24.7.10

Os reizinhos…

Os reizinhos não necessitam de ser eleitos nem herdam o trono. Cercam o poder, sabotam os pilares das instituições e progressivamente impõem os seus interesses. Ao contrário do monarca, educado para servir a colectividade, para exercer o poder em nome dos súbditos, o reizinho está-se nas tintas para o outro; ele é o soberano que abdicou dos vassalos…

Os reizinhos têm, todavia, um enorme defeito. São incapazes de criar o que quer que seja e/ou admirar a obra alheia. E encaixam numa enorme moldura, à espera de serem adulados…


22.7.10

Homo homini rex

Diz Michel Foucault, n’A vida dos homens infames, que cada um, se souber jogar o jogo, pode tornar-se face ao outro um monarca terrível e sem lei.

Todos os dias, nas mais diversas circunstâncias, dou conta desse jogo que, em nome do igualitarismo e da justiça,  dá cabo do empenho e, muitas vezes, do desempenho do outro…

O que fazer?  Desistir ou enfrentar os reizinhos? 

19.7.10

A pedir pasto e cajado…

Ao contrário do que muitos defendem, ninguém faz o que eu faço. Se a ideia de que nada nos diferencia fosse válida, não passaríamos de um rebanho a pedir pasto e cajado.

Eu faço mal, bem, assim-assim. O outro também faz mal, bem, assim-assim. Mas faz diferente. Se tudo fosse igual, não haveria nem EU nem OUTRO, e muito menos TU. Apenas, o solilóquio dos pastores…

Aquilo que nos diferencia vem de longe ou de perto, conforme a idade, a experiência (a aprendizagem formal /informal), o estado de saúde física e mental. Omitir a maturação individual, subordiná-la à vontade do grupo é crime, porque mata o diálogo sobre o modo como resolver os problemas…

Quantas horas perdidas a fazer perguntas já gastas! Quantas frases repetidas sem nada dizer!

Hoje, compreendo bem melhor aquele avô que só soltava a voz após longo silêncio. O silêncio era a sua forma de comunicar. E incomodava porque me fazia pensar. E eu respeitava-o.

18.7.10

O que vemos…

Nem sempre o que vemos dá conta do que percepcionamos. As cores distendem-se até tudo ficar azul. No entanto, a visão sente-se perturbada por um vento agreste que tudo desgrenha como se o Inverno estivesse de regresso.

De qualquer modo, não é esta confusão dos sentidos que mais inquieta. É, principalmente, o despropósito dos comportamentos, a irracionalidade das atitudes…

Claro está que poderia ter descido ao areal…

16.7.10

O Espírito Santo…

O Espírito Santo bem podia baixar sobre algumas cabeças que ainda não perceberam que o combate à flatulência não obriga a uma dieta extrema… (Cuidado que há muita flatulência que não é apenas ventosidade!)

Ser menos infeliz à custa do sofrimento alheio pode trazer um prazer imediato, mas torna-nos mal-humorados e, sobretudo, depressivos.

Nenhum “paraíso artificial” devolve a serenidade que nos devia governar… Bem sei que não há nada pior que o orgulho e, embora não entenda completamente a semântica do termo, creio que uma das suas faces é a necessidade predadora de assegurar um lugarzinho na pequena história dos homens.

E infelizmente quanto maior é o orgulho, menor é a vontade de contribuir para o bem comum. Pouco importa que o vizinho se mate a trabalhar para compensar a nossa preguiça! Pouco importa que o futuro da comunidade, por nós amordaçado, seja hipotecado…

Nota: orgulho, conceito exagerado que alguém faz de si próprio (do germ. urgoli.)

13.7.10

Estamos em Julho…

Estamos em Julho e aborreço-me porque deixei de ouvir os melros. Sobretudo um que, de madrugada, cantava desalmadamente como se alguém lhe ameaçasse o território. Creio que nunca o vi, ao contrário de muitos outros que sempre se mostraram indiferentes à minha passagem… Espero que ele regresse em Março pois, creio, que já passou a fase juvenil.

Ouvir é cada vez mais a minha profissão, já nada me apetece dizer… que interessa quem fala? A todo o momento, oiço falsas perguntas de quem não quer saber a resposta.

Talvez se dizer fosse uma actividade sazonal, eu me sentisse menos aborrecido. Se fossemos melros, poderíamos  viver em silêncio, de Julho a Janeiro… Bem sei que teríamos saudades da voz.  Mas evitávamos os charlatães que nos cercam…

11.7.10

Planos distintos…


«O lobby da educação tem tido mais poder do que todos os sindicatos dos professores do país.» Nuno Crato, Notícias Magazine, 11Jul 2010

Urge eliminar o lobby da educação, começando por fechar as escolas de formação de professores e os múltiplos departamentos do M.E. que vivem de costas voltadas para o que se passa nas escolas.

Em termos de planeamento, as medidas que estão a ser tomadas levam à desertificação do território e à secagem da inteligência. Em termos de gestão, os directores não têm qualquer autonomia (mais não podem fazer do que aplicar as ordens do referido lobby). Em termos de avaliação dos alunos, os resultados dos exames são miseráveis, sobretudo porque mostram que estamos a formar indivíduos incapazes de pensar e de expor uma ideia que tenha alguma substância. Os mais instruídos estão cada vez mais iguais aos mais ignorantes.

Deste modo, assistimos a um nivelamento por baixo que acabará por nos convencer que somos definitivamente um país falhado.