24.10.16

Das palavras, hoje

Umas são caras, outras raras, sem esquecer as feias - as palavras.
Hoje, aprendi que "discípulo" é uma palavra feia.
Ontem, descobri que há palavras inefáveis, de tão raras. Por exemplo, "polissénantica"!
Há dois dias, soube que 'obsceno' é o termo adequado ao nível lexical da "oratória".
Há até palavras que mudam de fatiota de acordo com a essência do locutor: "incenscial", "icensial", "incensial"
- Que tal vai a mixórdia? Numa versão de última hora: - Que tal vai a "michórdia"?

23.10.16

No museu de Cerâmica de Sacavém


Por mais que o queiramos ignorar, a verdade é que envelhecemos, o que não quer dizer que o tempo passe e, sobretudo, que tudo possa desculpar, em particular, a mistificação.
No Museu de Cerâmica de Sacavém, duas exposições a não perder: uma sobre os móveis OLAIO, empresa que não conseguiu sobreviver aos ventos democráticos; outra sobre a Fábrica de Loiça de Sacavém, definitivamente perdida, no dia em que as FP25 assassinaram o administrador, Diamantino Bernardo Monteiro Pereira. 
A visita a estas duas exposições é um bom testemunho do que aconteceu em Portugal com o desmantelamento de muitas empresas, apesar do slogan de Abril SACAVÉM EM LIBERDADE É OUTRA LOIÇA!... 

22.10.16

Woody Allen, 2016

Resultado de imagem para Café SocietyNovo filme, bem realizado, simpático, com os temas de sempre, embora com um ajuste de contas entre Hollywood e Nova Iorque. Os judeus noviorquinos, para o bem e para o mal, superam a artificialidade hollywoodesca.
Claro que há outras contas por ajustar entre o judaísmo e o cristianismo, entre a identidade e a alteridade...
E, principalmente, na música e nos amores, o que predomina é a autorreferencialidade, mesmo que o  realizador já tenha dobrado o cabo dos 80 anos...

Quanto ao público, na maioria, já dobrara os 60 anos... e continua a rir, como sempre... Por vezes, parece que ri de si próprio.  

21.10.16

Sibilas ressabiadas

"Vem aí mau tempo. Inundações e cheias nos próximos dias" - diz a notícia... que prevê. Outrora, a notícia informava.

E nós, indiferentes ao oráculo! E nós, desconfiados do oráculo, pois este só anuncia a catástrofe quando pode tirar proveito ou, pelo menos, tomar partido...
No que me concerne, detesto a astrologia, sobretudo, porque ela passou a ditar os acontecimentos que bem podiam ser diferentes se não lhes dessemos tanta atenção.
As notícias são cada vez mais promessas de sibilas ressabiadas. A comunicação social está pejada dessa espécie satânica, e o mal que provoca é incalculável...

20.10.16

Viva a Propaganda!

Mário Draghi: «...são necessárias reformas ambiciosas e o governo português sabe disso

Há anos que, por esta altura, surge este estribilho. É o momento em que se apresenta e debate o OGE.
Mudam os Governos e o estribilho regressa. O que me intriga é que ninguém explicita quais são as reformas adequadas ao país... e na verdade, nos últimos anos, não foi feita qualquer reforma, a não ser cortar nas reformas e... adiar as reformas... 

O resto é propaganda! Finge-se que se repõem vencimentos e reformas, mas não é possível repor o que se perdeu ou o que se não progrediu, até porque, em simultâneo, as taxas e as multas multiplicam-se... O que diminuiu foi o consumo, embora se persista em insistir no contrário...
Entretanto, em finais de 2016, seremos menos 0,4%!

PS. Reposto o vencimento de  2011, aplicadas as deduções referentes à ADSE, CGA e IRS, acabo de verificar que passei a receber menos. Viva a Propaganda!

19.10.16

Riem em coro...

Eles não sabem, nem sei se algum dia chegarão a saber, mas deste modo não irão a lado nenhum... O esforço é mínimo, a convicção máxima; já pouco lhes resta por aprender.
Provavelmente, argumentarão que já não há onde ir, e que eu há muito o devia saber - o país já foi; resta uma múmia para turista visitar.
Entretanto, riem em coro, não sabendo porquê, talvez do que 'acham' ver: ninguém pensa, imagina, estima, acredita, crê... apenas 'acha', e 'acham' a todas as horas, em todos os lugares, independentemente da situação, porque estas são todas iguais, as situações...
Alinhados, lembram-me os periquitos de colar, uma espécie exótica que esvoaça ruidosamente sempre que um espectro se move na copa dos plátanos...
O que parece gratuito e absurdo é, afinal, consistente e lógico!

18.10.16

E eu nada posso!

Agora que a persiana voltou a subir, a luz dilui-se na fachada, e, por cima do prédio, as nuvens cinzentas imobilizam-se numa promessa ambígua, apesar do braço do Tejo, sequioso, serpentear o verde aluvião resultante do desleixo humano...
A fachada divide-se, agora, em duas, e no topo, a luz torna-se mais solar; por seu turno, o rio escurece à espera que a nuvem cumpra o seu destino.
Os olhos distraem-se da atenção do dia - ruas cheias de manjedouras, intermináveis filas de carros, leituras cruzadas na sala de aula -, perscrutando quatro parabólicas de antanho, esquecidas ou que, talvez, esperem captar um qualquer sinal extraterrestre...
Entretanto, a luz continua a subir a fachada, deixando as persianas na sombra... as nuvens estão, agora, numa fase de diluimento, alongando a toalha, ambígua, sobre o Tejo, à esquerda...
E eu nada posso!