UAL - UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA “LUÍS DE CAMÕES”
Programa de Teoria da Literatura
1996
/ 97
Prof. auxiliar: Mestre Manuel Cabeleira Gomes
A Teoria da Literatura abarca actualmente, entre outras,[1] as seguintes perspectivas de investigação:
1.
Identificação e identidades do facto literário |
2.
O sistema literário |
3.
Texto e comunicação literária |
4.
Vias e meios da crítica |
A
1ª perspectiva equaciona as dificuldades de emancipação e de institucionalização
da literatura / do facto literário.
A 2ª perspectiva aborda o facto
literário enquanto gerador de sistemas: géneros, história e literatura,
sociedade e literatura, conjuntos interlinguísticos, interculturais e
literatura.
A 3ª perspectiva centra-se na
pluralidade de abordagens metodológicas do texto - retórica, pragmática,
discursiva... imagológica.
A 4ª perspectiva interroga a
validade da interpretação literária num universo onde se movem e destacam as
ciências sociais e humanas.
1.
A Epistemologia das ciências humanas
2.
A Literatura como instituição
3. O Texto literário
4. O Texto literário e a
arquitextualidade
5. O Processo criativo
6. As vanguardas e a tradição no séc. XX
6.1. A Poesia
6.2. O Texto dramático
6.3. A Narrativa
6.3.1. Tendências do romance
contemporâneo[3]
·
Almeida Garrett ·
Jorge Amado ·
José Saramago ·
Milan Kundera ·
Pepetela ·
Isabel Allende ·
José Saramago |
·
Viagens na minha Terra,[4]
1843 ·
Teresa Baptista Cansada de Guerra, 1972 ·
Memorial do Convento, 1982 ·
A Insustentável Leveza do Ser, 1983 ·
YAKA, 1983 ·
Paula, 1994 ·
Ensaio sobre a Cegueira, 1995 |
6.3.1.1. Literatura e Vida
6.3.1.2. O diálogo entre a
Literatura e a História:
·
Romance - História ·
Romance - Memorial ·
Romance - Diário ·
Romance - Ensaio ·
Romance imagem |
7. Autores e obras cuja leitura é recomendada:
Alain Robbe-Grillet - La maison de
rendez-vous[5]
Camilo
José Cela - La familia de Pascual Duarte
[6]
Carlos
Drummond de Andrade, Obra poética[7]
Fernando Pessoa - Obra poética; O Livro do Desassossego
Franz, Kafka - O processo
Herberto Herder, Poesia
James
Joyce, Ulisses
Joracy
Camargo, Deus lhe pague[8]
José Craveirinha, Poesia
José
Luis Cano, Antologia de los Poetas del 27[9]
José Saramago,O Ano da Morte de Ricardo Reis
Miguel Torga, Poesia
Pablo Neruda, Antologia Poética[10]
Pepetela, A revolta da casa dos ídolos; Lueji
- o nascimento dum império; A
Geração da Utopia[11]
BIBLIOGRAFIA
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5.
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***********************************************************************************
Nota:
É fundamental abordar, embora sob a forma de síntese, o formalismo russo, de modo
a situar correctamente os estudos do círculo de Bakhtine.
-
a voz da narrativa por Eikkenbaum
-
o diálogo dos textos por Tynianov
Uma estratégia poderá ser a comparação do
artigo de R. Jakobson Linguistique et
poétique com a teoria do enunciado
de Bakhtine (op.cit, p. 85-86). Leitura
obrigatória do estudo de Bakhtine: Le
discours dans la vie et dans la poésie. |
Por outro lado,
também é necessário sublinhar as diferenças entre o formalismo russo e o formalismo
ocidental (grupo de teóricos de
arte alemão).
Ponto 3 - O Texto literário
Bakhtine:
L’objet esthétique
n’est jamais donné comme une chose
achevée, concrète, réellement présente. Il est toujours proposé,
proposé comme intention, comme l’orientation du travail de la création artistique
et celle de la contemplation esthétique qui collabore à cette création.[12]
Il n’est point de méthode qui puisse apprécier le monument littéraire dans sa signification artistique, si elle veut négliger le problème de l’expression axiologique. (284)
- crítica ao objectivismo abstracto (262-269): Ils substituent à l’étude des rapports entre les hommes, que reflète
et fixe le donné verbal de l’oeuvre, celle des rapports entre les mots et entre leurs facteurs abstraits.
- crítica à concepção dualista do espírito e da matéria.
* L’horizon axiologique[13] remplit une fonction prédominante dans
l’organisation de l’oeuvre d’art et, en particulier, dans celle de ces aspects formels: sans cet horizon, la
communication esthétique est irréalisable. (270)
(...) Convenons
d’appeler expression axiologique
toute évaluation incarnée dans un matériau. (271)
(...) Quelle est donc
la fonction esthétique de l’expression axiologique dans un matériau?
Cette expression confère, d’abord, au matériau une forme articulée: elle sépare l’essentiel de l’acessoire, ce qui est premier de ce qui est dernier, le haut du bas. Elle crée la structure hiérarchique du matériau ou le mouvement hiérarchique qui se fait en lui. L’expression axiologique détermine la localisation de chaque élément matériel dans l’échelle de valeurs inhérente à une oeuvre. Nous sentons déjà à quel niveau dans une telle échelle se trouve un élément - c’est-à-dire qu’elle est sa place hiérarchique -, sans connaître encore la signification précise de son contenu. (272)
** Quelles sont donc les limites ente lesquelles se tient la possibilité
de rajeunir le matériau par les
intonations qui l’investissent? Un tel problème est étroitement lié à celui
que pose la tradition artistique.
Resposta: à l’intérieur d’un groupe social donné, les limites laissées à la liberté de l’artiste sont extremement étroites. Seule l’entrée en scène d’un nouveau groupe social (...) est susceptible d’opérer une révolution radicale et profonde de la forme artistique. (275)
Ponto 3.1.
Os géneros
Chacun des types de
communication sociale[14] (...) organise , construit et achève, de façon spécifique, la forme grammaticale
et stylistique de l’énoncé ainsi que la structure du type dont il relève: nous
la désignerons désormais sous le terme de genre.
