15.11.21

e agora fenece


Secas caem as notícias

nem a distância as humedece.

(Só o olhar furtivo aquece.)

O que fazia?

Lia escrevia sofria 

por certo

e agora fenece.

12.11.21

Ignotus

 

Antero de Quental

 


 - Não vos queixeis, ó filhos da ansiedade,
    Que eu mesmo, desde toda a eternidade,
    Também me busco a mim… sem me encontrar!

11.11.21

Não conto, desta vez!

 

Como diziam os meus alunos, professor não conte…

E não vou contar, a não ser que a leitura me permitiu relembrar consulados mais ou menos efémeros, em que os projetos pessoais se sobrepunham ao interesse nacional, a intriga política era alimentada por uma comunicação social a quem apenas interessava vender o 'produto', indiferente às circunstâncias e aos factos - realidade para que te quero fosse aqui, fosse no Brasil, fosse em Macau, em Timor ou no Iraque!

Desta leitura retiro, sobretudo, a ideia de que é fácil enredar um Presidente da República por mais íntegro que ele seja, mas que, infelizmente, há outros (presidentes) que não conseguem escapar ao papel de bonecreiros, convencidos que podem modelar a realidade, sujeitando-a aos caprichos do momento…

Prometi não contar e não conto, porém recomendo este livro aos jovens que sonham subir ao palco, seja ele da política ou da comunicação social.

Por estes dias, a memória da década de 1996 a 2006 poderia ajudar a evitar velhos erros...

9.11.21

Falar redondo

 

Já lá vai o tempo em que gostava de pessoas que sabiam a lição de cor, que nunca se atrapalhavam - clérigos, professores, políticos. Era fascinante ouvi-los e a vontade de os imitar não faltava… 

Mais tarde, percebi que o saber projetado sobre o auditório era um tanto empolado e frequentemente tendencioso - a homilia, a lição, o discurso serviam desígnios misteriosos que escapariam à pequenez dos paroquianos, dos alunos e dos cidadãos. Na verdade, ou não havia perguntas ou eram escamoteadas, não fosse quebrar-se o fio condutor.

Hoje, já é possível fazer perguntas - há até guiões, roteiros. No entanto, os políticos continuam a falar de cor, a falar redondo, sem serem incomodados… Só que perdi, em definitivo, a vontade de os imitar e de os ouvir (aos entrevistados e, sobretudo, aos entrevistadores).

7.11.21

Raivas bem nutridas

 

Custa-me a crer, mas as imagens são de raiva bem nutrida. Concentram-se em fúrias bem medidas, insurgindo-se contra os políticos da hora, fazendo de conta que os papás em nada são responsáveis pelo alastrar dos desertos e das fomes ancestrais…

Entretanto, vão saltando de metrópole em metrópole, como se por perto não se amontoassem esqueletos esquecidos no presente…
 
Oráculos do futuro, vivem de raivas acolchoadas e bem nutridas.

4.11.21

O corte

 

Pobres romãzeiras! Defraudadas, certamente. Quando o frio se aproxima é que decidem amputá-las de tudo o que as distingue...

Agora que o Inverno se aproxima é que os doutos deputados decidiram enviar o orçamento às urtigas, como se este fosse descartável por estes tempos...

E logo que ficou claro que o corte do orçamento era inevitável, levantou-se o Presidente, e fingindo pôr os pontos nos is, declarou urbi et orbi que ia dissolver o parlamento. Só uns dias mais tarde, percebeu que havia regras constitucionais a cumprir e que no seu quintal se ia cortando a torto e a direito, abrindo avenidas de oportunismo político até há poucos anos impensáveis. 

Daqui a uma hora, o Presidente proclamará o dia e a hora em que iremos a votos para escolher quem apresentará novo orçamento, como se não houvesse mais vida para além do dito.

1.11.21

A profecia de Daniel e a neutralidade carbónica


A Índia, terceiro país mais poluidor do mundo, atingirá a neutralidade carbónica em 2070, anunciou hoje o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, reduzindo até 2030 as suas emissões poluentes em mil milhões de toneladas.

 A profecia de Daniel:

"Começaste a cuidar, ó Rei (Nabucodonosor), deitado no teu leito, diz Daniel, o que havia de suceder depois do tempo presente, e o Deus que só pode revelar os mistérios e os segredos ocultos, te mostrou naquela visão tudo o que está para vir nos tempos futuros, e o que eu agora te direi, não por arte ou ciência minha, se não por revelação sua. Parecia-te  que vias defronte de ti uma estátua grande, de estatura alta e sublime e de aspecto terrível e temeroso. A cabeça desta estátua era de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre até os joelhos de bronze, dos joelhos de ferro, os pés de ferro e de barro. Estando assim suspenso no que vias, viste mais que se arrancava uma pedra de um monte, cortada dele sem mãos, e que, dando nos pés da estátua, a derrubava. Então se desfizeram juntamente o barro, o ferro, o bronze, a prata, o ouro, e se converteram em pó e cinza, que foi levada dos ventos, e nem aqueles metais apareceram mais, nem o lugar onde tivessem estado; porém a pedra que tinha derrubado a estátua cresceu, e fazendo-se um grande monte, ocupou e encheu toda a terra.

(...) Aquela pedra, ó Rei, que viste arrancar e descer do monte, que derrubou a estátua e desfez em pó e cinza todo o preço e dureza dos seus metais, significa um novo e quinto Império que o Deus do Céu há-de levantar ao Mundo nos últimos dias dos outros quatro. Este Império os há-de desfazer e aniquilar a todos, e ele só há-de permanecer para sempre, sem haver de vir jamais por acontecimento algum a domínio ou poder estranho, nem haver de ser conquistado, dissipado ou destruído…

Sobre o futuro, pouco há dizer, embora todos possamos fazer alguma coisa, mesmo se deitados como o Rei Nabucodonosor…