21.12.13

Expresso 21.12.2013: Quem é o matilheiro-mor?

Hoje, o Expresso publica um artigo de opinião, de Martim Avillez Figueiredo, intitulado "A MATILHA DAS ESCOLAS" que me está a dar que pensar.
Creio que o bolseiro da Gulbenkian aprendeu, em seu tempo, a distinguir a linguagem denotativa da conotativa. Amicíssimo de Nuno Crato, para quem essa distinção é fundamental, como acaba de se verificar na primeira "prova de avaliação de conhecimentos e competências", creio que M.A.F. terá conhecimento quanto baste para não cair na baixeza de chamar cães aos professores ou, pelo menos, aos candidatos a tal profissão: «mas antes é preciso não esquecer essa matilha que instruí professores a rasgar enunciados e que os incita a não respeitar ordens do tribunal.» Na verdade, o enunciado aponta, sem peias, para os instrutores - os matilheiros - e, em particular, para «o tenebroso Mário Nogueira».
Apesar de não gostar do comportamento de muitos dos envolvidos no triste episódio de 18.12.2013, não posso deixar de condenar o ataque mesquinho feito à escola e aos professores e, sobretudo, de me interrogar sobre quem é o matilheiro-mor?
Não esqueçamos que um artigo de opinião tem um sempre um objetivo. Neste caso, defender a política do amigo Nuno Crato! E, sobretudo, aumentar a matilha...
  • matilha - conjunto de cães que se levam à caça. 

20.12.13

O excesso destes dias

I - Nestes dias, apesar de todos os indicadores recomendarem contenção nas despesas, o que vemos é consumismo desenfreado - gasta-se o que se tem e o que se não tem!
Estou incapaz de compreender o motivo da azáfama, do esbanjamento, da gula, do EXCESSO. O Natal nada tem a ver com este comportamento. Pelo contrário, o frio, a fome, a guerra exigem outra atitude.
O mediador deixou-se crucificar para nos mostrar o caminho, no entanto, o exemplo de nada serviu.
E eu vejo-me arrastado nesta euforia postiça. Esgota-se-me a paciência e o apetite!

II - Quanto ao Tribunal Constitucional, parece que fechou a porta ao ladrão, mas escancarou-lhe a janela!

19.12.13

Nenhum português pode estar sossegado!

«Não há nenhum pai deste país que possa ficar sossegado se achar que alguma daquelas pessoas, com as cenas que assistimos ontem na televisão, possa ser professor de um filho seu.», afirmou hoje o ministro da Presidência no final da habitual reunião de Conselho de Ministros.

Humilhados, os profissionais de ensino em início de carreira ou, formalmente, precários, dividiram-se entre os que quiseram realizar a PAAC e os que quiseram mostrar a sua revolta. O espectáculo não foi educativo! E os mass media não perderam a oportunidade de explorar os excessos e os dramas!

Mas quem é que prefere humilhar a educar? Quem é que prefere penalizar as vítimas a retirar o alvará a instituições que não revelam competência para formar professores? Quem é que manda fazer avaliações externas viciadas? Quem é que criou um Instituto de Avaliação, usurpando competências das Universidades?

A resposta é dada por vozes ministeriais que desrespeitam a sintaxe elementar e que classificam os professores como «aquelas pessoas». Vozes ministeriais que ignoram o significado das palavras que proferem, que, em vez de «servirem», humilham. Vozes ministeriais cujo juízo se baseia em imagens televisivas...

Estas vozes ministeriais têm um único fito: o confronto. De preferência, entre pares!      

18.12.13

PACC: uma proposta desigual e inconsequente!

