Porquê?
8.
Mostre que o Dr. Alfredo e Alberto têm diferentes concepções de vida.
9.
Para onde caminham os homens que habitam a "pequena aldeia" /
mundo?
10. Qual é o significado do TER
nessa "pequena aldeia"?
11. Que opinião terá Alberto
sobre a escrita "naturalista"?
12. Como é que se manifesta no
romance "o sinal do que nos transcende"?
13. Explique o sentido da
pergunta de Sofia: Porque há-de a vida ter razão sobre nós?
14. Descreva o sistema de valores
do Sr. Machado.
15. Caracterize o comportamento
de Sofia durante a infância e a adolescência.
16. Que sentido é que atribui à
"história" do Bailote?
17. Comente a seguinte ideia de
Alberto: "Um homem só é perfeito, só
se realiza até aos seus limites, depois de a morte o não poder surpreender."
18. Como é que o Eu - Alberto se
descobre alguém?
19. A certo momento, Alberto
refere-se ao pesadelo de Florbela. Selecciona informação sobre esse pesadelo.
20. O que é que divertiu tanto o
Cerqueira e deixou Ana perturbada - episódio com Carolino?
21. A que equívoco da
"retórica" se refere o narrador? Como é que ele explica a sua
retórica?
22. Como é que o narrador define
a vida real?
23. Mostre que essa definição
parte da rejeição da concepção de vida
real neorealista.
24. Alberto a certo momento
define-se como "velho Fausto".
Selecciona informação sobre o "mito de Fausto".
25. O que é que narrador pensa
sobre a possibilidade do homem escolher um caminho e percorrê-lo até ao
fim.
26. Que semelhança é que existe
entre a vida e a feira da ladra?
27. Em que medida é que podemos
aceitar Alberto como personagem messiânica?
28. Qual é o conceito de ensino
de Alberto? Concordas com ele? Porquê?
29. Porque é que Ana classifica
Alberto de "pantomineiro"?
30. Quais são os
comportamentos não verbais de cada uma das personagens presentes no
jantar em casa dos Cerqueira?
31. Qual era o objectivo do
"inexistente" Comité de
Salvação?
32. Porque é que Alberto era o
"inimigo" deste Comité?
33. Mostre que a concepção de
vida de Alberto é antagónica da de Chico.
34. Explique o conceito de
materialismo de Alberto.
35. Porque é que o Reitor
aconselhou Alberto a alterar o tema das redacções?
36. Porque é que Alberto não
podia falar aos alunos da realidade sociológica?
37. Que relação é que Alberto
estabelece entre si e Camões?
38. Relembra a redondilha: Sôbolos rios que vão / Por Babilónia, me
achei, / onde sentado chorei / As lembranças de Sião / E quanto nela passei...,
e tenta sintetizar o pensamento de Camões.
39. Ali, depois de acordado / Co'o rosto banhado em água, / Deste sonho
imaginado, / Vi que todo o bem passado / Não é gosto, mas é mágoa. Mostre se estes versos de
Camões podem ou não ilustrar a atitude de Alberto quando reflecte sobre o seu
passado recente ou remoto.
40. Em que aspectos é que a memória
de Alberto é diferente da de Proust ou de Rousseau?
41. Em que medida é que o
pensamento de Carolino tem origem no pensamento defendido por Alberto?
42. Que relação é que Alberto
estabelece entre a morte do Mondego e a morte do Pai? Porquê?
43. Comente o seguinte
pensamento: A neve esterilizou a vida
numa pureza excessiva e sem tempo como a de um estranho mundo de plástico, de Ersatz. ( cap. XII)
44. "A ceia foi
lúgubre." Porquê?
45. Que relação é que Alberto
mantém com a religião?
46. Explique porque é que Tomás
rejeita a solidão do EU, opondo-se desse modo ao sistema de pensamento
de Alberto.
47. Faça o levantamento dos
argumentos utilizados por Tomás para rebater a "teoria" de Alberto sobre a vida e a morte.