(290)
Le genre prend donc sa forme achevée dans les traits particuliers, contingents et uniques, qui définissent chaque situation. (291)
Ponto 6.1.
L’évaluation sociale
détermine, lorsqu’il s’agit de poésie, la sonorité
même de la voix (son intonation), comme elle détermine également le choix du matériau verbal et l’ordre selon lequel il est disposé. En
fonction de cela, il nous faut distinguer deux formes d’expression axiologique:
1) la forme sonore, et 2) la forme architectonique dont les fonctions se
partagent selon deux groupes: celui des fonctions électives[15], d’une part, celui des fonctions
distributionnelles[16] (la composition) d’autre part. (276)
-
a entoação sonora em poesia e a entoação na linguagem quotidiana (278/285)
I - art. Épistémologie
des sciences humaines, Mikhaïl Bakhtine[17]:
O objecto das ciências humanas
é um texto... / o homem na sua especificidade / um sujeito / a interrelação e
a interacção dos espíritos ... / pensamentos sobre pensamentos, experiências
das experiências, discursos sobre discursos / textos sobre textos ... / être
expressif et parlant |
“Le texte est cette réalité immédiate (réalité de la pensée et des expériences) dans laquelle seule peuvent se constituer ces disciplines (linguistique, philologie, études litéraires) et cette pensée. Là où il n’y a pas de texte, il n’y a pas non plus d’objet de recherche et de pensée.” (30, 281)
“L’homme dans sa spécificité humaine s’exprime toujours (parle), c’est-à-dire crée un texte (serait-il potentiel). Là où l’homme est étudié hors du texte et indépendamment de lui, ce ne sont plus des sciences humaines...” (30,285)
“Les sciences exactes sont une forme monologique du savoir: l’intellect contemple une chose et parle d’elle. Il n’y a ici qu’un seul sujet, le sujet connaissant (contemplant) et parlant (énonçant). Seule une chose sans voix se trouve en face de lui. Mais on ne peut percevoir et étudier le sujet en tant que tel comme s’il était une chose, puisqu’il ne peut rester sujet s’il est sans voix; par conséquent, sa connaissance ne peut être que dialogique.” (40, 363)
“ La personnalisation
n’est d’aucune manière subjective. La limite ici n’est pas le je mais ce je dans une interrelation avec d’autres personnes, c’est-à-dire je et autrui, je et tu. “ (40, 370)
“Ce
personnalisme est sémantique, non psychologique.” (40, 373)
Bakhtine rejeita o empirismo objetivo - o
texto reduzido à sua materialidade - e o empirismo subjetivo - o texto
dissolvido nos estados psíquicos
experimentados por aqueles que produzem ou apreendem o texto. Estes
dois modos são ilustrados pelos formalistas. Critica os formalistas porque
estes tendem “ a projetar as particularidades constructivas das obras
poéticas no sistema da língua, assim como transpõem directamente os elementos
linguísticos na construção poética.” |
Em alternativa, insiste no
aspecto objetal e semântico e no aspecto expressivo, isto é intencional. Condena a ideia aristotélica,
segundo a qual é necessário separar o estudo da obra do estudo que considera
os participantes no acto de comunicação que é a literatura (o autor e o
leitor). Para Bakhtine: l’artistique englobe ces trois aspects ensemble: Il est une forme de la relation entre
créateur et contemplateurs, fixée dans l’oeuvre artistique. (7,
248) Tal como considera impossível
decalcar uma ciência do discurso (a poética) duma ciência da língua (a
linguística). O elemento linguístico da
língua e o elemento constructivo da obra não podem coincidir, pois estes dois
fenómenos têm origem em dois planos diferentes |
Diferença de método Compreensão - em vez de
conhecimento - entendida como: a tradução de experiência numa perspectiva
axiológica inteiramente outra, em categorias de avaliação e de formação
novas. (3, 91) Toute compréhension est
dialogique. La compréhension s’opose à l’énoncé comme une réplique. La
compréhension cherche un contre-discours
pour le discours du locuteur.(12, 122-3) La véritable compréhension en littérature et en études littéraires est
toujours historique et personnelle... Pour les sciences
naturelles, c’est l’exactitude qui compte. Pour les sciences humaines c’est
la profondeur qui est essentielle. |
Linguística[18] e translinguística[19] O texto é o objecto que todas as ciências humanas têm em comum.
Mas todas são diferentes. Uma ciência é determinada não
pelo objecto real, mas por um objecto
de conhecimento, o qual resulta da adopção duma perspectiva diferente face a
um só e mesmo objecto: L’objet réel est l’homme social
parlant et s’exprimant par d’autres moyens: pelo discurso, que é a linguagem na sua totalidade concreta e viva.
(32,242)... discurso, isto é, enunciado,
que é, por sua vez, o produto dum “agir”, para quem a matéria linguística é
apenas um dos ingredientes; o outro é tudo o que resulta da enunciação, isto é, do papel decisivo
do contexto[20] da enunciação... o qual
permite determinar o sentido global do enunciado[21]. (...) Si l’on prend les énoncés dans ce qu’ils ont de spécifique et d’unique,
ils deviennent l’objet, non de la translinguistique, mais de l’histoire (histoire littéraire, dans le cas des
oeuvres). |
art. Grandes options
1. Nenhum
enunciado em geral pode ser atribuído apenas ao locutor: ele é o produto da interacção dos interlocutores e, mais
largamente, o produto de toda esta situação social complexa, na qual surgiu.
(8, 118)
A
estrutura do enunciado, assim como a estrutura da própria experiência a
exprimir, é uma estrutura social.
(12, 111-112)
De
certo modo, Bakhtine põe a intersujectividade como anterior à subjectividade.
2.
Para entrar na história, não basta nascer fisicamente, é necessário um segundo
nascimento - social. (..) Só a localização social e histórica torna o homem
real e determina o conteúdo da sua criação pessoal e cultural. (8, 23-4) O conteúdo do psiquismo é totalmente
ideológico... (8,37)
3. Bakhtine concebe
sempre a linguagem como logicamente anterior ao inconsciente: Ce que révèlent
les psychologues (...) a existé dans le passé; il est conservé, non pas dans
l’inconscient, fût-il collectif, mais
dans la mémoire des langues, des genres, des rites; c’estde là qu’il pénètre
dans les discours et dans les rêves (racontés, consciemment remémorés) des
gens... (38, 349)
4.
