24.9.16

Chamar "cão" ao outro...

«...as bases do PS e da JS estão cheias de cães. Para não dizer mesmo alguma 'canzoada' ao estilo de João Araújo.» Não refiro o autor da afirmação, pois odeio o estereótipo.

Chamar "cão" ao outro é um insulto medieval que era resolvido no campo de batalha. Basta ler os cronicões e  as crónicas - sem esquecer OS LUSÍADAS -  para dar conta do tratamento a que eram submetidos os mouros, os castelhanos, os judeus e os indígenas africanos e asiáticos.
Em pleno século XXI, há quem insista em recorrer à mesma terminologia, apesar da confessada devoção à doutrina do Papa Francisco.
Felizmente, o Papa atual nada tem a ver com o fanatismo medieval. Pena é que os seus seguidores não consigam acompanhá-lo no  ecumenismo e, principalmente, na forma impoluta como trata os que discordam da sua doutrina e condena os que insistem na violência...

23.9.16

De momento

De momento, nem sol nem lua! Até o momento mais não é do que verbal ilusão... e tudo o que vem é infinita repetição...
De qualquer modo, vou ver se o elevador não falha a sua missão...

21.9.16

O muro de Calais

À Calais, Londres finance l’édification d’un mur végétalisé en béton haut de 4 mètres et long de 1 kilomètre pour sécuriser la RN16, la nationale qui mène au port et longe la « jungle », le bidonville où vivent 6 900 réfugiés selon la préfecture (plus de 9 000 selon des associations) désireux, dans leur grande majorité, de se rendre au Royaume-Uni.
Le mur, d’un coût de 2,7 millions d’euros, doit également être équipé de caméras de surveillance.
                      Le Monde.fr avec AFP

Desde cedo, o homem aprendeu a edificar cercas. Primeiro, com o argumento de que precisava de se proteger dos animais. Depois, com o argumento de que precisava de se defender dos homens que lhes queriam assaltar a cerca...
De cerca em cerca, o homem chegou à fronteira. Delimitou tudo o que pôde e chamou-lhe seu, mesmo que isso significasse apoderar-se de tudo o que fazia falta ao outro...
Entretanto, para que a memória do outro - animal, mineral, homem - não se perdesse, elevou-lhe museus, estátuas, ciências e bibliotecas, sem se esquecer de os arrumar, segundo o mérito do conquistador, do filantropo... 
Nas prateleiras da memória, os muros são intermináveis - construídos e demolidos - sem qualquer proveito, pois aqueles que se orgulham de ter defendido a liberdade, a fraternidade e a igualdade, são os mesmos que edificam novos muros de betão coberto de musgo...            
                

20.9.16

Os dias não existem

Estou numa fase em que não consigo perceber o que se passa à minha volta. Uns andam ocupados, embora insatisfeitos; outros, andam ocupados sem nada ganhar; outros, andam simplesmente sem nada fazer - não esquecendo os que fingem que andam ocupados, de tal modo que parecem mais cansados do que os restantes...
O problema deve ser meu que me gasto a tentar compreender o curso dos dias, como se eles seguissem algum rumo.
A verdade é que os dias não existem; só o sol e a lua cumprem a rotina de nos obrigar a procurar uma ocupação, sem a qual mais não somos do que areia por desfiar.

19.9.16

O arguido

O advogado estava a ajudar um cliente a resolver um problema corrente, quando a autoridade entrou portas dentro. O objetivo do Ministério Público era apreender documentação que permitisse fundamentar um dos casos de circulação não autorizada de capitais, envolvendo políticos, empresários, entidades bancárias nacionais e estrangeiras...
Feito arguido, o advogado ficou à espera que o caso fosse deslindado. Até hoje! Já lá vão cinco anos...
Ser arguido, em Portugal, significa ficar limitado, impedido, por exemplo, de se apresentar num qualquer concurso público, de redefinir a vida profissional.
No caso em causa, já houve quem tivesse sido preso e mais tarde posto em liberdade. Sem acusação até à data!
(...)
Lembrei-me do arguido, quando esta manhã, por volta das 7 horas, à saída da Portela, me cruzei com um pelotão de agentes musculadamente armados e que cercavam três barracas de ciganos e dois ou três machos... mulas, cavalos, sei lá! Provavelmente procuravam armas, droga ou algum foragido... Ao atravessar o dispositivo policial, pensei será que não corro o risco de ser feito arguido?
Na minha idade, ser arguido já não põe em causa o meu futuro, mas se tivesse apenas 30 anos, como seria? 

   

18.9.16

O psiquiatra

A psiquiatria é a ciência dos sintomas de perturbações invisíveis da mente... Se assim é, porque é que os psiquiatras se limitam a observar (a ouvir) os supostamente afetados?
Creio que o diagnóstico e o tratamento seriam muito mais seguros se estes profissionais do «mistério» se dessem ao trabalho de ouvir a família, os amigos, os colegas de trabalho... isto é, se conhecessem o meio em que o «doente» evolui...
Aflige-me que haja casos em que o psiquiatra aumenta e diminui a dose de uma certa "substância" só porque o doente lho sugere por telefone.
Não consigo entender como é que um psiquiatra pode avaliar o "estado" de um indivíduo sem sair do gabinete... cobrando em média 100 euros.

Este apontamento é, em parte, resultado da leitura do testemunho do psiquiatra - José Luís Pio de Abreu, autor da obra "Como Tornar-se Doente Mental":

«A Psiquiatria está em crise, mundial. Ainda ninguém sabe o que é a mente. (...) Escreve-se mais do que se lê. Existem instrumentos, o problema é saber se são bem usados. Há muitas ofertas da psicologia e psicoterapia, o problema é a orientação no meio desta selvain Público, 18 de set. 2016

17.9.16

Uma corrente intempestiva e de fogo

As imagens que dão conta do fluxo ininterrupto são diluvianas e vulcânicas - uma corrente intempestiva e de fogo que engole e devora todo e qualquer obstáculo...
Ao obstáculo só resta deixar-se submergir e consumir na expetativa de que o fluxo se esgote, ainda que por pouco tempo...
Claro que do lado de lá, há sempre quem se alimente do rio, que mansamente mergulha no oceano, e do sol que insiste em acariciar o terreiro em que repousa...