48. Porque é que Evaristo cortou
relações com os irmãos?
49. Como é que Alberto descreve
Ana e Alfredo?
50. Resuma os
"acontecimentos" no interior do café Lusitânia.
51. Em que medida é que a
descrição deste "par" te faz lembrar outros "pares"
descritos n'Os Maias? Indica-os e explica a intenção dos respectivos autores.
52. Releia o cap. XIV de modo a
destacar os enunciados que
melhor definam o pensamento de Alberto e de Chico.
53. O que é que Cristina
representa para Alberto? (cap. XV)
54. Pela manhã, os ruídos da cidade criavam-me os sinais com que a ainda a
relembro.
Releia os poemas Num Bairro Moderno e Sentimento dum Ocidental de
Cesário verde, e compare a imagem da cidade de Évora com a de Lisboa.
55. Compare os modos de descrever de Cesário Verde
e de Vergílio Ferreira, nomeadamente no que se refere ao recurso à frase
nominal...
56. Caracterize o comportamento
de Sofia.
57. Porque é que Alfredo gostava
de levar os amigos às suas herdades?
58. Depois de ter chamado pantomineiro
a Alberto, Ana insinua que ele é impostor. Porquê?
59. Como é que Alberto reage a
essa insinuação?
60. De acordo com o retrato do Alentejano traçado por Alberto, enuncia
os traços principais? (cap. XVI)
61. Quando Alberto e Chico
discutem o conceito de cultura, quais são os principais tópicos dessa
discussão?
62. Como é que Alberto define homem?
63. Quais são os argumentos
utilizados por Alberto para rejeitar a concepção de homem defendida por
Chico?
64. Que reflexão é que o album
da tia Dulce desperta em Alberto?
65. Por que motivo escreve o
Autor? Qual é para ele o papel da arte?
66. Qual era a marca do carro de
Alberto?
67. O que é que o Alentejo
representava para Sofia?
68. O que é que ao longo da obra
indicia a morte de Cristina?
69. Em que circunstâncias é que
Cristina morreu?
70. O que é que motivou Carolino
a atacar Alberto?
71. Que imagem tem Carolino de si
próprio?
72. Como é que Ana reagiu à morte
de Cristina?
73. Faça o retrato detalhado de
Alfredo Cerqueira.
74. A que transformação é que o
leitor assiste no XX capítulo? Como é que Alberto reage?
75. Comente o sentido da seguinte
frase: Ana regressou. Nunca sonhei
regressar. (cap. XXI)
76. Relê o poema Ao volante dum chevrolet pela estrada de
Sintra de Fernando Pessoa e verifica se a temática do poema coincide ou não
com o teor das interrogações de Alberto, quando viaja pela estrada de Sintra.
77. O que é que o Convento de
Mafra representa para Alberto?
78. Relê o poema Infante de Fernando Pessoa e mostra se
a atitude de Alberto - perante o querer
e o sonho - se coaduna com o
pensamento impresso em Mensagem.
79. No cap. XXIII, ao chegar à
herdade, Alberto reflecte sobre a condição do "trabalhador". Enuncia
as ideias principais de Alberto e explica com quem é que, de forma implícita,
ele "dialoga", opondo-se- lhe, quer no plano da ficção quer no plano
da "história dos anos 50".
80. De acordo com Alberto, o que
é que une Alfredo a Tomás?
81. Porque é que o narrador
considera Tomás inverosímil?
82. Que solução é que
Sofia encontrou para a sua vida? Como é que ela classifica a solução de Ana? Porquê?
83. Qual era o sonho de Alberto?
(cap. XXIV)
84. Em que sala é que Alberto se
despede do Reitor?
Léxico:
Aparição...
o dom da revelação... evidência... verdadeiro .... inextinguível....
grandeza... plenitude ... pureza ... interrogação... perfeito e sem excesso
(p.36)..."estado de graça"... a aparição dos instantes-limite (72)...
o milagre de sermos (77)... a dávida da evidência de si...
