26.6.17

Os ventos oblíquos e os pirómanos

Estou tentado a pensar que o vento é o culpado do que aconteceu em Pedrógão Grande e zonas limítrofes.
De qualquer modo, já, na narração da odisseia lusitana, os ventos faziam enormes estragos, obrigando Camões a estudá-los com alguma minúcia. Comandados por Éolo, o deus dos ventos, Bóreas, Noto, Euro e Zéfiro moviam-se tomando a defesa do partido muçulmano no conflito com o partido cristão...
Portanto, o problema é antigo, parecendo que os ventos não são imparciais e, sobretudo, que se movem obedecendo a impulsos pirómanos...
Ora, o que se percebe é que andam à solta muitos pirómanos, uns ativos e outros passivos. Há quem defenda que os ativos devem ser encarcerados logo que o calor aperta. Compreendo a medida, embora os pirómanos passivos me preocupem mais, pois fartam-se de ganhar dinheiro, de desertificar o território, para mais tarde se apoderam dele ao preço da uva mijona...
Curiosamente, um ilustre pirómano, neste fim de semana, deitou a cabeça de fora e começou as soltar os ventos de um interminável ajuste de contas partidário, em que, paradoxalmente, muitos são culpados e beneficiados...

25.6.17

A culpa deve ser do vento

Moro a 200 metros da Igreja do Cristo Rei da Portela. Não a frequento, mas oiço os sinos, e, quando diante dela passo, dou conta da ação social e, também, do movimento nas capelas funerárias... Aos domingos e dias santos, apercebo-me do carro de exteriores da RTP, o que me anuncia a transmissão do ofício religioso urbi et orbi...
Digamos que esta Igreja não me hostiliza, apesar das minhas ideias sobre o poder anestesiante da religião, de qualquer religião...
Hoje, no entanto, estou cansado do karaoke de péssima qualidade que sopra de lá...
A culpa deve ser do vento! Só que nunca pensei que a Igreja do Cristo Rei da Portela pudesse ser tão plebeia...

24.6.17

É a lógica do must exit

Em silêncio, medito:

«Os deserdados serão condenados ao esquecimento, ao abandono, ao desespero puro e simples. É a lógica do must exit. Poor people must exit ( Os pobres têm de sair de cena). O ultimato da riqueza, da eficácia, risca-os do mapa. Justificadamente, uma vez que têm o mau gosto de escapar ao consenso geral.» Jean Baudrillard, America... 

É a lógica do capital! E quem não se adaptar, deve sair de cena!
Deve ser por isso que pensamos cada vez menos, que escrevemos cada vez pior, que deixámos de ouvir o outro, que vivemos da nossa razão...
E a lógica do capital deixou de ser uma questão global... Basta observar as guerras que alastram a propósito da gestão dos donativos, aqui e em toda a parte...

23.6.17

Só a Hora conta!

«O tempo já não é um rio, mas uma coleção de pântanos e de tanques de água.» Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada.

Somos, assim, ramos soltos, bastando-nos a nós próprios. (Nesta linha de pensamento o "nós" é excessivo, pois tudo flui singular, solitariamente.)
Entretanto, o tronco liquefez-se, deixando o Vagabundo do Momento, sem passado nem futuro, sem responsabilidade nem arrependimento, imoral e apolítico...
Só a Hora conta! 

22.6.17

Os "próximos dias" do ME

O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) remeteu para os “próximos dias” esclarecimentos sobre a possível fuga de informação relativo ao exame nacional de Português, e invoca o segredo de justiça para não avançar informações sobre o processo judicial.
http://lifestyle.sapo.pt/familia/noticias-familia/artigos/iave-remete-para-proximos-dias-esclarecimentos-sobre-exame-nacional-de-português

Quanto aos meus dias, vou ocupá-los a classificar 55 provas, à espera que o pós-moderno ministro da Educação continue a considerar que, nestas coisas, o tempo se mantém instável... o dele e o nosso. É tudo efémero e possível, até o compromisso... 

21.6.17

Pensar devagarinho

Para além da prova 639 aplicada, há mais duas no cofre. 
Face à informação que circula na imprensa e nas redes sociais, o Ministério da Educação já teve tempo de conferir o conteúdo de cada uma das provas e de emitir uma nota que esclareça a situação.
Mas não! Está à espera do resultado da investigação externa. 
Quanto ao mujimbo, ele continua a dar a volta ao país...
Eu, por mim, vou "trancando", a vermelho, os espaços deixados em branco pelos examinandos.
Só tenha pena de não poder "trancar" quem está a deixar prolongar a situação.

E se voltássemos a pensar

Este ano, os professores classificadores de Português foram convocados antes da realização da respetiva prova e, surpreendentemente, receberam as provas dos alunos um dia mais cedo, o que terá obrigado a um esforço logístico acrescido... Quando queremos, somos capazes!
Porquê? A resposta é simples: o levantamento das provas coincidia com a data da greve de professores - hoje, 21 de junho de 2017.
(...)

De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos,
E não termos sonhos no nosso sono.

Versos de Alberto Caeiro, o Poeta que pensava, mas que dizia que não, apenas imitava a Natureza.  Basta ouvir os camponeses da Beira Interior para saber que a Terra nem sempre é a Casa que nos protege, por mais que o pretendamos... e que o canto do Vento pode ser mortífero...

(...) 

Voltei a vigiar uma prova de Filosofia e fiquei estarrecido - ou já não há filósofos ou estes deixaram de pensar ou, então, o vento suão varreu-os...