23.1.10

Cores líquidas na barragem de Odivelas

  Na barragem de Odivelas. Longe da cidade caótica, raras são as pessoas; apenas alguns coelhos, surpreendidos, precipitam-se para os juncais. 

22.1.10

As Batalhas no Deserto

O escritor José Emílio Pacheco nasceu na cidade do México em 1939 e cresceu durante a presidência de Miguel Alemán Váldes (1946-1952).

O mandato de Miguel Alemán (Valdés) ficou marcado por um forte desenvolvimento industrial, resultante da aposta na construção de estradas, caminhos de ferro, portos, escolas, bairros de renda económica, e no turismo. As mulheres puderam votar pela primeira vez nas eleições municipais. No entanto, este espírito empreendedor acabou por degenerar no enriquecimento escandaloso dos políticos que negociavam os contratos …  A moeda acabou por desvalorizar provocando a ruína da classe média e dos mais pobres…

A história de amor impossível, entre o jovem imberbe e a misteriosa mãe do amigo Jim, decorre  num cenário de crise moral, social  e económica, resultante da ganância de uns tantos que, sob a capa do desenvolvimento do México, criam fronteiras que muram e asfixiam as classes mais numerosas… Progressivamente, uma elite apropria-se da riqueza… tal como acontece nos dias de hoje, aqui, em Portugal… A descrição da acção de Miguel Alemán não deixa de nos fazer pensar em Sócrates…

20.1.10

Do amor à pátria…


Nas primeiras páginas do Contrato Sentimental, de Lídia Jorge, encontro um poema do mexicano José Emílio Pacheco que começa por afirmar «Não amo a minha pátria. / O seu fulgor abstracto inacessível. / Porém (ainda que soe mal) daria a minha vida/ Por dez dos seus lugares, certas pessoas…». A leitora, Lídia Jorge acaba por desenvolver a ideia de J.E.P., no conjunto de textos em que nos convida a apostar no Portugal futuro, mesmo que isso signifique romper com o Portugal expansionista e colonizador… Involuntariamente, penso no verso de Pessoa /Reis "Prefiro rosas à pátria, meu amor." E também nas Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, de Antero de Quental, ciente de que a Lídia Jorge falta a competência argumentativa de Antero e a subtileza interpretativa de Eduardo Lourenço, sem esquecer o messianismo luminoso de António Quadros…
Nesta deriva comparativa, começo a ler As Batalhas do Deserto, de José Emílio Pacheco, desperto para um critério de leitura de Rosa Montero que divide os autores em memoriosos e amnésicos. Dicotomia que me agrada, pois, sem ser autor, não deixo de me situar do lado daqueles (os amnésicos) que "não querem ou não podem recordar; certamente fogem da sua própria infância e a sua memória é como um quadro mal apagado."
A esta hora, decido não falar da surpresa que é ler As Batalhas do Deserto, porque, de facto, estou a reler Cão Como Nós, de Manuel Alegre e a pensar no modo como o candidato à Presidência da República conjuga: cão como nós / cão como tu / cão é cão. E também não vou concluir a reflexão, porque Sarah Kane me está a recordar que antes de adormecer ainda devo terminar a leitura da peça RUÍNAS.

17.1.10

Os novos lugares

Os novos espaços escondem e revelam. A memória do passado fica em quem ali trabalhou, uma memória de guerra, colonial, em nome de uma pátria indivisa e sobranceira. Talvez, convenha esquecer essa pátria que colapsou nos anos 70 do século passado! A dinamite serve agora para abrir as fundações do futuro, em condomínio fechado, apesar de alguns equipamentos sociais – as famigeradas contrapartidas do negócio! Com vista para a ponte Vasco da Gama, as gruas, desajeitadas, suportam o peso dos materiais e da ambição humana, libertando os novos escravos para tarefas menos árduas ou simplesmente para o desemprego permanente, para a indigência…

Na nova pátria, os polícias continuam a autuar os condutores incautos, indiferentes aos veículos estacionados na mesma rotunda. Os outdoors convidam-nos ao aconchego evasivo da fantasia. O verde estende um breve tapete do que foram hortas vicejantes e auto-suficientes. Os candeeiros, inúteis a esta hora do dia, anseiam pela penumbra que lhes devolva a razão…

E eu, simplesmente, caminho a pensar que a professora Amélia Lopes acaba de fazer um diagnóstico arrasador do insucesso escolar em Portugal: “Mais velho, mais qualificado e maioritariamente do sexo feminino” o docente perdeu o pé… Quem precisa de experiência, de exigência, de compreensão nesta nova pátria?

De facto, o rejuvenescimento esconde o passado. E eu continuo a deambular, evitando falar de Cesário Verde, não vá ferir a epiderme dos nautas do presente.

16.1.10

Sem glória nem grandeza…

Junto ao Tejo 021

Outrora, os imperadores romanos, vitoriosos, mandavam erguer monumentos para inscrever o seu nome na História. Napoleão, imperador, em 1806, também, não resistiu a essa pequena vaidade.

Hoje, deparei com um Arco do Triunfo no Museu da Electricidade. Felizmente, é de plástico! E por perto não avistei qualquer imperador. Só pescadores de rio, ciclistas de fim-de semana e casais de meia-idade. O Sol escondera-se, envergonhado de ainda haver quem o queira ofuscar com o poliéster.

15.1.10

Haja Inverno na terra, não na mente. (FP/Ricardo Reis)

O forte sismo (7.0 na escala de Richter) que atingiu o Haiti terá feito mais de 100 mil mortos. A ilha caraibenha virou cenário de destruição quase total.

 

Os mercados de Wall Street fecharam em queda, penalizados pelos títulos da banca, após divulgação dos resultados do JP Morgan, cujas receitas ficaram abaixo do previsto.

O ex-deputado socialista Manuel Alegre afirmou hoje estar disponível para ser candidato da esquerda às próximas eleições presidenciais que acontecem em 2011.

O apelo de Cavaco Silva ao consenso partidário na redução do défice e da dívida externa teve respaldo no Governo.

Quase um mês depois, Amado e Reis cruzaram-se num acto social no Palácio de Belém. Luís Amado cumprimentou Carlos Reis e convidou-o para almoçar. «O convite nunca se confirmou».

A tragédia do Haiti não afecta os mercados financeiros mundiais!

A tragédia do Haiti não afecta a disponibilidade do providente Manuel Alegre!

A tragédia do Haiti não afecta o orçamento português!

A tragédia do Haiti não afecta os ajustes de contas!

Nem a tragédia do Haiti nos faz parar e pensar!

Ficamos, no entanto, a saber que, quando um forte sismo atingir Portugal:

  • Os mercados financeiros mundiais não serão afectados;
  • A disponibilidade do providente Manuel Alegre não nos terá feito sair do desnorte em que vivemos;
  • O orçamento português de 2010 (nem dos anos seguintes) nada dirá quanto à obrigação de afectar recursos para (re) construir as nossas aldeias, vilas e cidades em bases mais seguras;
  • Os Reis e os Amados continuarão emplumados.

 

14.1.10

Amanhã, como será?

 Hoje, o “DN JOVEM” voltou à Escola. E explicou qual foi e pode ser o papel de um suplemento literário: dar voz a quem a não tem; dar voz a quem a procura; dar voz às pulsões mais recônditas; colocar em rede vozes longínquas e diversas; afrontar códigos cristalizados; dar a iniciativa à juventude…