... neste silêncio mineral (9)
...a luz viva nas frestas da
janela, o rumor da casa e da rua, a minha instalação nas coisas imediatas mineralizavam-me,
embruteciam-me.
... o mais forte em nós é
esta voz mineral, de fósseis, de pedras, de esquecimento. (43)
Textos de Apoio
FLORBELA ESPANCA
Nasceu no Alentejo, em Vila
Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894. Estudou em Évora onde concluiu o curso dos
liceus em 1917. Mais tarde vai estudar para Lisboa, frequentando a faculdade de
Direito.
Colaborou
no Notícias de Évora e, embora esporadicamente, na Seara Nova.
Foi,
com Irene Lisboa, precursora do movimento de emancipação da mulher.
Com
a sua personalidade de uma riqueza interior excepcional, escreveu os seus
versos com uma perturbação ardente, revelando um erotismo feminino
transcendido, pondo a nu a intimidade da mulher, dando novos rumos à
consciência literária nascida de vivências femininas.
À
sua poesia revela grande intensidade lírica e profundo erotismo.
Decidiu
o "rumo" da sua vida - aos 36 anos - em Matosinhos, a 7 de Dezembro
de 1930.
|
|
Avril 1933 : La
Condition humaine, troisième roman de Malraux, paraît chez Gallimard et
recevra le prix Goncourt en décembre. Le roman évoque un moment de la
révolution chinoise situé au printemps 1927 (l'action commence précisément le
21 mars). Sa résonance pascalienne a souvent été soulignée. Malraux lui-même
écrivait à Gaëtan Picon peu après la publication du livre : « Le cadre n'est naturellement pas
fondamental. L'essentiel est évidemment ce que vous appelez l'élément
pascalien. » L'élément pascalien, c'est-à-dire l'insistance sur
l'inévitable soumission de l'homme à ce qui le dépasse ou le détruit, à
commencer par la mort, et, si cet homme n'a pas la foi - ce qui est le cas de
Malraux -, au désespoir qui en résulte, à ce que Pascal appelait la misère de l'homme sans Dieu. D'où la
question posée dans la première partie du roman : « Que faire d'une âme, s'il n'y a ni Dieu ni Christ ? 1» L'élément
pascalien, c'est aussi l'importance accordée à la pensée, en laquelle -
disait Pascal - consiste toute notre dignité. «
Qu'appelez-vous la dignité ? » demande König à Kyo. « Le contraire de l'humiliation 2.
» Mais s'il partage l'angoisse de Pascal, Malraux
ne partage pas sa foi et pour lui, «
c'est dans l'accusation de la vie que se trouve la dignité fondamentale de la
pensée ». Cette phrase met l'accent sur une dimension essentielle du
roman. Accusatrice, en effet, la misère si souvent évoquée du peuple de
Shangaï, « ceux qui travaillent seize
heures par jour depuis l'enfance, le peuple de l'ulcère, de la scoliose, de
la famine » ; accusatrices la destinée d'Hemmelrich, la maladie de son
enfant et sa mort atroce ; accusateur le tragique destin de Katow.
Accusatrice aussi la présence obsédante du sang : du sang noir qui coule le
long du poignard de Tchen, du sang répandu sur la robe de mariée de la jeune
fille qui a essayé de se suicider avec une lame de rasoir parce qu'on « la forçait à épouser une brute
respectable » ; la présence des grandes taches de sang qui attendent
Hemmelrich de retour dans sa boutique... De telles scènes disent assez que La Condition humaine est une oeuvre
violente et pathétique. Mais elle est aussi le roman de la fraternité, qui
culmine dans le don de Katow. « J'ai
essayé d'exprimer la seule chose qui me tienne à coeur et de montrer quelques
images de la grandeur humaine. Les ayant rencontrées dans ma vie dans les
rangs des communistes chinois, écrasés, assassinés, jetés vivants dans les
chaudières et détruits de toute façon, c'est pour ces morts que j'écris. Que
ceux qui mettent leur passion politique avant le goût de la grandeur où
qu'elle soit, s'écartent d'avance de ce livre : il n'est pas fait pour eux3.
