23.9.15

A transparência alemã

A Hungria é um não-lugar, distante, cujo arame farpado fica ainda mais longe. A Hungria só ganha vida quando o turista chega a Budapeste e ignora as botas cardadas que irrompem da mente vigilante que a Europa alemã acarinha como guarda avançada contra a imaginada "barbárie fundamentalista" que lhe ameaça a fronteira.
Aqui, neste lugar, também ele fronteira dessa mesma Europa alemã, ainda não percebemos que a mentira, se fosse apenas dos pinóquios, seria inofensiva. A mentira que nos avilta é também ela alemã e circula na tecnologia que subservientemente continuamos a comprar. Sabemos agora que a mentira alemã nos destrói os pulmões e mata a flora e a fauna.

A chanceler pede transparência e está disposta a pagar chorudas indemnizações. Mas a quem? Às vítimas? Será possível identificar as vítimas?      

22.9.15

O arame farpado húngaro

Antigamente, os muros eram de pedra. Depois passaram a ser de cimento e hoje são de arame farpado. Muda a matéria, mas os muros continuam. Um dia, abate-se o muro de Berlim; no dia seguinte, caem as muralhas da União Soviética, e até a China se desdobra em dois sistemas, mas tal não significa que a batalha das fronteiras tenha terminado... 
Pelo contrário, as fronteiras, durante um certo tempo, pareceram imateriais, mas, na verdade, continua-se a combater com as armas do capitalismo internacional: o saque das matérias primas, a especulação financeira e a destruição do trabalho humano.
Acordamos, entretanto, espantados com a audácia do Governo húngaro, mas o que a Hungria está a fazer é guardar a fronteira da União europeia. Os húngaros não temem os refugiados sírios ou iraquianos, porque para estes a Hungria é apenas um lugar de travessia - os refugiados procuram a Europa rica e não a Europa pobre. E é compreensível que o façam: para miséria e flagelo já lhes chegam os territórios esventrados donde são obrigados a fugir!
O que os húngaros temem é a Europa rica que lhes impõe que sejam a sua guarda avançada. O resto é embuste.  

21.9.15

As pitangas maduras estão do outro lado do arame farpado

«Que tristeza: as pitangas do lado de fora, ao alcance da mão, sem trabalhos e sem perigos, nunca amaduram!» António Jacinto, Fábulas de Sanji, in Comportamentos, pág. 42, ed. União de Escritores Angolanos.

Ontem, na Grécia, 44,05% dos gregos não foram votar. À primeira vista, não votar parece ser uma opção democrática, mas é essa opção que legitima a vitória daqueles que dão o dito pelo não dito e assim vão continuar.
O argumento de que já não há nada a fazer é insustentável! As pitangas maduras estão do outro lado do arame farpado, e o mínimo que o ser humano pode fazer é saltá-lo, mesmo que o risco espreite. 
O resultado das eleições só é convincente e capaz de assustar os credores, se todos cumprirmos o dever de votar. Mais do que um direito, votar no dia 4 de outubro é um dever.
(...)
Li, entretanto, uma "opinião" de António Ribeiro Ferreira, chefe de redação do jornal i, que me deixou, não direi escandalizado, mas perplexo: Sócrates e Costa são as duas faces de uma má moeda.
Não sei qual está a ser o impacto da "opinião" de A.R.F., espero, porém, que nas Faculdades de Comunicação Social, alguém ensine a diferença entre informação, devidamente comprovada, e propaganda.
Felizmente, no mesmo jornal, é possível ler uma entrevista a Eduardo Paz Ferreira, cuja "opinião" é bem sustentada, não enlameando quem quer que seja, apesar da mediocridade reinante...

20.9.15

Aquém da TROIKA

Tsípras ganhou as eleições. A coerência ideológica foi derrotada. O dia de amanhã será de maior miséria do que os anteriores, embora haja a esperança de que ainda é possível ficar aquém da TROIKA.

