14.10.21

Ficar por dentro

Lá fora  há certamente alguma coisa. Se me concentrar, conseguirei ouvir os camiões a rodar, os cães a ladrar e os pássaros... os pássaros também a voar, vejo-os sem os amarrar. Eles é que me prendem o olhar, à espera do tsunami que virá do lado errado do mar. 

Lá fora ainda não sinto o odor do enxofre vulcânico, mas parece que vai chegar. Por iso decidi fechar as janelas, correr as cortinas e ficar-me simplesmente a matutar nas razões que me prendem aos ponteiros que não cessam de rodar...

Poderia ir até lá fora, mas não, está escrito que devo ficar por dentro, aborrecido por não saber quem gizou este rumo.

10.10.21

A árvore dos bicos

    A Paineira. 

Quando a observo, a Paineira lembra-me a Casa dos Bicos que, se fossemos rigorosos, seria a Casa dos Diamantes, à semelhança da Casa renascentista italiana (Ferrara e Bolonha).
Lá podemos encontrar a Biblioteca de José Saramago, apesar das bicadas.

Esta árvore cresce no Jardim do Campo Grande e creio que passa despercebida à maioria dos transeuntes. Ainda bem!
 
A Paineira pode atingir os 30 metros e, por volta dos 20 anos, liberta-se dos acúleos, dando abrigo aos ninhos dos pássaros que a procurem.

Fico-me por aqui, pois já começo a ver ouriços, esses têm  dezasseis mil picos e usam-nos para diferentes necessidades: camuflagem, defesa, ataque, transporte de comida. É obra!


9.10.21

Ainda o orçamento...

 


Como não nos ensinam a fazer um orçamento, o tema passa-nos ao lado, talvez porque sempre o vimos como um saco sem fundo... Mergulhamos a mão e alguma coisa havemos de encontrar, pouco interessa se o saco é nosso ou alheio...

Claro que lá de tempos a tempos, desatamos a enaltecer o ministro do orçamento, personalidade única capaz de acertar o deve e o haver, e quando tal sucede respiramos fundo, e deixamo-lo fazer o que bem entende, sem verdadeiramente nos explicar o milagre orçamental.

De facto, o nosso maior problema não é a ignorância orçamental, mas, sim, a ignorância tout court, embora saibamos que o que desejamos não é justo, pois só contribuimos se a isso formos compelidos... e parece que gostamos do empurrão!

Consta que o governo já terá aprovado o orçamento, contudo só a 26 de novembro ficará escrito. E, de acordo com a história recente, nunca chegará a ser regulamentado... o que deixa a entender que o ministro do orçamento já foi entronizado. A minha dúvida centra-se no titular da pasta: será Leão ou Centeno? Há mesmo quem diga que o Costa prepara remodelação e que, afinal. o mágico da execução se chamará Medina. 

A ver vamos!

8.10.21

O orçamento

 

Não sei o que é um orçamento e muito menos para que serve. No entanto, não se fala de outra coisa nos meses de outubro e de novembro. Bem, exagero, também se falou das eleições autárquicas nos últimos tempos; talvez  o Moedas tenha sido eleito a pensar no orçamento... Sem esquecer as eleições no Benfica, apesar do orçamento..., os comentadores televisivos parece que também vão a votos... alguns gostariam mesmo de assistir à morte das águias...
E depois há o Covid 19, quase esquecido, em nome do orçamento... Alguns, não querendo perder o emprego, apostam no reforço do SNS... querem lá da saber da saúde, o que interessa é viver da doença... 
Bazucam-nos permanentemente com números de insuficiência, de carência, de abundância, de desenvolvimento; só não nos explicam para que serve o orçamento... 

7.10.21

Obrigado, Bruno Vieira do Amaral!

 

(No dia em que o prémio Nobel de Literatura foi atribuído a Abdulrazak Gurnah de quem nunca ouvi falar, confesso.)

Conclui a leitura de Integrado Marginal, biografia de José Cardoso Pires, da autoria de Bruno Vieira Amaral

Há muito que não devorava uma biografia com tamanha celeridade! Fundamentalmente, por três ou quatro razões: a exposição da matéria, ordenada e clara; o tempo histórico, salazarista e abrilista; a afirmação literária de JCP e a ortodoxia de sinais opostos; os círculos artísticos, amizades e hostilidades confessadas ou silenciadas.

Para quem atravessou o tempo do biografado, lhe leu a obra, desconhecendo a trama que se ia tecendo nos bastidores, o trabalho exaustivo de 'reconstituição' da vida familiar, social, cultural e política de grande parte do século XX é deveras formativo, ajudando a compreender a pequenez do país e os assomos de protagonismo, raramente justificados.

Esta leitura não ajuda apenas a comprender as misérias e as grandezas de Cardoso Pires, dá também a conhecer outras facetas de vultos de todos bem conhecidos, nem sempre pelas razões mais dignas.

4.10.21

No dia 3 Agosto de 1961, o Renault 4 foi apresentado ao mundo


Também eu fui proprietário de um Renault 4L. 

Esta foto foi tirada em 1983, provavelmente, no pinhal de Leiria, perto de S. Pedro de Moel…

(O menino gostava imenso de o 'conduzir', indo, por vezes, ao ponto de o empurrar, colocando-se em risco para desespero dos familiares... Imaginem as letras que o petiz oculta: ?? -74-78!)

Comprei-o na Portela de Sintra, ainda antes de ter tirado a carta... Relembro, como se fosse hoje, a primeira vez que o conduzi, pois durante a instrução sempre lidara com uma marcha atrás bem diferente... De qualquer modo, acabei por conseguir inverter a marcha...
Outros tempos!

2.10.21

Mesmo se a cinza...

 

Por necessidade de combater a desagregação psíquica, a Ponte foi solução pontual, pois calculava que os flamingos da outra margem se exprimiam na leveza de um baile sem público... Ou será bailado?
E assim foi. Só eu não estou à altura da oferta, no entanto tal não impede que aqui refira um outro 'fotógrafo' da pequena burguesia - José Cardoso Pires que, vou revisitando, entusiasmado, na versão de Bruno Vieira do Amaral - INTEGRADO MARGINAL... Há muito que não lia uma biografia tão bem construída e tão bem fundamentada!
Não conseguindo fixar-me no número de sílabas, consegui, porém, travar o avanço do rio Lete... o que dá outra cor ao dia, mesmo se a cinza parece tudo obnubilar.