18.3.18

Entendo. Já não precisamos de pensar!

Entendo. O inferno é dos outros. Aqui, no nosso céu, tudo corre bem. Chove, mas a chuva é precisa, embora, por vezes, se alargue um bocado por culpa alheia, humana...
Agora, está na moda aderir... O que é necessário é estar pronto. Para pensar? Não. Incomoda. 
É mais fácil sair do redil e gritar em uníssono. Afinadinhos, de preferência. Plutôt. ( Podia escrever isto em francês, mas para quem?)
Anda no ar, um certo espírito corporativo. O coletivo move, impõe, não uma ideia mas uma palavra-de-ordem. Anda no ar um certo espírito de cruzada - desperta por aí uma alma coletiva, capaz de sacrificar a vida de cada um de nós.
Já não precisamos de pensar!

17.3.18

No Inferno

Lá para trás, fica a ideia bíblica do Inferno, sem esquecer o Hades, e também a de Dante, as diversas masmorras inquisitoriais, os campos de extermínio nazis e da ordem nova... da indochina e da sibéria...Outro tempo!
Mas neste tempo, em que matámos a memória, o Inferno reacendeu-se na velha europa humanitária de hipocrisia, de fingida humanidade...

(Judith Vanistendael deslocou-se de forma ilegal, no final de 2017, ao campo de refugiados de Moria , na ilha grega de Lesbos, tendo desenhado, de memória, uma narrativa de dez páginas...

16.3.18

Não há pior carrasco...

Não há pior carrasco do que aquele que se prepara para ser carrasco de si próprio - come a sopa porque lha dão, não porque compreenda ou sinta que o seu corpo precisa dela... Ou não come a sopa porque decidiu que ela o pode enfraquecer...

'De que me serve debater uma obra com os meus pares, se eu, afinal, não a quero ler. Para quê lê-la se há por aí tantas outras, todas cansativas.'
'De si, meu carrasco, espero que leia por mim e que se limite a fornecer-me a chave necessária a franquear aquela porta, que dizem ser, do futuro de mesa farta...'

Esta é provavelmente uma forma menor de inteligência artificial... O problema é que uma forma superior de inteligência artificial poderá não ter paciência para aturar caturrices...
'Paciência' é a nossa forma dizer 'imaginação', isto é, a capacidade de ler fora da "caixa"...

15.3.18

É uma pessoa cobarde...

«É uma pessoa cobarde porque está a lutar pelas suas ideias.» Anónimo

Reviro: Quem luta pelas suas ideias é uma pessoa cobarde.
Extrapolo: Quem luta pelas ideias dos outros é uma pessoa corajosa.
Reviro: É uma pessoa corajosa porque está a lutar pelas ideias dos outros.
Imagino: Quem não luta por ideias não é pessoa.
Afirmo: Não é pessoa quem não luta pelas suas ou pelas ideias dos outros.
Anseio: Entre ser e não ser pessoa deve haver um qualquer intervalo que permita compreender a asserção do anónimo.

Findo: as pessoas cobardes e as pessoas corajosas vão ser multadas porque não limparam os terrenos até à data de hoje, mas se forem corajosas até 31 de maio, as coimas esfumar-se-ão...

14.3.18

O tempo de Stephen Hawking (1942-2018)

Embora se insista na necessidade de rever a matriz curricular, na reformulação da metodologia de aprendizagem, não tenha encontrado uma verdadeira estratégia. Por exemplo, não vejo, no âmbito da leitura, qualquer recomendação no sentido de que Uma Breve História do Tempo possa ser um texto motivador e estruturante para as novas gerações...

Por isso, aqui, registo duas ideias  para quem queira abordar a vida, livre de preconceitos:

 a) «Uma teoria é boa quando satisfaz dois requisitos: deve descrever com precisão um grande número de observações que estão na base do modelo, que pode contar um pequeno número de elementos arbitrários, e deve elaborar predições futuras definidas sobre os resultados de observações futuras.»
b) « Qualquer teoria é sempre provisória, no sentido de não passar de uma hipótese: nunca consegue provar-se.»

Com ele aprendi que todas as respostas são provisórias e passíveis de reformulação... mesmo as que se referem a Deus.

12.3.18

Um dia, ofereceram-lhe uma cadeira...

A polémica associada ao convite do ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas a Pedro Passos Coelho para que assuma funções como professor catedrático nesta instituição assumiu hoje novos contornos com o lançamento de uma nova petição, desta vez por parte de professores e investigadores universitários. Indignidade


O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas comemorou um século de existência em 2006. A sua génese remonta ao terceiro quartel do século XIX quando, em 1878, na recém-criada Sociedade de Geografia de Lisboa, foi aprovado um designado Projecto de uma Escola de Disciplinas relativas à Terra e à Gente e às Línguas do Ultramar Português – Curso Colonial Português. Através do ensino e da investigação científica, o objectivo era o de responder à ameaça do avanço das potências europeias em África, materializado na Conferência de Berlim de 1884-85, criando um corpo especializado de administração pública de nível superior que ocupasse os territórios colonizados por Portugal.

Não compreendo a razão de tal indignação. O homem esteve à frente do Governo de Portugal entre 2011 e 2015, eleito e reeleito... Algum mérito teria... alguma coisa deve ter aprendido com os novos colonizadores... Alguns dos mecanismos de domesticação ainda ativos são da sua autoria... alguns dos que agora o contestam votaram nele, devem-lhe favores...em último caso, não foram obrigados a emigrar...
Certamente que não querem que o homem emigre ou se auto-exile, indo ensinar lá fora como  fomos capazes de transformar Portugal numa colónia chinesa... 
Um dia, ofereceram-lhe uma cadeira e agora querem que o homem se sente no chão ... querem que ande de cavalo para burro... afinal, a 'cátedra' mais não é do que a forma erudita de cadeira´...

11.3.18

O 11 de março de 1975

Desse dia, 11 de março de 1975, ficou-me sempre a sensação de que algo regredia...
No Liceu Passos Manuel, onde começara a lecionar em janeiro desse ano, a luta entre a UEC (União dos Estudantes Comunistas) e o MRPP ( Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado ) ia acesa, impedindo o normal funcionamento das aulas - o conflito entre os estudantes destas duas organizações era claro. A palavra dos professores só era escutada se alinhada...
Uns eram perseguidos e outros seguidos, não pelo que ensinavam mas pelo que era suposto representarem ideologicamente... No entanto, ficou-me a ideia de que uns tantos professores se movimentavam bem no torvelinho...
A ação reivindicativa instalou-se nas salas de aula e nos conselhos de turma extraordinários, introduzindo um conceito de igualdade em que o número era impositivo e a cortesia aniquilada.
Convém, no entanto, esclarecer que a ideia de regressão era minha e inconfessável pois, no Liceu / Escola Secundária, reinava a mesma euforia que na Faculdade de Letras de Lisboa, em que, à época, se deitavam paredes abaixo e se acabava com a Filologia Românica, decompondo-a em Linguística e Literatura...
Apesar do avanço revolucionário conquistado em março e interrompido em novembro, ainda hoje tenho a sensação de que muito do "espírito camarada" persiste nas organizações e determina o rumo, mesmo daqueles que nasceram depois do 11 de março de 1975...