15.4.17

Tudo se desvirtua

António Marto nota, contudo, que "hoje está a tomar-se consciência de que Fátima é um activo muito grande do ponto de vista da economia nacional, por causa do turismo, do chamado turismo religioso".Fátima 2017

Não se pode dizer que, do ponto de vista religioso, Fátima me incomode porque nunca cheguei ao ponto de compreender os fenómenos sobrenaturais - houve tempo em que vivi de perto as peregrinações e até participei em algumas, não por vontade própria, mas por efeito do contexto sociocultural em que nasci e fui educado. Neste caso, o esforço educativo não obteve sucesso!
Compreendo que as consciências mais permeáveis procurem uma razão para o que as aflige, pois não se satisfazem com a mera existência, mesma se anónima e efémera. Compreendo que se procure a essência daquilo que assoma como réplica de uma fonte singular, divina, porque esse é um dos traços da condição humana...
Só não entendo que a Igreja católica portuguesa se preocupe tanto com a economia nacional. Esse nunca foi um factor decisivo no seu comportamento ao longo dos séculos.
Afinal, as Igrejas da Reforma preocupavam-se muito mais com a componente nacional, a começar pela língua do culto.
Apesar de tudo, em 1967, a Igreja católica apostólica romana tinha preocupações mais nobres:  a denuncia da irracionalidade do colonialismo português.Paulo VI em Fátima 
E eu, ovelha peregrina e anestesiada, lá estive em Fátima, no dia 13 de Maio, sob um calor intenso e com os pés numa lástima...

14.4.17

Nos subterrâneos da vida

Eles não são diferentes de nós, talvez um pouco mais revoltados, mas razões não lhes faltam... Assimilados ou excluídos, vivem nos subterrâneos da vida...
(Por isso eu compreendo todos aqueles que, genuinamente, os querem socorrer, mesmo correndo o risco de serem abatidos ou de serem ostracizados...)
Só não compreendo aqueles de nós que exultam porque uma bomba infernal os pode perseguir nas profundezas da terra... até porque os conflitos não se ganham, exceto pelos senhores da guerra...
E convém não esquecer que "eles" podem estar longe ou estar entre nós e que quem os gera somos nós...

13.4.17

O dever mais importante


O dever mais importante é dizer a verdade. (Kant)

O problema é que não sei qual é o critério (e se há só um!) que permite determinar a verdade.
Será que, à maneira de Tomé, nos devemos reger pelos factos materiais? 
Ou será que a imaginação, mesmo se contrária à materialidade, é, também ela, capaz de gerar verdade, não a mentira, o fingimento psíquico, artístico...?
A arte diz que sim. E a vida? 
Novalis fez-nos crer que "quanto mais poético, mais real". Gostava que assim fosse, mas não me parece que seja verdade...
Por exemplo, Sartre explora em "L'âge de raison", os limites da liberdade, apresentando situações verosímeis e bons argumentos, no entanto a verdade humana faz do homem um ser escravo, embora frequentemente histriónico - pragueja, esbraceja, mas não vai a lado algum...

11.4.17

A Escola do Ressentimento

O PNL são extensas listas indicativas de livros, adequados para cada etapa, que os professores são convidados a escolher”, disse, acrescentando: “O cânone aplicado à escola é uma coisa profundamente errada”.Isabel Alçada e o cânone

"A Escola do Ressentimento deseja derrubar o cânone de modo a fazer avançar os seus supostos (mas inexistentes) programas de mudança social". Harold Bloom, O Cânone Ocidental.

«A defesa dos cânones já não pode ser levada a cabo pelo poder institucional central; eles já não podem ser considerados obrigatórios, se bem que seja difícil ver como é que o funcionamento normal das instituições do saber, incluindo o recrutamento do pessoal docente, pode passar sem eles.» Frank Kermode, Formas de Atenção, 1985.

Não tenho a certeza de que o cânone aplicado à escola seja uma coisa assim tão disparatada. O que é relevante, tal como aponta Harold Bloom, é que há na inteligência do burgo uns tantos ressentidos por terem sido marginalizados pelo ministério de Nuno Crato e que não perdem oportunidade para trazer ao debate as figuras erradas - o genuíno gosto pela leitura dos nossos jovens e a superior clarividência e sapiência das famílias...
Pelo que me toca, preocupado com a preservação da identidade, mesmo que esta tenha que ser adaptada às circunstâncias, preferia que o cânone literário global tivesse um lugar central na formação do pessoal docente... e que os professores voltassem a desempenhar a função que lhes compete, deixando de ser meros ouvintes dos disparates acumulados em fontes sem qualquer valor científico e estético.

10.4.17

Quando os adolescentes viajam

Desde que inventaram o tempo escolar que criaram a adolescência.
A adolescência tornou-se, assim, um período que separa a  infância da vida adulta, sendo de esperar que seja de aprendizagem, de maturação. 
Nos últimos dias, rebentou a notícia de que 800 (?) adolescentes portugueses foram expulsos de unidades hoteleiras espanholas, acusados de vandalismo... Descontado o exagero dos números, típico da rivalidade ibérica, é bem provável que os jovens se tenham excedido, não porque sejam portugueses, mas porque há muito que deixaram de ser educados por quem tem essa obrigação - os pais. E os professores que o digam!
Porque todos os dias, há professores (sobretudo, diretores de turma), enxovalhados por adultos que não querem o bem dos adolescentes, isto é, não querem que eles cresçam num clima de responsabilidade e de rigor.
E depois há um Ministério da Educação cúmplice da insanidade mental reinante pois, ao promover o reforço da comunidade na vida escolar, esquece que essa comunidade se encontra profundamente doente.
Quanto aos adolescentes, para começar, só deveriam realizar viagens de finalistas depois de terem concluído o 12º ano...   

9.4.17

Mais autores africanos ou mais autores de língua portuguesa?


Professores de Português querem mais autores africanos nos currículos...os escritores africanos têm também pouca expressão nos currículos.Autores africanos?
Não estão representados nos conteúdos obrigatórios do programa, aparecem só na área de projeto de leitura”, afirmou Edviges Antunes Ferreira, lamentando: “Não há mesmo uma área que contemple o estudo dessa literatura”. (sic)
Será que existe uma identidade africana? Será que nesse conjunto haverá um subconjunto constituído por escritores africanos de matriz portuguesa?
A pressa de dizer é inimiga do pensar! Em Angola, há escritores, tal como em Moçambique, na Guiné, em São Tomé, em Cabo Verde... Só que a matriz cultural e linguística é feita de raízes muito diferentes, o que não permite colocá-los todos no mesmo saco, a não ser por preconceito, o tal lugar, onde o dizer atropela o pensar...
Enquanto professor de língua portuguesa, apenas recomendaria que os programas de Português resistam aos estereótipos que inviabilizam o conhecimento diacrónico e sincrónico do que é a riqueza literária produzida, tendo como suporte a língua portuguesa, aqui, na América, na Ásia, em África ou na Oceania...

A nós só nos resta ser afundados sem aviso prévio

Ainda não me saiu da cabeça a ideia de que o Presidente dos Estados Unidos ordenou um ataque, como retaliação, a uma base militar sírio-russa, mas tendo o cuidado de avisar os proprietários.
Será provavelmente um novo conceito de guerra que visará fomentar a produção e o comércio de armas...
Mais do que saber se se trata de um Novo Tratado de Tordesilhas, o importante é conhecer quem é que controla os mercados acionistas, e aí os senhores Putim e Trump parecem acertados, procurando deixar a China de fora... 
Os Chineses que se cuidem... que a nós só nos resta ser afundados sem aviso prévio...