» Montrer quelques images de la grandeur humaine :
par cette expression Malraux résume fort bien sa perspective et son ambition
; il laisse entendre aussi un indéniable accent cornélien. Comme le sera plus tard le narrateur des Noyers de l'Altenburg, Malraux fut en
effet obsédé par « la noblesse que les hommes ignorent en eux ». 1. La Condition humaine, « Folio
», p. 67. |
Escola Secundária de Camões
Prova escrita de Português
(A)
I
PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil. Tanta foi a tormenta e a vontade! Restam-nos hoje no silêncio hostil, O mar universal e a saudade. Mas a chama, que a vida em nós criou, Se ainda há vida ainda não é finda. O frio morto em cinzas a ocultou: A mão do vento pode erguê-la ainda. Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -, Com que a chama do esforço se remoça, E outra vez conquistemos a Distância - Do mar ou outra, mas que seja nossa! Fernando Pessoa, Mensagem |
1. Elabore
um comentário do poema transcrito que integre o tratamento dos seguintes
tópicos:
·
Situação do poema "Prece" na estrutura
organizativa de Mensagem;
·
Composição do poema ( sequências; ordem
temporal; conectores; relação de interlocução; palavras-chave);
·
"Prece", um poema simbolista!?
·
Objectivo do Poeta;
·
Relação de "Prece" com outros poemas
da mesma obra.
II
A - " Mas tu não riste,
Ana. E perguntaste-lhe a ele o que tinha ele a dar aos homens. Chico foi claro
como um murro:
-
Pão e orgulho.
-
Orgulho de quê?
-
Deles mesmos. Para não consentirem que lhes ponham a pata em
cima."
( Chico, in Aparição,
cap. 14)
B - " Como
explicar-vos, porém, que, após a vossa justiça clamorosa, há outros gritos
abaixo da saciedade, sob a redenção futura da vossa humilhação? Sede bons,
amigos, sede compreensivos. A fome da nossa condição não se esgota num estômago
tranquilo."
( Alberto, in Aparição,
cap. 23)
Como
exemplificam os textos transcritos, Alberto e Chico representam, no romance Aparição, modos distintos
de conceber o presente e o futuro do homem.
1.
Com base na leitura de Aparição, construa um diálogo em que estas duas personagens
exponham e fundamentem, de forma argumentativa, o respectivo "sistema de
pensamento".
III
Resuma o
excerto a seguir transcrito, constituído por trezentas e quarenta palavras, num
texto de cem a cento e vinte cinco palavras.
Álvaro de Campos recorre com frequência às imagens de porta e
janela na sua poesia, mas é na "Tabacaria" que encontramos uma das
suas mais brilhantes realizações.
O
poema começa com um sentimento da não-existência do eu. A persona sente que não é nada, não será nada e não pode querer ser
nada, apesar de possuir todos os sonhos do mundo. Imediatamente depois desta introdução o
leitor depara com mais imagens relacionadas com a casa: "Janelas do meu quarto, / Do meu quarto de um dos milhões do mundo que
ninguém sabe quem é". É através dessas anónimas janelas que a persona olha para fora e apercebe o
mundo. Representativa desse mundo é a rua, que passa debaixo das suas janelas,
" rua inacessível a todos os
pensamentos", um mundo misterioso cujo significado está oculto.
A persona sente-se vencida mas lúcida.
Porém, surge outra complicação, a persona
está dividida entre duas percepções da realidade: a tabacaria, uma realidade
exterior, e o sentimento de que tudo é um sonho, uma realidade interior.
Considerando
a sua existência, a persona conclui
que a sua vida tem sido um completo fracasso. Deixou a casa passando pela
janela, " Desci dela pela janela das
traseiras da casa", ou seja, num certo sentido, consentiu a si próprio
passar através das janelas do seu consciente para descobrir o mundo, mas só
encontrou desilusões:
Fui até ao campo com grandes propósitos,
Mas lá encontrei só
ervas e árvores.
