27.12.08

A prática dos pastores…

/ reis rainhas e donzelas / e muitos por esta estrela / rogam a seu senhor delas / nosso Deos que vá com ela / coma estrela antr’as estrelas // sobre o qual todos pastores / leixam sem pasto as manadas / e se fazem oradores / em oferta dando flores / e suas pobres soldadas. / Gil Vicente, Cortes de Júpiter.

Longe estaria Vicente, em 1521, de imaginar que a prática dos pastores de oferecer os parcos haveres à infanta Dona Beatriz, duquesa de Sabóia, se tornaria moeda corrente nos dias de hoje. Afinal, quem menos tem acaba sempre por saciar a gula dos poderosos e dos manhosos.

Não consta que o ouro, o incenso e a mirra tenham alimentado o menino Jesus, embora a sorte de tais dádiva esteja por esclarecer…

24.12.08

O que fazer com estes fungos?

De facto, não sei como classificar estes fungos! Ao observá-los, fico intranquilo. Evito-os, sabendo que os poderia aniquilar. Mas para quê? Ultimamente, sinto que os fungos se estão apoderar de mim... sopram dentro de mim.

Não sei se estamos à altura!

Sabiamente, o rebanho evita o posto de gasolina. Prefere esperar e passar pelo portão entreaberto, sob o olhar rigoroso do pastor. Ao lado, a tentação, mas o rebanho ignora-a. Como é que o rebanho faz as suas escolhas?
Também nós, em rebanho (ou será matilha ou alcateia?), recebemos a capacidade de escolher entre a sobriedade e o esbanjamento. Não sei se estamos à altura!

17.12.08

O regresso de José Gomes Ferreira...

(Os votantes no Liceu de Camões. Muitos com as listas da oposição disfarçadas nos envelopes do Partido-Que-Vai-Ganhar. Civismo covarde a jogar às escondidas.) José Gomes Ferreira, Grito Plural, 1958

O encontro com José Gomes Ferreira caiu bem. A oradora preparou bem a lição e expô-la com clareza. O recurso a Mário Viegas motivou e, sobretudo, confirmou que, para o Poeta, só a subversão e a ruptura desalinhadas permitiriam instalar o céu na terra.

Uma instalação sublinhada ora pelo encantamento ora pelo cepticismo. O Poeta bem sabia o perigo que corria: para lá da sua janela, os loucos assaltavam os transeuntes e atiravam-nos para debaixo das lagartas das chaimites...

A militância do Poeta é criadora... não serve uma ideia ou um partido. Os poetas alinhados não existem...

E José Gomes Ferreira aprendera a desprezar a mentira!

16.12.08

Numa terra de empatas...

Hoje, acordei com a ideia de que há por aí muitos empatas: médicos, sindicatos,  benfica, oposição...

Ouvimo-los, seguimo-los e, no fim, ficamos quase sempre a perder... Está claro que nem todos perdem. Há sempre uma minoria vencedora...

Por exemplo, no caso dos sindicatos da educação, já se começa a ver quem vai ganhar com a luta...

Eu cá por mim, vou trabalhar enquanto posso!

14.12.08

A serpente da cidade...

A rotina cansa. A novidade alegra. Mas nem sempre!

Nestes últimos tempos, a vertigem da mudança, da racionalização, da inovação trouxeram mais frustração do que euforia. Há quem suspire pelos tempos de mudança lenta, pelas aplicações em escala mínima...

Os tempos são de desassossego face à inconsistência das propostas e aos riscos da sua execução. Tudo leva a crer que a maioria dos líderes se deixa conduzir pelo sentido da oportunidade, descurando o ritmo da mudança e inerente adaptação...

E a dor alastra, alheia à rotina e à novidade..., como a serpente, investe os corpos e arrasa as cidades, pois os campos há muito foram abandonados...

O vento, a chuva (e a neve) estão aí. A rotina outonal! Hoje, o sol seria novidade! A mim, como a tantos outros, falta-me o sol! Sem ele, a esperança e a saúde diminuem...

(Em fundo, os promísquos de longa data proclamam lições de idoneidade e de defesa da causa pública. A demagogia prepara um novo incêndio...)