Ver a importância de Dostoïevski na formulação da concepção psicológica de
Bakhtine.
[Freud
vs Dostoïevski]
5.
No domínio dos estudos literários:
-
toda a obra literária é sociológica, e de modo interior, imanente. (13,3)
-
a estilística (de Vossler) não sabe revelar, para além das mutações individuais
ou das das correntes, os grandes destinos anónimos do discurso literário:
desconhece a vida social do discurso
fora do atelier do artista, nas vastas extensões das praças públicas, das ruas,
das ruas, das cidades e das aldeias, dos grupos sociais, das gerações, das
épocas. (21,73)
-
os livros que Bakhtine consagra a escritores particulares, como Rabelais ou
Dostoïevski, colocam questões que incidem nos géneros, nas épocas, ou na teoria
geral, e não nos indivíduos.
5.1.
Forma e conteúdo
-
defende a necessidade de encontrar um elo entre os dois, dos tomar em
consideração simultaneamente, mantendo-os em perfeito equilíbrio - contesta o formalismo abstracto e o ideologismo. Critica os ideologistas porque extraem um elemento
da obra, por exemplo uma personagem,
e confrontam-no directamente com aquilo que lhe corresponde na vida social, sem
tomar em consideração as relações que se estabelecem entre esse elemento e as
outras componentes da obra, relações que, de facto, determinam sozinhas o seu sentido. (...) Para o verdadeiro sociólogo, o herói do romance e o acontecimento da
intriga são muito mais reveladores precisamente porque eles são elementos da
estrutura artística, isto é remetem para a própria linguagem artística, e não
entendidos como projeções directas e ingénuas sobre a vida. (10, 32-33)
Os formalistas criticavam aqueles que
reduziam a literatura à história das ideias. Ora para Bakhtine, desde 1924, que
o principal erro dos formalistas era
o isolamento do estudo da literatura do arte em geral (da estética), ou seja da
filosofia. No fundo, eles deixariam na sombra, uma estética do material ( em literatura: a linguagem) que determinaria
inteiramente as formas artísticas. Esta abordagem conduz a reter apenas as
formas vazias e mortas, a isolar a forma do conteúdo.
-
num espírito de síntese, introduz a categoria literária de cronotopo[22] (de
forma-e-de-conteúdo). Esse espírito estende-se à conciliação da literatura
(formalismo) com a história das ideias (ideologismo).
-
tal como o personagem só se compreende na
sua relação com a obra, também esta deve primeiramente ser posta em relação com
o conjunto da literatura.
6.
Bakhtine aprecia em Méthode formelle en
études littéraires, a par da crítica que faz aos formalistas russos, o formalismo
ocidental nascido na Alemanha: K. Fiedler, A. Hildebrand, A. Riegel, W.
Worringer, W. Wölfflin. Isto, porque este grupo recusa fechar-se no estudo
exclusivo quer da forma quer do conteúdo, lutando simultaneamente contra o
positivismo (formalismo) e contra o idealismo ( ideologismo).
6.1.
O conceito principal deste grupo é o de arquitéctónico, termo de Hildebrand
que Bakhtine queria substituir por estrutura ou construção, porque é a estrutura da obra literária que deve ser
objecto da poética. (10, 141)
7.
A metodologia pós-formalista de Bakhtine:
É através da determinação das vozes,
dos horizontes, e portanto das concepções do mundo que aí se
exprimem que ele analisa os textos. |
art. Teoria
do enunciado
I
- baseado no artigo O discurso na vida e
o discurso na poesia, de 1926
1.
A matéria linguística é apenas uma parte do enunciado. Existe uma outra parte,
não verbal que corresponde ao contexto de
enunciação.[23]
2.
O contexto extra-verbal do enunciado[a parte sub-entendida] é composto por três
aspectos:
-
o horizonte espacial comum aos
locutores ( a unidade do visível)
-
o conhecimento e a compreensão, igualmente comuns aos dois, da situação
- a avaliação que lhes é, ela também, comum desta situação.
2.1.
Alguns anos mais tarde, é proposta uma descrição ligeiramente diferente do contexto de enunciação ( 18,76):
-
o horizonte comum: - coordenadas espacio-temporais; objecto ou o tema do enunciado (referente)
-
a avaliação, isto é a relação dos
locutores com o que se passa.
3.
A comunicação verbal nunca poderá ser compreendida e explicada fora deste elo
com a situação concreta. (12, 114)
3.1.
A diferença entre enunciado e
proposição, unidade de língua, consiste em que o primeiro é necessariamente
produzido num contexto particular, que é sempre social, enquanto que a segunda
não tem necessidade de contexto.
3.1.1.
A socialidade tem uma dupla origem:
-
o enunciado é dirigido a alguém (pelo menos há uma micro-sociedade formada pelo
locutor e pelo destinatário).
-
o próprio locutor é já um ser social[24].
3.2.
O enunciado constrói-se entre duas pessoas socialmente organizadas (...) Le
discours est orienté vers l’interlocuteur, orienté vers ce qu’est cet interlocuteur. (12,
101)
3.2.1.
O auditor é quer um ser individual
presente, quer a imagem ideal de uma audiência imaginária.[25]
3.3.
Todo o enunciado pode ser considerado
como fazendo parte dum diálogo: pode-se dizer que toda a
comunicação verbal, toda a interacção verbal se desenrola sob a forma de uma troca de enunciados, isto é sob a forma
dum diálogo. (18,68)
4.
Descrição do enunciado
4.1.
É fundamental distinguir significação na
língua[26] e significação no discurso, isto é, entre significação e tema[27].
4.1.1.
O tema é definido como único, pois
resulta do encontro da significação com um contexto de enunciação igualmente
único. Uma característica essencial do tema, e portanto do enunciado é que ele
é porvido de valor, ao contrário, da
significação (da língua) que é estranha ao mundo axiológico.