E quando havia gente era
igual à outra.
De
novo com o verbo no tempo presente, abandona a janela, senta-se e totalmente
retirado do mundo imagina o que pensar a seguir.
A
casa é então retratada de forma a sugerir um sentido de isolamento mas o
sentimento não é completamente negativo, porque o poema em si existe, e a persona refere-o como "Pórtico partido para o Impossível".
Esta imagem está relacionada com o tema central e está associada à construção
dum templo metafórico do conhecimento do cosmos por parte da persona, que então o classifica como
impossível de realizar. (...)
Leland Robert Guyer, Imagística do espaço fechado na poesia de
Fernando Pessoa, IN-CM, p. 70-71.
FIM
Manuel Gomes,
27-Abr-99
Escola
Secundária de Camões
Prova escrita de Português (A)
I
1.
Resuma o excerto a seguir transcrito, constituído por
trezentas e doze palavras, num texto de cem
a cento e quinze palavras.
DA NECESSIDADE DO TEATRO
(...)
Mas o não tomarmos a sério as coisas é sempre um grande risco de elas nos
tomarem a sério a nós. E o teatro, ou o instinto teatral, está em nós, tal como
está em nós o apetite sexual.(...)
Há
muita gente, por hipótese, que nunca viu uma representação teatral. Por
hipótese - porque não há quem para
existir não represente, e não há sociedade alguma, nem grupo humano algum,
que não pratique a personificação dramática, sob um qualquer pretexto. O teatro
tornou-se, ou crê-se que tornou, como tantos outros modos de expressão
artística, uma actividade estética autónoma, ainda quando por tradição ou por
culto ficasse longamente submetido à esfera do religioso ( do que não é certo
que se tenha separado inteiramente), há alguns milhares de anos, nas sociedades
históricas euro-asiáticas ( uma Eurásia que, como se sabe, inclui o Norte de
África). Mas uma necessidade do teatro não é justificada pela antiguidade dele:
o teatro poderia ser uma superstição arreigada ou sublimada ou evoluída, como a
maior parte dos rituais o são. E a própria vida sexual, fonte da vida e (ou) do
prazer dela, está muito longe de estar livre de complexas sobrevivências
sociopolíticas de sociedades e estilos vitais revolutos; e não pode dizer-se
que todas as civilizações ou todos os grupos humanos tenham dela a mesma concepção
teórica e prática. É possível que cheguemos à "perfeição", prevista
em utopias satíricas, de os seres humanos virem a ser produzidos em série
laboratorialmente, sendo ou não providos de sexo, para sua diversão, conforme o
tipo de actividade a que a série se destina; e que, por essa altura, o teatro,
ou as mais evanescentes e subtis formas de personificação dramática, tenham
perdido a razão de existir. Como parece que ainda não se chegou àquela
perfeição reprodutora, é de supor que a hora final do teatro ainda não tenha
soado.
Jorge de Sena, Vinte e Sete Ensaios, Da necessidade
do teatro, 1967.
II
A -
" Então e eu poderia lá morrer? Sou irmã dela e de você e disto que anda aqui neste silêncio
grande, no eco da chuva, dos relâmpagos, dos trovões que ressoam com uma voz
que não vem nos livros, que é uma voz dos grandes céus desertos. Como diz você?
A voz inicial... Ouço-a, sei-a... Mas isto é muito maior que nós, muito maior,
muito maior... Reduzir essa voz à "dimensão humana"?"
( Ana, in Aparição,
cap. 20)
B -
" Há gente cobarde para tudo, para aceitar, para acreditar, para jogar a
vida numa solução.
- Não tem você a sua?
- Tenho a de não a ter. Assumo a vida toda sem sofismas. Sou corajosa e
não tenho ilusões."
( Sofia e Alberto, in Aparição,
cap. 23)
1.
