1.10.12

Um cavo investigador

Sob o título "A educação dos professores", encontrei no i de 1 out.2012 as seguintes pérolas:
 
« Em média, são os mais pobres, os menos cultos e os piores alunos que hoje escolhem a via de ensino. O retrato é negro. E é o inverso do que acontece, por exemplo, na Finlândia, onde só os melhores podem ser professores.»

 « O facto é confirmado por um outro indicador: 41,4% dos alunos de Educação tiveram bolsa de estudo no ano lectivo 2010/2011.» (Expresso, 2.6.2012)
 
«E nós queremos os melhores ou os piores nas escolas?»
 
Ao ler o artigo, não pude deixar de ficar impressionado com a imparcialidade do seu autor! Deve ser um investigador português que nunca beneficiou de nenhuma bolsa de estudo, nascido em berço de oiro e, certamente, educado para combater as doutrinas de esquerda e, em particular, o sindicalismo... Percebi, por outro lado, que este cavo investigador crê piamente nas fontes jornalísticas e que a Finlândia será o novo paraíso terreal. 
 
Finalmente, não posso deixar de me espantar com a profundidade do argumentário que implicitamente explica a crise das finanças públicas:
 
«Vivemos hoje a consequência do excesso de cursos superiores de educação e formação de professores. Só entre 1995-1996 e 2010-2011, foram abertas, nessa área, 107341 vagas.»
 
Parece que o nosso investigador se esqueceu de confirmar quantos daqueles pobres jovens concluiram o mestrado na via de ensino. E principalmente, como investigador, deveria ter aproveitado para averiguar se a universidade portuguesa contribuiu para ajudar a sair da pobreza financeira e cultural aqueles párias que ousaram delapidar os dinheiros públicos.
 
O idiotário português enriquece a cada dia que passa...
 
 
 

Dia IX

I - (Finalmente, o fio não quebrou, apesar dos esticões.)
As marcas de romantismo começam a ganhar relevo no texto UM AUTO DE GIL VICENTE: o espaço escolhido (Sintra /Cyntia), as fontes e os tanques, o crepúsculo da madrugada, a lua, a serra, as mouras encantadas do Castelo; o Bernardim das Saudades (Menina e Moça); o SENTIMENTO; a solidão e a fuga da corte (sociedade); o teatral nacional; os romances; a língua vulgar; a arte de trovar e de prosear na língua nacional...
Tudo se opõe a três séculos de classicismo estrangeirado e elitista. 
 
II - Da sala, onde, mais uma vez, a leitura foi defendida como forma de conhecimento, e a escrita examinada como expressão de um projeto bem definido, a turma saiu à descoberta da BE/CRE. A professora blibliotecária apresentou pacientemente o lugar e a função. (Tudo de forma ordenada...) 

30.9.12

Interlúdio III

Escrever é uma forma de nos expormos .
Nestes últimos dias, li 28 textos narrativos, subordinados ao tema «...pois é fraqueza / Desistir de cousa começada.» (Camões, Os Lusíadas, Canto I, estância 40)
(A instrução visa que cada aluno aprenda a construir um conto.)
Pelo resultado, uma parte seguiu a instrução; outra parte, descurou-a. Nesta última situação, falta a planificação do texto, abunda o registo informal, e, por vezes, uma tendência para uma linguagem desenraizada e maneirista.
Claro que, salvo raras exceções, a maioria pensa que o conto é uma narrativa onde tudo cabe. Em vez da forma simples, em que  surge um acontecimento capaz de criar uma nova ordem, após a resolução de um ou dois obstáculos, esta maioria prefere criar  um interminável folhetim, impossível de memorizar...
(Felizmente, ainda estamos a tempo de aprender a escrever de forma simples, clara e concisa!)

29.9.12

Benefícios fiscais e subsídios

Num país de desempregados, de reformas de miséria, de congelamento e diminuição de salários, a manutenção de benefícios fiscais e de subsídios é vergonhosa.
Ao Estado não compete premiar empresas, fundações ou institutos que se revelem incapazes de viver sem benefícios e subsídios. O Estado, profilaticamente, deve impor o encerramento de todos esses organismos parasitas.
Em situação de insolvência, só começarei acreditar num governo que seja capaz de eliminar as exceções, os benefícios fiscais e os subsídios.
 
 

27.9.12

A canga e as exceções

Quando se justifica a decisão, argumentando que o momento que vivemos é de exceção, perde-se a face ao aceitar exceções à regra.
Logo pela manhã, a TSF anunciava que os cortes salariais em sede de IRS vão ser aplicados a todos, à excepção dos trabalhadores da CGD, da TAP e de outras corporações em que as progressões nas carreiras irão ser desbloqueadas, designadamente certas categorias de docentes do ensino superior universitário.
Por outro lado, objetivamente, ninguêm sabe qual é a dimensão das exceções, o que aumenta a frustração daqueles que se encontram sob a alçada da regra. E também já se perdeu a noção do volume dos sacrifícios que estão a ser pedidos sempre aos mesmos, assim como ninguém sabe ao certo qual´é o peso da economia paralela.
Um estado, que não só não controla estas variáveis como cria exceções que geram cada vez mais desigualdades, é um estado falhado que nos reduz à categoria de bois mansos.
É hora de acabar com as exceções!
 

Dia VIII

I - O leitor crédulo aceita facilmente como inquestionável o texto (auto)biográfico. Regra geral, não filtra a «verdade», porque confia no sujeito (eu), nas suas opções, dando expressão à ideia de que a escrita na 1ª pessoa é mais sincera do que qualquer outra. Ora se o leitor se habituar a extender a leitura ao CONTEXTO, entendido como descoberta de elos (ligações, conexões) existentes entre os vários textos do autor e /ou da mesma época, não só enriquecerá o seu conhecimento como passará a ser mais exigente, um leitor crítico.
Entre a escrita e a leitura, há um fosso difícil de ultrapassar, pois o escritor ( escrevente, escriba, secretário da puridade, escrivão, copista...) tem ao seu alcance meios ilimitados  que lhe possibilitam criar, em diferido, uma verdade construída, mas que o leitor não vê como produto de uma construção, mas, sim, como um acontecimento.
Estejamos a ler José Luís Peixoto, Raduan Nassar ou António Vieira, o texto é sempre a expressão de uma composição, de uma construção, por vezes, tão poderosa que ela pode moldar irremediavelmente a verdade das nossas vidas.
É por tudo isso que o CONTEXTO se torna muito mais importante do que as circunstâncias.
 
II - Fujamos do homem moderno... pela palavra e pelo gesto.
 
III - Quando um padre jesuíta se torna num homem de ação, num patriota que luta pela soberania do seu país, acaba por gerar uma multiplicidade de inimigos de que  dificilmente se libertará, sobretudo combatendo-os pela ação verbal.
 

26.9.12

Não chove

Não chove na praça neptuno
já choveu em sevilha zagreb santiago

Um dia irá chover na praça neptuno
resta saber de quem será o sangue

e voltará a chover na praça do império