Por cá, há quem não queira voltar a ver a TROIKA e há quem também queira ficar aquém da TROIKA.
O problema é que a questão não é de VONTADE. O capital é quem mais ordena! Para ricos e para pobres! Afinal, os Gregos acabaram por aceitar o terceiro regaste, por causa dos milhares de milhões... 

19.9.15

José Lello, o socialista amigo

 «Em 1979 fui candidato à Assembleia, mas não quis ser deputado...» Porquê? « Ganhava-se mal. 48 contos ou isso. Eu tinha comprado casa, estava a ganhar dinheiro no privado.»
(...)
«Sempre estive nas minorias, mas nem por isso deixei de ter cargos relevantes. Mas é nessa altura, estava o Ferro na liderança, que começamos a fazer a campanha do Sócrates. E ele não queria; era do secretariado do Ferro... Estamos na altura do Durão Barroso, fazíamos uns jantares, começou-se a colocar coisas na imprensa... E ele ficava furioso, achava que era uma coisa indelicada. Mas nós não tínhamos nada a ver com isso, éramos claramente contra o Ferro.» 
(...)
«Era um grupo forte e onde estava o Serrasqueiro, o Renato Sampaio. O Costa também vinha aos nossos jantares. O Pina Moura. Foi aí que surgiu o "menino de ouro"... E, de repente, o Santana cai e o Ferro demite-se. (...) E pronto, ele apareceu, nós já tínhamos feito o levantamento das federações todas - é assim que se trata da mercearia partidária. E ele ganhou claramente as eleições
        (Transcrições da entrevista dada por José Lello ao jornal i, 19 de setembro de 2015)

José Lello, um homem de princípios socialistas, incapaz de trair os camaradas e que assegura que nunca foi um terratenente... Apesar de desprezar as remunerações principescas, cedo viu no cândido José Sócrates, o menino de ouro. Agora, está um pouco aborrecido com o António Costa, pois não vê «necessidade de passar ao lado de Sócrates» e sobretudo, de afastar das listas de deputados, o Fernando Serrasqueiro, o André Figueiredo, o Mota Andrade, o Paulo Campos... o José Lello... 
Perdão! José Lello, aos 71 anos, 32 depois de ter entrado no parlamento, «mostrou-se disponível para sair. Só aceitaria voltar num caso muito relevante.»  Só não disse qual! Nem explicou por que motivo viu em José Sócrates o menino de ouro. Espero que a razão seja bem distinta da de Carlos Alexandre...  

18.9.15

Premiar ou condicionar?

Geir Lundestad, historiador, que participou no Comité para o Prémio Nobel da Paz, em 2009, reconhece agora que a atribuição do Nobel da Paz a Obama visava "fortalecê-lo", mas que "tal não aconteceu".

(Qualquer dicionário explica que o termo "prémio" significa: «distinção conferida por certas trabalhos ou certos méritos».)

No caso da atribuição do prémio a Obama, o que o Comité para o Prémio Nobel da Paz procurou fazer foi "dirigir", condicionar a ação do Presidente dos Estados Unidos. 
Daqui se infere uma alteração significativo do sentido do termo "prémio" e, principalmente, desrespeito por todos aqueles que defendem os direitos humanos e a paz.

Se o referido Comité considera que Obama não é um homem de paz, melhor seria que explicasse porquê e apresentasse desculpas àqueles que se sacrificam diariamente pela paz.

17.9.15

Estive a ouvi-los

Estive a ouvi-los na rádio, até porque não gosto de os ver. Longe da vista, longe do coração!
O problema é que um não sabe o que prometer, e por isso promete continuidade; e o outro promete quase tudo, como se tivesse acabado de descobrir poços de petróleo e minas de ouro...
Ao ouvi-los, fico com a ideia de que a TROIKA vai voltar. 

Ao ouvi-los, percebi que, de momento, estas vozes só querem embalar-nos. Para o futuro falta-lhes uma estratégia de desenvolvimento científico, cultural e económico. Sem ela, não haverá sociedade que resista...