4.2.
Esta dimensão avaliativa do enunciado
surge como mais importante do que as dimensões semântica e espácio-temporal.
Deste princípio, Bakhtine extrai uma importante conclusão para os estudos
literários:
C’est l’horizon axiologique[28] qui assume la fonction la plus importante
dans l’organisation de l’oeuvre littéraire et surtout dans celle de ses aspects
formels. (16,
226)
4.2.1.
Este juizo ou esta expressão de valores manifesta-se
primeiramente por meios não verbais: o gesto
(movimento significativo do corpo) e a voz
(fora da linguagem articulada).
4.2.2.
No seio da linguagem, manifesta-se por meios semânticos e não semânticos. Em 1º
lugar, pela entoação, que se encontra no limiar entre o verbal e o
não-verbal, o dito e o não-dito.
4.2.1.
A entoação é por excelência social. (...) É a expressão fónica da avaliação
social. (18, 78). Tem um duplo papel:
Toda
a entoação se orienta em duas direcções: para o auditor, como aliado ou
testemunha, e para o objecto do enunciado, como se ele fosse um 3º participante
assumido: a entoação injuria ou lisonjeia, rebaixa ou engrandece. (7, 255)
4.3.
Os meios semânticos para exprimir uma avaliação:
-
função electiva da avaliação social: na escolha do material lexical, na
escolha dos epítetos, das metáforas e outros tropos (todo o domínio da
semântica poética) e, finalmente, na escolha do tema, no sentido restrito (a escolha do “conteúdo); quase toda a
estilística e uma parte da temática pertencem ao grupo electivo.
-
as funções
composicionais da avaliação determinam o lugar hierárquico do elemento
verbal no conjunto da obra, o seu nível, assim como a estrutura do conjunto.
Encontram-se aqui todos os problemas de sintaxe poética, de composição no
sentido próprio e, finalmente, de género.
(16, 232)
5.
O enunciado mais simples surge como um pequeno drama, cujos papéis mínimos são:
-
o locutor
-
o objecto
-
o auditor
O
elemento verbal é apenas a trama a partir da qual se realiza o drama... ou como
ele diz o cenário.
5.1.
O discurso é de algum modo o cenário dum certo acontecimento.
5.2..
Três aspectos desta interacção parecem ter uma grande importância na
produção literária:
-
o valor hierárquico da personagem ou do acontecimento que formam o conteúdo do
enunciado / relação vertical: o personagem é superior, inferior ou igual ao
autor?[29]
-
o seu grau de proximidade do autor / dimensão horizontal: é ela que determina a
escolha das formas narrativas: narrativa objetiva, confissão, apóstrofe...
-
a inter-relação do auditor com o autor, por um lado, e com a personagem, por
outro. / enquanto papéis, a posição do interlocutor nunca coincide com a do
autor: os dois podem aliar-se, mas , por vezes, o autor coloca-se do lado da
personagem e contra o seu leitor e vice-versa...
6.
Relações intertextuais ou dialógicas
6.1.
Todo o enunciado remete para enunciados anteriores, dando lugar às relações
intertextuais ou dialógicas.
II - artigos de base:
+ Le problème des genres du discours
+ Le problème du texte
+ Remarques méthodologiques
Quadro de
referência: a translinguística[30]
1. O objecto
da linguística é formado apenas pela matéria,
apenas pelos meios da comunicação
verbal - mas não pela própria comunicação verbal, nem pelos enunciados enquanto
tais, nem pelas relações dialógicas que existem entre eles, nem pelas formas de
comunicação verbal, nem pelos géneros verbais. (30, 297)
2.
Todo o enunciado possui dois aspectos[31]:
-
o que lhe vem da língua, e é reiterável / o dado
-
o que lhe vem do contexto de enunciação, e é único.[32] / o criado, sempre em relação com os
valores.
3. Uma
teoria da compreensão:
-
a percepção psico-fisiológica do signo físico (a palavra, a cor, a forma
espacial).
-
o seu reconhecimento (conhecido ou
desconhecido?) A compreensão da sua significação
reiterável (geral) na língua.
-
a compreensão da sua significação num
dado contexto (próximo e mais longínquo).
-
a compreensão activa e dialógica (o debate - o acordo). A inclusão num contexto
dialógico. O momento da avaliação na compreensão e o grau da sua profundidade e
da sua universalidade.
A
compreensão pressupõe duas etapas:
- La première tâche est de comprendre
l’oeuvre de la façon dont la comprenait son auteur, sans sortir des limites de
sa compréhension. L’accomplissement de cette tâche est très difficile et exige
habituellement d’examiner une matière immense.
- La deuxième tâche
est d’utiliser son exotopie temporelle et culturelle. L’inclusion dans
notre contexte (étranger à l’auteur) (38, 349)
*
A compreensão[33] não é apenas encarada
como um processo intemporal, mas também como uma relação entre duas culturas. p. 168
4.
Os constituintes do contexto de enunciação que contribuem para distinguir o enunciado da frase:
-
o enunciado remete para um locutor, para
um objecto e entra em diálogo com outros enunciados produzidos anteriormente.
4.1. C’est la relation entre locuteur et
auditeur qui détermine ce qu’on appelle, dans le langage courant, le ton d’un énoncé.[34]
5. Características
constitutivas do enunciado (1952-1953):
.
1.
Os limites de
cada enunciado concreto enquanto unidade de comunicação verbal são
determinados pela mudança dos sujeitos
do discurso, isto é dos locutores. 2.
Cada enunciado
possui um acabamento interior específico[35]. 3.
O enunciado
não designa apenas o objecto como acontece com a proposição, ele exprime o seu sujeito; ora as unidades
da língua, enquanto tais, não são expressivas. No discurso oral, uma entoação
específica - expressiva - marca
esta dimensão do enunciado.. 4.
O enunciado
entra em relação com os enunciados do passado que têm o mesmo objecto que
ele, e com os do futuro, que ele pressente enquanto respostas. 5.
O enunciado é
sempre dirigido a alguém. |
6.
Bakhtine substitui o termo tema por sentido[36] - o
conteúdo do enunciado. (29,265) É este sentido que liga o enunciado ao mundo
dos valores, desconhecido da língua.
