15.6.13

Contra o dictat de um iluminado

Milhares de professores desceram do Marquês de Pombal à Praça dos Restauradores, vindos de todo o país para dizer NÃO! Fizeram-no a um sábado depois de terem passado uma semana à espera que o ministro Crato decidisse dar início a um diálogo rigoroso e sério – adiaram as reuniões de avaliação dos seus alunos, cientes do prejuízo para a comunidade educativa,  e preparam-se para fazer greve aos exames no dia 17. No íntimo, nenhum destes professores quererá fazer esta greve! No entanto, muitos acreditam que este é o caminho para fazer estancar a política de terra queimada em curso…
(Infelizmente, eu temo que o problema seja mais profundo e mais global: o neoliberalismo vai lançando um pouco por toda a parte as sementes que conduzirão a uma guerra sem quartel. O que, no meu entendimento, nos obriga a procurar outras armas – as da inteligência – para desmontar o discurso obscurantista dominante. Por isso, não estou tão seguro de que a greve aos exames seja o argumento mais lúcido no combate que nos espera…)
Entretanto, seria bom que o ministro Crato abandonasse a estratégia divisionista que tem seguido até ao momento. Em matéria de educação, desde o início da legislatura, que temos assistido ao dictat de um iluminado que faz faz tábua rasa da experiência acumulada. É  como se antes de ele nada mais houvesse do que o caos!

14.6.13

Muda-se a lei...

Sobre a greve aos exames, Passos Coelho dixit: Muda-se a lei e o problema fica resolvido!
Os tiques de autoritarismo do governante deveriam ser combatidos com um simples slogan: Muda-se o Passos e o problema fica resolvido! Mas não! Sobre o assunto, o Seguro não se pronuncia, limita-se a apelar ao consenso.
 
Contra o autoritarismo e o oportunismo, irei participar na manifestação de amanhã, 15 de Junho. Será a 2ª vez que o faço desde abril de 1974. Em 1974, o motivo da minha participação foi de aplauso, amanhã será de rejeição. 
A partir de 2ª feira, deixarei de fazer greve, e tomo esta decisão porque não possa pactuar com a vacuidade das ideias (das soluções) ou com qualquer forma de messianismo, seja ele de direita ou de esquerda.     

13.6.13

A dieta e a política

Gosto do cartaz! O futuro ex-presidente, entroncado e pujante, faz avançar o delfim, um pouco mais magro, mas que já partilha a gravata e o alfaiate…Um dia partilhará a gordura, mas sem sinal de colesterol ou de triglicerídeos. É uma gordura fina, porcina… mas nobre!

E não posso deixar de me sentir confiante: nenhum deles passou fome até ao momento! Eu aprecio um autarca rotundo à entrada de uma qualquer rotunda. É sinal de prosperidade!

Entretanto, quando olho para o Borges, para o Passos, para o António Saraiva…, preocupa-me aquela magreza. Será da dedicação à causa pública? Estarão doentes? Ou também haverá uma magreza fina!  

E, finalmente, não consigo enquadrar nem o Cavaco nem o Gaspar! Lembram-me o Salazar! Chova ou faça sol, estão sempre na mesma…

12.6.13

Sobressaltos

Hoje bem poderia nada escrever! No entanto, vou dar conta de situações que me perturbam:
a) Na Grécia, o Governo manda encerrar o serviço público de televisão e de rádio porque custaria 100 milhões de euros aos contribuintes. A Comissão europeia, entretanto, sacode a água do capote, mas a Troika está no terreno. Em Portugal, o ministro Maduro esclarece que, quanto à rádio e televisão públicas, não corremos qualquer risco. Que se saiba a Troika chega mais tarde a Portugal!
b) Em Estrasburgo, o Presidente Cavaco disserta sobre a situação portuguesa com clareza, mas também com a certeza de que o nosso destino está nas mãos da Alemanha. Ali, em Estrasburgo, os motores da economia deixaram de ser a agricultura e o turismo.
c) Em Santarém, deliciados com as primícias, os bovinos, os caprinos, sem esquecer os ovídeos, os láparos e os porcinos, Coelho e Cristas percorrem a Feira da Agricultura.  Algo assombrava, contudo o primeiro ministro: uma qualquer comissão arbitral ousou contrariar a vontade do ministro Crato.
d) Um Despacho normativo sobre a organização escolar 2013-2014 continua à espera de publicação oficial. É constituído por 29 páginas. Há lá matéria que vale a pena ser debatida e considerada, mas ninguém quer saber disso!
e) Em matéria de avaliação externa, há tal confusão que os Diretores de certos Agrupamentos de escolas se permitem fazer tábua rasa de procedimentos e de prazos definidos em decretos regulamentares.
(...)
 
 
 

11.6.13

Em greve...

Como o governo neoliberal do senhor Borges tudo quer privatizar em troca de empréstimos que só servem para destruir os povos, vejo-me obrigado a entrar em greve.
Não sou de aqueles que pensam que a culpa é do Sócrates, do Cavaco, do Coelho ou do Gaspar. Eu penso que a responsabilidade é da doutrina neoliberal que, depois de ter destruído a América Latina e a Europa Central e do Leste, decidiu destruir parte da Europa Ocidental.
Custa-me até aceitar que, neste contexto de greve às avaliações, haja dirigentes que olhem esperançadamente para S. Bento ou para Belém. Esses dirigentes sabem perfeitamente que os Passos e os Cavacos por mais promessas que façam estão de mão atadas, tal como todos nós!
Eu, por exemplo, estou em greve e, ao mesmo tempo, passei todas estas horas a preencher o anexo II da avaliação externa de dois docentes. Isto é, estou em greve e ao mesmo tempo ao serviço de um patrão que aluga gratuitamente os meus serviços, porque sabe que nunca os pagará.
Esta é a essência do neoliberalismo que, caso os meus serviços valessem alguma coisa, estaria disposto a vendê-los a um país "amigo".
No final, estaremos todos mais pobres e os "amigos" bastante mais ricos!   

10.6.13

Este é o dia da situação

Este é o dia em que não citarei Camões nem qualquer outro poeta ou prosador. 'Citação' e 'situação' confundem-se e estão nas praças para celebrar um outro povo que não este!
Este é o dia em que poderosos e incógnitos assessores percorrem à pressa as estantes à procura dos versos que melhor dão conta da glória passada e da prosápia presente.
Este é o dia em que o presidente não deixará de citar os ilustres e incógnitos assessores porque a legitimação da situação assim lhe convém. 

9.6.13

Duas instalações na Gulbenkian


Hoje fui à Gulbenkian! Ao atravessar o jardim, deparei com uma “instalação” em construção. Um projeto de cabana para dar conta da nossa imagem de África. Só faltam os nativos!
Lá dentro, uma outra “instalação” CLARICE LISPECTOR – A HORA DA ESTRELA. A leitura reduzida a enunciados murais destacados das obras. Uma entrevista à autora, em monólogo interior, sobre estados de alma em torno da transparência vs hermetismo do discurso.
Mais do que o conhecimento da obra, o que ganha monumentalidade é o enorme gaveteiro que o visitante pode abrir para observar obras e manuscritos vários da correspondência da autora.
Em comum às duas “instalações” a preocupação em despertar o deslumbramento visual!
Quando a pobreza cresce, o barroco ganha terreno…