14.10.20

Sem passar pelas palavras


Apenas a música passa das notas às frases, que só fazem sentido se apreendidas globalmente. Eu não sei nada de música!
De palavras, sei um pouco mais. Sei que são constituídas por fonemas e que sem eles não há frases verbais… O problema é que somadas não fazem sentido - falta-lhes a coesão da história.
Mas isso pouco importa, a história deixou de explicar o passado e apontar o futuro. Estamos de regresso ao tempo dos mitos cuja função parece ser a de justificar a identidade clânica. 
Longe de qualquer clã, sigo o movimento da nora sem, no entanto, conseguir a harmonia que rege o dia, mesmo quando nos anunciam tempos de amargura.

12.10.20

Em dias alternados


Dia sim, dia não, vou ao rabisco e não fisgo uvas, só engaços como se… Os bagos já lá vão e os prometidos parece que já têm dono.
Assim sendo, aproveito para ficar em casa, em vez de me enfiar na adega. Creio que já não faz sentido ir lá provar o vinho. Nem mesmo pelo S. Martinho!
Por aqui, o Natal chegou mais cedo, mesmo sem luzes, se quiserem vir, sempre se arranja um copo de vinho… Mas por favor, venham apenas dois ou três…

10.10.20

Andar ao engano

Quando se observa o número daqueles que 'entram' num blogue, fica sempre a impressão de que anda muita gente a navegar ao engano. Por que porta, perguntará o ironista.
Em geral, o número de leitores é reduzidíssimo, o que significa que os visitantes acidentais proliferam.
Seria interessante saber por que motivo tropeçaram em certos 'posts' e, em particular, o que procuravam… e certamente não encontraram.
Passam como os insetos, mas não deixam marca... não replicam.
Se me desse ao trabalho de expor o que tenho feito por estes dias, o blogue talvez fosse mais apelativo. Mas para quê tornar público o que é privado? Por outro lado, da informação colhida é melhor nem falar - ela é tão absurda, tão fantasista, tão maçadora e perigosa… infantilmente desastrada que, mesmo à beira do precipício, somos convidados a dar o passo derradeiro…
 
(Claro que me estou a referir a blogues desinteressados e desinteressantes como Caruma.)

9.10.20

Consumidores

«Hoje em dia estamos ameaçados pela perspetiva de sermos apenas consumidores, indivíduos capazes de consumir seja o que for que venha de qualquer ponto do mundo e de qualquer cultura, mas desprovidos de qualquer grau de originalidade.» Claude Levi-Strauss, O pensamento 'primitivo' e a mente 'civilizada'.

Não resistimos aos estímulos de toda a ordem que determinam as nossas ações, apesar de sabermos que o consumismo é fator de desigualdade social e de ruína física pessoal e telúrica.

7.10.20

Na hora do coveiro

«A ciência nunca nos dará todas as respostas. O que podemos tentar fazer é aumentar, lentamente, o número e a qualidade das respostas que estamos capacitados a dar, e isto, segundo penso, apenas o conseguiremos através da ciência.» Claude Lévi-Strauss, O Encontro do Mito e da Ciência.

Pois é, a Ciência anda tão esquecida ou, melhor, desrespeitada. E por quem? Por gente que nada sabe, mas que opina como se detivesse a verdade. 
Habituámo-nos a ouvi-los, a concordar e a discordar. Sobre o quê? Apenas, a vaidade, o momento... 
Do problema nada sabem … e nós continuamos a ouvi-los, a lê-los. 
E até votamos neles, mesmo que eles sejam os coveiros dos seus próprios irmãos.

4.10.20

A crença nas palavras


Há muito que o homem atribui à palavra a capacidade que lhe falta para explicar os acontecimentos, para explicar a sua própria origem. E com esse procedimento, as palavras tornam-se mágicas, tornam-se poéticas. 
As palavras ganharam vida própria, dispuseram-se em doutrinas, o que deu aos homens a possibilidade de agirem contra os seus opositores, chegando ao ponto de os mandar matar - em nome de Deus, em nome do Rei, em nome da Lei.
Hoje, as palavras continuam a cegar o homem que, irresponsavelmente, se esconde nelas para proclamar a segurança - vivemos num tempo que, perante o desconhecido, em vez de nos calarmos, insistimos na magia da palavra.
Insistimos na mentira da palavra…

1.10.20

O amanhã que foi


Correu tudo conforme o protocolo consignava. Eles cumpriram a parte deles. Eu cumpri a minha... quer dizer, estou a tentar cumprir…, pois ainda falta recuperar da intervenção, e, sobretudo, ter a sensação de que o perigo desapareceu. A certeza será do especialista, mas só em novembro…
Eles, os médicos, os senhores enfermeiros e outro pessoal do recobro tudo fizeram para que o ato cirúrgico decorresse com rigor e em segurança… Seis horas mais tarde, enviaram-me para casa com guia de procedimentos - acompanhando-me até à porta do veículo que me embarcava, não fosse eu perder-me nalgum corredor do hospital (Curry Cabral).
O SNS, neste caso, cumpre plenamente a razão para que foi criado. Até a UFS promete receber-me para o devido acompanhamento sem hora marcada, desde que o faça das 8 às 19h.
(A nota pode parecer hermética, mas não é. Falta-lhe a contextualização, mas tal fica para a programação das TVs.)