7.
Modelo
da comunicação
Bakhtine |
Jakobson[37] |
objecto |
contexto |
locutor enunciado auditor |
destinador mensagem destinatário |
intertexto |
contacto |
língua |
código |
7.1.
Diferença fundamental entre Bakhtine e Jakobson:
Jakobson
apresenta as suas noções como descrevendo os
factores constitutivos de qualquer acontecimento verbal, de qualquer acto de
comunicação verbal. Ora para Bakhtine há dois acontecimentos radicalmente
distintos, de tal modo que tornam necessárias duas disciplinas autónomas, a
linguística e a translinguística. En linguística, dispomos à partida de
palavras e regras gramaticais; à chegada, obtemos frases. Em translinguística,
partimos das frases e do contexto de enunciação, e obtemos enunciados.
8.
Heterologia[38]
Bakhtine
defende a existência de tipos de
enunciados, ou discursos, em número bastante elevado, todavia limitado...
No exame mais detalhado que consagra à
heterologia[39], Bakhtine distingue até 5
tipos de diferenciação: género, profissão, camada social, idade, região...
8.1.
Bakhtine esboça uma tipologia dos discursos,
de que o discurso literário seria
apenas uma instância.
art.
Intertextualidade
1.
Não há enunciado sem relação com outros enunciados.
O
termo que Bakhtine utilisa, para designar esta relação de cada enunciado com
outros enunciados é dialogismo.
Ao
nível mais elementar, é intertextual qualquer relação entre dois enunciados.
2.
A intertextualidade pertence ao discurso, não à língua, e remete
consequentemente para a translinguística e não para a linguística:
“c’est un type particulier de relations sémantiques, dont les membres doivent
être uniquement des énoncés entiers,
derrière lesquels se tiennent ( et dans lesquels s’expriment ) des sujets de
parole réels ou potentiels, les auteurs des énoncés en question. “ (30,
303)
-
Na relação intertextual, o enunciado é considerado como o testemunho de um sujeito.
-
O enunciado presente é visto como a manifestação duma concepção do mundo; o
enunciado ausente, como a manifestação duma outra; é entre elas que se estabelece de
facto um diálogo.
3.
Bakhtine reportoria todos os tipos de discurso em que a relação intertextual é
essencial:
-
a conversação quotidiana
-
o direito
-
a religião
-
as ciências humanas
-
os géneros retóricos, como o discurso político...
3.1.
No romance, o dialogismo torna-se num dos aspectos mais essenciais... É nele
que a intertextualidade aparece de modo mais intenso.
“ le dialogisme inerve de l’intérieur le
mode même sur lequel le discours conceptualise son objet, et jusquà son
expression, en transformant la sémantique et la structure syntaxique du discours.”
“Ce n’est pas l’image de l’homme en lui-même qui est caractéristique du
genre romanesque, mais précisément l’image du langage.” (21,149)
“ Tout roman est, à un
degré variable, un système dialogique d’images de “langues”, de styles, de consciences concrètes et inséparables du
langage... (24, 416)
4. Tipologias
- le discours rapporté
La langue peut tendre
à donner au discours d’autrui des limites nettes et stables. En ce cas, les
stéréotypes et leurs variantes servent à isoler le discours d’autrui de
façon plus stricte et plus nette, à en exclure les intonations de l’auteur... (12,
117-118)
-
o diálogo interior (2 vozes)
No
caso mais comum, o conflito é vivido pelo indivíduo ( a 2ª voz é a do
representante típico do grupo) confrontado com a norma do seu grupo social. Num
segundo caso (uma certa igualdade de estatuto entre as duas vozes), um
indivíduo sente pertencer a dois grupos sociais ao mesmo tempo, não estando o
conflito ainda resolvido pela história. Num 3º caso, a 2ª voz não ocupa
qualquer lugar estável, compondo-se de uma série incoerente de reacções ditadas
pelas circunstâncias do momento - neste caso, o homem perdeu o seu quadro de
referência, a sua pertença a um grupo determinado, arricando a perda da
razão...
4.1.
Classificação global das diferentes maneiras pelas quais podemos representar o
discurso:
|
monofónico (disc. dir.) |
|
|
|
|
|
convergente (estilização) |
discurso representado |
|
passivo |
|
|
difónico[40] |
|
divergente (paródia) |
|
|
|
|
|
|
activo (polémica escondida ou
aberta) |
|
4.2. Para o
prosador, o objecto é um concentrado de vozes heterológicas, entre as quais se
deve fazer ouvir a sua...
4.3.
A evocação do discurso de outrem, num romance, pode tomar várias formas
diferentes:
-
o discurso não assumido pelo narrador real[41]
-
a representação do narrador, numa situação de tipo oral ou escrito
-
o estilo directo e as “zonas das personagens”[42];
-
géneros encadeados
4.3.
O grau da presença do discurso de outrém pode variar:
-
o 1º grau é o da presença plena, isto é do diálogo explícito.
-
o 2º grau é designado por Bakhtine como o da “hibridação” / generalização do
discurso indirecto livre, que chama construção híbrida ao enunciado que pertence
pelos seus traços gramaticais (sintácticos) e composicionais a um locutor, mas
no qual na realidade se misturam dois
enunciados, dois estilos, duas linguagens, dois horizontes semânticos e
avaliativos. (21, 218)
Estas duas vozes só podem ser
sociais, e não individuais.
-
no 3º grau, o discurso de outrém não é atestado por qualquer indício material,
é apenas evocado: está disponível na memória colectiva de um grupo social
determinado - é o caso da paródia, da estilização e da “variação”[43]
4.4.
Podemos variar a distância entre a
voz do autor e a voz de outrém:
“Les mots se placent sur des plans
différents, à des distances différentes, par rapport au plan des mots de
l’auteur.” (30, 300)
art. História da Literatura
1.
Primeira hipótese: uma pura projecção da tipologia de estilos (oposição linear
/ pictural):
-
dogmatismo autoritário
-
dogmatismo racionalista
-
individualismo realista e crítico
-
individualismo relativista (12, 121).
2.