No romance Aparição, a morte
de Cristina afasta definitivamente Ana de Sofia.
Esta morte introduz uma solução inaceitável quer para Sofia
quer para Alberto.
Baseando-se
na leitura de Aparição, construa um diálogo
em que estas três personagens
exponham e fundamentem, sob a
forma de argumentação, a respectiva "concepção de vida".
Manuel Gomes, 30 Abr. 99
2 de Maio de 1999
A - Após a correcção do teste, decidir
retomar:
·
O papel da naturezae do espaço citadino no
romance Aparição;
·
A técnica de narração.
No 1º caso,
os alunos deverão elaborar uma exposição, com base, entre outros, nos seguintes
capítulos:
-
VII (70 /71); XI (117 a 119); XII (127 / 128); XV ( 160
/161); XVII ( 175 / 176)
No 2º caso,
terão que comparar 3 extractos - Amor de Perdição; Os Maias; Aparição.
B - No âmbito da representação da peça O
Amante de Ninguém,
-
Os alunos lerão nas aulas de 3 de Maio (12ºH) e de 4 de
Maio (12º E), um extracto da referida peça. E assistirão ao espectáculo, nas
caves do Liceu Camões, no dia 4 de Maio, pelas 17 horas...
-
Apresentar-lhes alguns dados sobre Fedor Mikhailovitch Dostoievski ( relembrar que em Aparição,
cap XV (pág. 162), Sofia ( em diálogo com Alberto) se refere ao Eterno Marido deste autor no seguinte
diálogo:
-
O Alfredo quer que a gente vá no domingo almoçar à
Sobreira. Mas teve receio de o convidar."
-
Receio? A mim?
-
Você já leu o Eterno
Marido de Dostoievski?
-
Mas receio porquê?
-
Pavel Pavlovitch esqueceu-se de interpor ou o Stephane
ou o Veltchaninov entre Natália e um deles.
F. M. Dostoievski viveu entre 1821 e 1881.
Com 7 anos
(1828), sofre a primeira crise epiléptica, em consequência de uma cena
extremamente cruel entre os pais.
O pai, médico
pobre e desesperado, era um tirano avaro e feroz. Desejando a morte do pai,
acaba por desenvolver um complexo de culpa, fundamental para o desenvolvimento
do seu pensamento.
Dostoievski
alimenta o remorso com o complexo de inferioridade, a sua raiva por ser pobre,
fraco e feio, o seu orgulho, a sua generosidade, o seu egoísmo. Promovido a
oficial em 1843, demite-se no ano seguinte para se consagrar à literatura. Em
1840, publicara o seu primeiro livro, Pobres Gentes. Sucesso efémero.
Entretanto, em 22 de Abril de 1849, é preso por integrar um grupo de cabeças
exaltadas que discutia " a liberdade de imprensa, a escravatura e a
violência." Chegou, por isso, a ser condenado à morte. Comutada a pena,
acaba por passar 4 anos de trabalhos forçados na Sibéria e mais 5 num regimento
em Semipalatinski.
É sob o
espírito de expiação que casa com Maria Dmitrievna, mulher doente e infeliz que
não o ama, mas a quem ele acaba por se afeiçoar e que o faz sofrer.
Regressa a
Petersburgo em 1859. Publica os seus primeiros livros - entre eles Recordação
da Casa dos Mortos (1861) na revista "Os Tempos". Interditada,
funda a sua própria revista " A Época"... vende-se mal. Morrem,
entretanto, a mulher e o irmão. Cheio de dívidas, escreve Crime e Castigo,
numa situação de desespero económico total... Entretanto, numa viagem à
Alemanha, descobre a roleta, que o arruina ainda mais...
Em 1867, volta
a casar, agora, com a sua estenógrafa, Ana Grigorievna, estudante de vinte anos
, e esta corresponde-lhe! Porém, os credores sucedem-se - trabalho, miséria e
jogo. Dostoievski afunda-se no remorso, na vergonha, na raiva. Acaba, todavia,
por se lançar ao trabalho e escreve: O Idiota, O Eterno Marido, Os
Possessos.
