12.12.18

Da ansiedade juvenil

Acordam tarde, sem tempo para tomar o pequeno almoço... Arrastados para escola, chegam atrasados, «por culpa dos pais, do trânsito, dos transportes…» 
Entram na sala, indiferentes ao que acontece, desculpas esfarrapadas, sentam-se e desatam a conversar ou, então, adormecem...
Os manuais dormem nas sacolas. O professor invisível procura um fio condutor que regista inutilmente no quadro, pois o Google que tudo explica está ali mesmo à mão.
Tudo corre bem até que o final do período se aproxima... E aí a angústia desperta, a preocupação com a autoavaliação torna-se evidente... como se esta fosse um direito penosamente conquistado...

11.12.18

O terceiro estado de vítimas em potência,

O terceiro estado é constituído pelos doentes, pelos idosos, pelas crianças, pelos alunos, pelos passageiros trabalhadores,  pelos presos, pelos migrantes, pelos refugiados, pelos proscritos… e por tantos outros aqui não mencionados…

Admitindo a existência deste terceiro estado de vítimas em potência, eu simplesmente não compreendo qual é o papel do Estado nos atuais conflitos laborais, até porque sempre pensei que ao Estado competia proteger o terceiro estado…
E também creio que é competência do Estado averiguar quem é que está a financiar o movimento grevista, caso contrário ainda nos acontecerá o mesmo que ao Chile de Allende, em 1972...

10.12.18

Oblívio

Moscavide
Andava o aluno à procura de um complemento oblíquo e escorregou-lhe a pena para o oblívio. Castigador, chamei-lhe a atenção para o desmando lexical…
Entretanto, acabo de saber que a obra Oblívio, de Daniel Jonas, acaba de ser recompensada com o Prémio António Gedeão de Literatura, instituído pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof)…

Para que não caia no olvido (ou no oblívio), lanço desde já um desafio à Fenprof: - Não esqueça que há outros poetas   merecedores do galardão: Por exemplo, o professor (aposentado) Silva Carvalho e o professor (em exercício) António Souto.

9.12.18

Um fantasma apressado

Moscavide
Os peixinhos não sabem gramática, mas têm riscas. Têm riscas e não vivem na penitenciária…Viajam, sem rodilha, na cabeça de um fantasma apressado, sob o olhar envergonhado e surpreendido de um mirone azulado..
Eu que penso que sei gramática, não tenho riscas, mas vivo apresado com um dicionário sempre ao lado… Já não viajo… e sinto-me a todo o momento acossado pela «vossa palidez romântica e lunar», na intuição de Cesário… que, nele, era mais uma forma de dedução…
Os peixinhos não precisam de ler o caminho ou leem, apesar de desconhecerem o que é a leitura, e seguem adiante na cabeça de um fantasma apressado…
E depois há uma outra presença no mural que o peixinho parece não querer ver. Talvez que eu esteja atrasado… mais valia viajar, sem rodilha, na cabeça do fantasma apressado.

8.12.18

Afunilado

O título de hoje parece-me ousado, mas estou com a sensação de me ter transformado num funil que, meio sedimentado, soluça a insensatez juvenil dos meus interlocutores que acreditam que o futuro passa bem sem a leitura…
Ler é, para eles, uma atividade antiquada de quem não tinha mais nada para fazer - era definitivamente uma forma de passar o tempo. Ora hoje há outras formas mais 'pró-ativas' de o fazer, mais dinâmicas, mais interativas ou, até, mais autofágicas.
Numa certa perspetiva, da leitura só se aproveita o VER... a imagem, pois a ideia aprisiona…
Contudo, ainda há exceções, com a particularidade de escreverem razoavelmente, de terem uma ou outra ideia…

7.12.18

A lupa revisionista

Para quê dar o nome de um escritor a um aeroporto? No caso, o do poeta Pablo Neruda, prémio nobel em 1971.
Por seu turno, as feministas chilenas pretendem que o aeroporto de Santiago seja batizado com o nome da escritora Gabriela Mistral, prémio nobel em 1945...
Argumento: Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto (Pablo Neruda), o homem, terá desrespeitado a dignidade das mulheres…
Compreendo o argumento e condeno a prática, mas creio que, para o bem da poesia, o melhor seria deixar os poetas de fora desta mania de batizar aeroportos, aviões, barcos, praças, ruas e vielas… 
Afinal, o que é que se espera de um poeta? Versos…

6.12.18

O alcance das palavras

O cuco do Freixial
-Marido cuco me levades
e mais duas lousas.(Inês Pereira)
- Pois assi se fazem as cousas. (Pêro Marques)

Traído, insultado e abusado, Pêro não compreende o alcance das palavras da fogosa esposa…
De que serve o estudo? perguntaria Cesário…
De nada, pois, mesmo se incipiente, a memória o apaga… delita…