Bakhtine considera que em todas as épocas e em todas as circunstâncias, se
assiste a um diálogo dos estilos, fundado sobre a heterologia.
2.1.
O ponto de vista da heterologia prima sobre o da literariedade (21, 211):
L’être humain lui-même est un “mélange de
styles”, une hétérogénéité irréductible; la représentation ne sera efficace que
s’il y a une analogie entre l’objet représenté et le médium représentant; l’art
et la littérature, formes de représentation, seront d’autant efficaces
qu’ils seront plus vrais, c’est-à-dire,
ressemblant à leur objet, l’homme hétérogène. p. 123
3. A poética
deve partir do género. (10, 175)
3.1.
O género é o conceito-chave da história literária, porque está do lado do
colectivo e do social. O género é uma entidade tanto socio-histórica como
formal. As transformações do género devem ser relacionadas com as mudanças
sociais.
3.1.1.
O tom social fundamental do género.
3.2.
A noção de género é mais fecunda que a de escola
ou de corrente:
L’énoncé, et ses types, c’est-à-dire les
genres discursifs, sont les courroies de transmission entre l’histoire de la
société et l’histoire de la langue. (29, 243)
3.3.
O género é uma das noções fundamentais da translinguística, a disciplina que
estuda as formas estáveis, não individuais, do discurso.
3.3.1.
O género provém da dupla orientação de cada enunciado, para o seu objecto
(conteúdo temático) e para um interlocutor. (10, 177) Mais tarde, o
interlocutor é substituído pela relação
entre o texto e o mundo - do modelo de mundo proposto pelo texto.
3.4.
A noção de acabamento, na relação entre a obra e o mundo:
“Chaque genre est une manière particulière
de construire et de parachever le tout (...) la réalité, pour la parachever
tout en la comprenant.” (10, 181)
3.4.1.
O género forma um sistema modelizante que propõe um simulacro do mundo.
3.5.
Nós só falamos através de certos géneros discursivos, isto é, todos os nossos
enunciados possuem certas formas
relativamente estáveis e típicas para se constituirem
em totalidades. (...) As formas da língua e as formas típicas dos
enunciados, isto é os géneros discursivos, integram a nossa experiência e a
nossa consciência conjuntamente, conforme uma relação estreita de umas com as
outras. (29, 257)
3.5.1.
Podemos ignorar as regras deste ou daquele género, e sofrer as consequências...
3.6.
O género comporta uma dimensão histórica: não é só uma intersecção das
propriedades sociais e formais, é também um fragmento da memória colectiva.
4. O
romance
C’est lui qui incarne
au plus haut degré le jeu intertextuel, et qui donne à l’hétérologie la plus
grande place. Mais l’hétérologie ou l’intertextualité sont des catégories
intemporelles, qui peuvent s’appliquer à toute période de l’histoire; comment
concilier cette omniprésence avec le caractère nécessairement historique de
genre?
4. 1. Para
Bakhtine, o romance não é um género como os outros (visão romântica?).
4.2.
O romance como mistura de todos os outros géneros...
4.3.
Particularidades fundamentais do romance, segundo Bakhtine:
-
a tridimensionalidade estilística do romance, ligada à consciência poliglota
que nele se realiza.[44]
-
a transformação radical das coordenadas temporais da imagem literária no romance.
-
a nova zona de construção da imagem
literária no romance, a saber a zona de contacto máximo com o presente ( a
contemporaneidade) no seu inacabamento. (27, 454-455)
4.4.
Sobre o género romanesco, Bakhtine acabará por afirmar que ele tem três raizes
fundamentais: épica, retórica e
carnavalesca. (32, 145)
art.
Antropologia filosófica
1.
Alteridade e psiquismo
1º Princípio:
é impossível conceber o ser fora das
relações que o ligam com o outro. O outro é necessário para realizar - mesmo
que provisoriamente - a percepção de si... só o olhar de outrém pode dar-me o
sentimento que eu formo uma totalidade ( ou a insuficiênncia do espelho!):
Tout ce qui me touche vient à ma
conscience - à commencer par mon nom - depuis le monde extérieur, en passant
par la bouche des autres, avec leur intonation, leur tonalité émotionnelle et
leurs valeurs. (38, 342)
Être signifie communiquer. (31, 311)
La vie est dialogique
de par sa nature. Vivre signifie participer à dialogue, interroger, écouter,
répondre, être en accord, etc. (31, 318)
O homem, testemunha e juiz, diferente de tudo
o resto...
Le poids émotionnel de ma vie dans son entier n’existe pas pour
moi-même - les événements de ma naissance, de mon être-au-monde valorisé, et
enfin de ma mort ne s’accomplissent pas en moi ni pour moi. (3, 92-93)
Dans tous les
cimetières, il n’y a que les autres. (3,
99)
2.
Alteridade e criação artística
2.1.
Bakhtine afirma a necessidade de distinguir dois estádios em todo o acto criador:
-
o da empatia, ou da identificação ( o
romancista coloca-se no lugar da sua personagem)[45]
-
o da exotopia, ou do movimento
inverso, pelo qual o romancista reintegra a sua própria posição.[46]
2.2.
Só outrem como tal pode ser o centro axiológico da visão artística e,
consequentemente, personagem da obra. (3, 163-164)
2.3.
Os acontecimentos estéticos são portanto irredutíveis ao UM: são necessárias
duas consciências que não se fundam... (3, 118)
2.4. À la place de la
“dialectique de la nature”, Bakhtine met, pourrait-on dire, une dialogique
de la culture:
C’est précisément une pluralité de consciences, ayant des droits
égaux, possédant chacune son monde qui se combinent dans l’unité d’un
événement, sans pour autant se confondre (em Dostoievski) p. 161.
2.5. As teorias
do discurso ou da consciência:
- À la limite, le monologisme nie
l’existence en dehors de soi d’une autre conscience, ayant mêmes droits et
pouvant répondre sur un pied d’égalité, un autre je égal (tu). Dans
l’approche monologique (sous sa forme extreme ou pure), autrui reste entièrement et uniquement objet de la conscience, et ne peut former une conscience autre. (31,
318)
3.
