20.9.18

Dentro do espelho

«- Quem tem poder, se tem poder, quer que o vejam.
- Porque a política é um espelho - disse o outro. (…) 
- Mas o espelho está sempre presente - disse o outro. (…)
- A verdade é que um espelho é a televisão - disse o caixa.
- Exacto - disse o outro. Um espelho que guarda as caras.
- Tem-nas todas lá dentro e quando nos olhamos vemos a cara de outro.»
                                   Ricardo Piglia, A Cidade Ausente

Quando os estímulos exteriores são muitos, recolho-me na leitura. Só que ela devolve-me o circo… Por mais que faça, não escapo à greve dos enfermeiros, à paralisação dos taxistas, à lição do Professor Marcelo Rebelo de Sousa. 
Todos eles se movem na «caixa», alardeando poder. Todos eles «estão ali» à espera da minha sujeição, do meu reconhecimento…

Atualização

Neste setembro, os plátanos continuam com as mesmas virtudes e os mesmos defeitos, embora sob dupla ameaça - ou os arrancam e a obra avança, ou a obra é adiada, apesar do verdadeiro motivo ser outro.
Tudo se mantém, à exceção de quem deles se ocupava abnegadamente - está de partida…

19.9.18

Da vida nada lhes interessa

Não sei se todos procuram a notoriedade, mas desconfio que sim. O caminho é que parece não oferecer dúvida desde que seja mediático.
Não duvido das suas capacidades - nem as quero avaliar -, mas desconfio que estão convencidos de que pouco serve esforçarem-se, de que o mérito já teve melhores dias, apesar de não quererem saber quais…
Embora alguns saibam que, n'Os Lusíadas, o Poeta vivia amargurado porque os homens do seu tempo nenhum valor atribuíam ao empenho (e desempenho) dos seus antepassados, a verdade é que a glória abonada pela ociosidade, pelo saque e pelos privilégios lhes parece natural…
A imagem tem hoje um tal estatuto que os anjos sem rosto já nem necessitam de penumbra. 
No olimpo das nossas retinas e dos nossos tímpanos, há cada vez mais famosos da Hora - sorriem, dão gritinhos agudos, silabam contentamentos fúteis e mesquinhos... 

18.9.18

A viver no Paço

Não sei se o problema é das calças, se é do sapateiro, se de ambos. No entanto, compreendo que o melhor é esquecer o protocolo, enviá-lo para o museu. A bem da nação, a Sul, o protocolo é colonialista…
O que interessa são os negócios do futuro, de preferência, que os do passado ainda eram resquícios da exploração colonialista.
Vamos lá alinhavar uma parceria fraterna, em que a razão seja determinada pela emoção, esquecendo o ensinamento do Poeta que, apesar da sua experiência austral, nos quis convencer que o coração só servia para entreter a razão…
Por aqui, o problema é o de sempre! Continuamos a viver no Paço...

17.9.18

Talvez, a mãe

Nem a cretinice mata a esperança, nem a desilusão me faz perder a razão. Claro, há enganos, alguns piedosos. Compreende-se que os olhos só vejam o que a vontade lhes ordena - o empirismo pode ser demolidor…
Claro que esta manhã não seria igual a si própria sem um pouco de empáfia - reiterada. E sem os ruminantes costumeiros, sem esquecer os inomináveis…
De tudo o que fica, só a saúde vale a pena. O resto é empréstimo a fundo perdido, embora não saiba se alguém avisou o Costa - talvez, a mãe. Mas quem ouve as mães? 

16.9.18

A mentira do SOL e a verdade de João Costa

«O TALIS é um inquérito respondido diretamente por professores e diretores sobre condições para o exercício da profissão docente: desenvolvimento profissional, ambiente, condições de trabalho, liderança, gestão, carreiras, etc.» (João Costa)
A primeira assenta na arte de empastelar; a segunda, na arte de responsabilizar os inquiridos. Afinal, eles é que fornecem os dados errados...
E os professores continuam a marcar passo, tal como o país…

Hoje, informa-se primeiro e investiga-se depois, caso a mentira seja descarada… Por seu turno, os governantes persistem no erro de pensar que nos deixamos iludir com qualquer estatística levada a cabo por aprendizes de sociólogo e de linguista...

15.9.18

A fingir

«É difícil saber-se se uma pessoa é inteligente ou se é um imbecil a fingir que é inteligente.» Ricardo Piglia, in A Cidade Ausente

A fingir sem nada criar.
Quem cria é inteligente! Como diria Pessoa, é um fingidor. Mas este é exceção.
Temos assim dois tipos de fingidores: um inovador; o outro impostor… O último, por vezes, age involuntariamente, segue a mediocridade do meio, acreditando que o modelo é suficiente - bastará copiá-lo para poder singrar…
Estou de regresso à tarefa de fingir que sou capaz de distinguir, para além da carapaça, os criativos dos imbecis. Para o efeito, mais do que ver, vou necessitar de ouvir atentamente, sem me deixar iludir por essa cascata de ouropel que nos cerca...