Em 1871,
regressa a Petersburgo. Publica Diário de um Escritor - onde se coloca e
em larga medida se faz aceitar, como consciência da Rússia. Prepara e escreve Os
irmãos Karamazov... O seu esforço culmina na apoteose de 8 de Junho de
1880, quando toma a palavra na inauguração do Monumento a Pushkine. Celebra o
poeta mas sobretudo a Rússia, os russos, a sua religião, a sua missão no mundo,
o socialismo cristão que a pode renovar. Depois dele, os outros oradores
renunciam ao uso da palavra. A multidão ovaciona-o, as mulheres em lágrimas
oferecem-lhe flores, os estudantes levam-no em triunfo, chamando-lhe
"profeta".
Nota: As
Noites Brancas foi escrito entre
1846-49.
Todos os seus
romances - as suas tragédias - representam a experiência da liberdade humana. O
homem começa a revoltar-se em nome dessa liberdade, pronto para todos os
sofrimentos, pronto para todas as loucuras, com a condição de se sentir livre.
E ele procura ao mesmo tempo a liberdade extrema, final...
C - Começar a leitura de Felizmente
Há Luar, 1961,de Sttau Monteiro.
Ler a 1ª cena.
Procurar informação histórica sobre o general Freire d'Andrade. Qual é o
papel de Vicente? - Contra a Guerra (em 1961..., tempo da
escrita), contra os generais
(p.20-23), acusa Freire d'Andrade de ser estrangeirado...
Afinal, Vicente acamarada com a polícia... (p.24-25). Autocaracteriza-se:
"Digo-lhes metade da verdade. (...)
Só acredito em duas coisas: no dinheiro e na força."
[1] -
Óscar Lopes formou-se no mesmo ano e curso que o autor de Vagão J, na
Faculdade de Letras de Coimbra, em 1940;
[2] - Foi
enterrado em Melo (Gouveia), sua terra natal. Eduardo Lourenço define-o “entre
o humanismo e o absurdo”.
[3] - Até
ao Fim pretendia ser um símbolo do
nosso tempo, ao tratar da dissolução da família, do desaparecimento do apoio
religioso, da confusão de valores...
[4] - Ver crítica de Miguel Esteves Cardoso “De
uma vez para sempre” (DN, 12-02-1984). Ver também o artigo de Maria
Joaquina Nobre Júlio « Para sempre» de Vergílio Ferreira, uma proposta de
leitura (DN, 16-02-1984):”a personagem, Paulo, persiste na busca
obsessional que lhe definiu a existência inteira e que agora se agudiza: a
busca do enigma, do possível sentido para as pegadas que o homem deixa no
universo. A obsessão das personagens das suas criações literárias, sejam elas
Alberto, Adalberto, Jaime Faria ou Paulo, não é mais do que a sua própria
obsessão perante o mistério do Ser, e, como a outra face do mistério do Ser, o
mistério do próprio homem. (...) Para sempre é uma denúncia do abuso da
palavra no mundo dos homens. (...) A música, o canto, o grito surgem, assim, em
oposição à palavra falada, desnaturada e desviada do seu uso mais genuíno.”
[5] - «
Não há realmente ajuste de contas: há questões literárias que podem ter o seu
interesse histórico, no domínio da história literária; coisas da própria vida e
de mim próprio. (...) as pessoas que não foram lá buscar aquilo que era
acidental, aderiram com força.» Depoimento dado a Elisabete França, DN 19 de
Junho de 1988.
[6] - «O
prazer de ajudar à formação de um jovem que parte para a vida foi a única
compensação, a única coisa gratificante da minha carreira de professor. Tudo o
mais foi negativo. Num tempo em que a escravatura foi abolida, os professores
continuam a ser escravos. Depoimento dado a Elisabete França, DN 19 de Junho de
1988.
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