Alteridade e interpretação
A
criação artística não pode ser analisada fora duma teoria da alteridade: o que
significa que produzir é compreender.
Há 3 tipos de interpretação:
-
o 1º consiste em unificar em seu nome: o crítico projecta-se na obra que lê, e
todos os autores ilustram, ou exemplificam, o seu próprio pensamento.
-
o 2º corresponde à “crítica de identificação”: o crítico não tem identidade
própria; só existe a identidade do autor examinado, e o crítico é o seu
porta-voz...
-
o 3º seria o diálogo preconizado por Bakhtine, em que cada uma das identidades
se assume, onde o conhecimento toma a forma de um diálogo com um tu igual ao eu, e portanto diferente dele...
*
Não há primeiro nem discurso definitivo, e o contexto dialógico não conhece
limites... (40,373)
* O problema do destinatário - chaque énoncé a toujours un destinataire.
(...) Mais en plus de ce destinataire (du “second”), l’auteur de l’énoncé
imagine, en en étant plus ou moins conscient, un surdestinataire supérieur ( un tiers), dont la compréhension
répondante absolument juste est projetée soit dans le lointain métaphysique,
soit dans un temps historique éloigné... / Dieu, la vérité absolue, le jugement
de la conscience humaine impartiale, le peuple, le jugement de l’histoire, la
science, etc... (30,
305-306)
Henry
James, The Art of Fiction
“ “ Prefácio de The American
Forster,
Aspects of the novel (1927)
Edwin
Muir, The structure of the novel (1928)
Rivière, La crise du concept de
littérature (1924)
V. Woolf, ?
Dorothy
Richardson, Pilgrimage
P.
Mendilow, Time in the novel, London,
1952
Michel
Butor,
Gertrude
Stein, Composition as explanation,
1926
Lubock,
The Craft of Fiction, Jonathan Cape,
London, 1965
H. Granville Hatcher, Voir as a Modern novelestic device, Philological Quaterly, 1944
R.-M. Albérès, Le roman d’aujourd’hui
Zéraffa, Michel, Roman et société,
P.U.F., Paris, 1971.
Sobre o monólogo interior:
Robert Humphrey, La corriente de la consciencia en la novela
moderna, ed. Universitaria,
Santiago do Chile, 1969.
Zéraffa, Michel, La révolution romanesque, éd.
Klincksieck, 1969 /1972 (U.G.E.)
Théorie de la littérature. Textes des formalistes russes réunis, présentés
et traduits par Tzvetan Todorov, Seuil, Paris, 1965.
René Wellek e
Austin Warren, Teoria literária
Obras
de leitura obrigatória:
Vargas Llosa (1936), La ciudad y los perros
Camus, L’étranger
René- Marril Albérès, Les hommes traqués, La nouvelle
édition, Paris, 1953
Borges (1899), Historia universal de
la infamia; Ficcione; El Aleph
Dostoievski, Fiodor (1821-1881)
Hemingway,
Ernst (1898-1961), O Velho e o Mar
Malraux, André (1901), La condition humaine
Proust, Marcel (1871-1922) À la
recherche du temps perdu
Sobre C.J. Cela:
Paul Ilie, La novelistica de Camilo Jose Cela,
Gredos, Madrid, 1963
Sobre Camus:
B. T. Fitch, Narrateur et narration dans l’étranger,
Archives de lettres modernes, Paris, 1960
M.-Barrier, L’art du récit dans l’étranger, Nizet,
Paris, 1966
-
Estudos Literários
-
Alguns aspectos da natureza e função da Literatura
-
Processo criativo
-
A Modernidade Literária
-
Romance no séc. XX
- romance polifónico de Dostoïevski
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
[1] -
Cf. Introduction, théorie littéraire, théories de la littérature, Théorie littéraire, sous la direction de
Marc Angenot et alii.
[2] - Para o efeito é fundamental consultar: -
Carlos Reis, O Conhecimento da Literatura
- Introdução aos Estudos Literários, Coimbra, Almedina, 1995; Vitor Manuel
de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura,
8ª ed., Coimbra, Almedina, 1994
[3] - Efectivamente objecto de análise, na medida
em que gera trabalho individualizado - exposto oralmente - crítica e
reformulação escrita, com o consequente aprofundamento da relação possível
entre obra singular e Teoria da Literatura.
[4] - A excepção que, no entanto, pelo lugar que
ocupa na história da literatura, permite compreender a complexidade da
tentativa de configurar o romance contemporâneo.
[5] - Éd.
Minuit, 1965
[6] - (1ªed.
1942), ed. Destino, 1989
[7] - Publ. Europa-América
[8] - Ed. “Livros do Brasil” Lisboa
[9] -
Colección Austral, Espasa Calpe, Madrid.
[10] -
Alianza editorial, Madrid.
[11] - Ed. 70,
1980, e ed. D. Quixote,
respectivamente 1983, 1990, 1992.
[12] - Les
frontières entre poétique et
linguistique, p. 267.
[13] - Os outros constituintes são o elemento
espacial e o elemento semântico.
[14] - Relação de comunicação artística; relações
de produção; relações de negócios; relações quotidianas; relações ideológicas
no sentido restrito. in La structure de l’enoncé, p. 289.
[15] - Escolha do material lexical (lexicologia),
escolha do epíteto, da metáfora e outros tropos
(tudo o que é abarcado pela semântica poética), e finalmente pela
escolha do assunto (a escolha do “conteúdo”) no sentido estreito do termo. [quase
toda a estilística e uma parte da temática]
[16] - Determinam o lugar hierárquico e o lugar,
no conjunto da obra, de cada elemento verbal, assim como determina a estrutura
de cada conjunto. [problemas
referentes à sintaxe poética, à composição propriamente dita, e ao género]
[17] - Crítico dos formalistas[Tynianov,
Tomachevski, Eikhenbaum...] porque, por um lado, querem reduzir a obra às suas
estruturas linguísticas... por outro, renunciam a qualquer procura das
intenções, visto que estas não são directamente observáveis (empirismo
objectivo). Os conceitos “automatisation”, “forme sensible ou
palpable”, “distanciation” revelam o empirismo subjectivo.