«A escola de hoje é infinitamente melhor do que a escola de ontem...» António da Nóvoa (1954)

- Escreva um texto em que exponha a sua opinião sobre a perspetiva expressa por este autor, fundamentando-a através de uma linha argumentativa coerente.  (PACC)

Eis uma proposta de argumentação  desigual e inconsequente!
Partindo do princípio de que o avaliado decide apoiar ou rejeitar a tese, quem é que ele quererá persuadir? O avaliador? O ministro da educação?
Se começar por examinar os termos do enunciado, cedo verificará que este é hiperbólico - infinitamente! Palavra vazia e florentina... A seleção de argumentos fica condicionada pela retórica... Por outro lado, a referência a uma "escola de ontem" introduz generalização e vacuidade, pois objetivamente não há qualquer delimitação do tempo. Só a experiência (a vivência) poderá ajudar a construir um juízo consistente, assente na comparação.
Para António Nóvoa, nascido em 1954, "ontem" é o tempo em que ele se fez homem na escola do Estado Novo. E "hoje" é o tempo democrático, o tempo de Abril, em que chegou a reitor, protagonista da mudança, do "infinitamente"...
Ora se a vivência é o filtro que permite determinar os argumentos e selecionar os exemplos de forma coerente e legitimadora do presente, apesar da desconfiança quanto ao rumo que está ser seguido, apesar do receio de que o futuro possa voltar-se contra a escola "infinitamente melhor de hoje", o candidato, forçado a expor uma «opinião», irá acabar por construir um texto inócuo...
Infelizmente, a escola que propõe este tipo de itens não é  melhor do que a escola de ontem!

17.12.13

A mediação

«Pas de messianisme, parce que pas de médiation entre l'homme et Dieu.» Olivier Carré, L'Islan Laïque ou le retour à La Grande Tradition, 1993, Armand Colin

Na cultura judaico-cristã, a ideia de mediação é essencial. Os judeus vivem na esperança da chegada do Messias. Os cristãos encontraram o mediador na figura de Jesus. 
Nas duas civilizações, o Messias liga o homem a Deus.
No Islão, a relação do homem com Deus é direta.
Agora que o Natal se aproxima seria bom que levássemos em conta que uma parte do mundo não vê qualquer razão para se associar ao consumo desenfreado que caracteriza a época natalícia.
E como bem sabemos, o consumo é também ele resultado de uma relação de mediação estabelecida pelo comerciante entre o produtor e o consumidor... sempre com vantagem para o mediador!

16.12.13

Ecos da Turquia

Em Gramática das Civilizações (1963/1987), Fernand Braudel escreveu: «Como todas as sociedades, a muçulmana tem os seus privilegiados, pouco numerosos, por isso mais poderosos.» Para, ao referir-se à sociedade turca, registar a ação de Mustafá Kemal, autor de um «teste brutal e genial que soube abrir brechas num bom número de pretensos tabus da civilização muçulmana».
Em poucas palavras, o que estava (e está) em causa é «a emancipação da mulher, o desaparecimento da poligamia, as limitações ao repúdio unilateral pelo marido, a supressão do véu, o acesso às universidades e à cultura, aos empregos, ao direito de voto...» (pág.108, ed. Teorema, 1989)
Em 2013, o que procuro conhecer é em que fase se encontra a Turquia, de modo a entender quais são os obstáculos (endógenos e exógenos) à sua integração nas «civilizações europeias» e, simultaneamente, na União europeia...

Num mundo em que as comunicações são cada vez mais fáceis, esta minha pergunta indireta resulta de ter recebido o seguinte esclarecimento, a propósito da utilização de um telemóvel levado de Portugal: «na Turquia és obrigado a comprar um telemóvel turco, por causa das redes e taxas, coisas estranhas...»



15.12.13

Educação: 36.801,87 €; Justiça: 87,1 milhões de euros



Não era preciso distribuir tão mal o dinheiro!…
No mesmo bairro, no mesmo enfiamento, no mesmo país, como diria Cesário Verde:
«E eu sonho o Cólera, imagino a Febre, / Nesta acumulação de corpos enfezados; / Sombrios e espectrais recolhem os soldados; Inflama-se um palácio em face de um casebre.», in Noite Fechada, O Sentimento dum Ocidental.