Bakhtine opõe-lhes: Nous insistons sans cesse sur
l’aspect objectal et sémantique et sur l’aspect expressif, c’est-à-dire
intentionnel...
Critica a ideia
aristotélica, que influenciara fortemente os formalistas, segundo a qual é
possível, ou mesmo necessário, separar o estudo da obra daquele que considera
os participantes neste acto de comunicação - a literatura (o autor e o leitor).
[18] - Ao construir a noção de língua e a dos seus
elementos - sintácticos, morfológicos, lexicais e outros -, a
linguística faz abstracção das formas de organização dos enunciados
concretos e das suas funções sociais e ideológicas (...) sem ela, não podemos
construir a noção de língua como sistema. (10, 117)
[19] - O objecto da translinguística é o discurso, o qual é constituído pelos
enunciados individuais. Porém, a translinguística não estuda cada
enunciado naquilo que ele tem de individual,
mas nas leis do seu funcionamento.
La différence est à chaque fois entre la théorie générale d’un objet et
l’interprétation des instances particulières qui le composent.
[20] - contexto histórico, social, cultural... e
único.
[21] - O
enunciado (a obra verbal) é um todo não reiterável, historicamente único e
individual: as entidades da comunicação verbal - os enunciados inteiros - são
não reproductíveis ( embora possam ser citados), e estão ligados entre eles por
relações dialógicas.
[22] - isto é o conjunto das características do
tempo e do espaço no interior de cada género literário. p.128 Esta noção
refere-se também à organização do mundo (que legitimamente pode chamar-se cronótopo na medida em que o tempo e o
espaço são as categorias fundamentais de qualquer universo imaginável.) p.129.
[23] -
La situation entre dans l´’enoncé comme un constituant nécéssaire de sa
structure sémantique. (7, 251)
[24] -
Il n’existe pas d’expérience en dehors de son incarnation en signes. (...) Ce
n’est pas l’expérience qui organise l’expression, mais, c’est, au contraire, l’expression qui organise l’expérience, qui
lui donne pour la première fois une forme et qui en détermine la direction.
(12,101) (...) L’expression précède
l’expérience, elle en est le berceau. (6,229)
[25] -
G. H. Mead, para esta última variante,
introduziu o termo “autrui généralisé”.
[26] - primeira propriedade da significação: ser sempre idêntica a si
mesma (sendo puramente virtual) e reiterável
[27] - Appelons le sens de l’énoncé entier son thème. (12, 119-120)
[28] - Fazendo parte do horizonte comum dos
interlocutores, o juizo de valor ou axiológico não tem necessidade de ser
explicitado.
[29] - ver Poética de Aristóteles.
[30] - cujo objecto é o enunciado, uma entidade,
não da língua, mas da comunicação verbal.
(30, 304-305)
[31] - Schleiermacher fazia já a distinção entre
uma perspectiva gramatical sobre os
textos e uma perspectiva técnica ( a
relação do texto presente e outros textos do mesmo autor, outros dados
pertinentes da sua biografia).
[32] -
Chaque texte présuppose un système de signes compréensible pour tous... une
“langue”. Mais simultanément chaque texte (en tant qu’énoncé) représente
quelque chose d’individuel, d’unique et de non réitérable, et là est tout son
sens ( son intention, ce pourquoi il a été créé). C’est la partie de l’énoncé
qui a un rapport à la vérité, à la justesse, au bien, au beau, à l’histoire.
(30, 283-284)
[33] -
Ver Antropologia filosófica : Il existe une image très vivace, mais partielle
et par conséquent fausse, selon laquelle pour
mieux comprendre une culture étrangère, on devrait en quelque sorte
l’habiter, et, oubliant la sienne propre, regarder le monde à travers les yeux
de cette culture. (...) La compréhension
créatrice ne renonce pas à soi, à sa place dans le temps, à culture et
n’oublie rien. La grande affaire de la
compréhension, c’est l’exotopie de
celui qui comprend - dans le temps, dans l’espace, dans la culture - par
rapport à ce qu’il veut comprendre créativement. (...) Ce n’est qu’aux yeux
d’une culture autre que la culture
étrangère se révèle de façon plus complète et plus profonde... (36, 334)
[34] - Anteriormente, utilizara o conceito de entoação.
[35] - Este acabamento é determinado por três
factores, manifestando-se correlativamente sobre três planos: - o do objecto de
que se fala (tratamento exaustivo); o da intenção discursiva do locutor; o das
formas genéricas do enunciado.
[36] -
Por outro lado, Bakhtine chama sentido às respostas às questões: Le sens
répond toujours à certaines questions.(38, 350)
[37] -
Roman Jakobson, Linguistique et poétique.
[38] - designa a diversidade irredutível dos tipos
discursivos.
[39] - Le discours dans le roman (1934 -1935).
[40] - O discurso difónico, ou bivocal,
caracteriza-se pelo facto que ele não é só representado mas reenvia
simultaneamente a dois contextos de enunciação: o da enunciação presente e o
duma enunciação anterior.
[41] - Sudivisões: a paródia, a estilização, ou a
ironia ( que é apresentada aqui como uma variante do discurso de dupla
enunciação).
[42] - Esta zona é formada pelos semi-discursos
das personagens, pelas diferentes formas de transmissão escondida do discurso
de outrém, pelas palavras e as expressões dispersas deste discurso, pela
intromissão de elementos expressivos estrangeiros no discurso do autor
(reticências, interrogações, exclamações)... (21, 129-130).
[43] -
“Variação”: Ici un seul langage est actualisé dans l’énoncé, mais il est
présenté à la lumière d’un autre langage.
Ce deuxième langage ne s’actualise pas, il reste en dehors de l’énoncé.” (21,
174)
[44] - Trata-se da tendência do romance a
reproduzir uma pluralidade de línguas, discursos e vozes.
[45] -
Je dois éprouver - voir et connaître - ce qu’il éprouve, me mettre à sa
place... (3, 24-26)
[46] -
L’activité esthétique ne commence proprement que lorsqu’on revient en soi et à
sa place, hors de la personne qui souffre, et qu’on donne forme et finition au
matériau de l’identification. (3, 24-26)
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